12/12/2016
Avalistas da gestão do peemedebista, tucanos ampliam influência num momento de crise entre Poderes e incerteza econômica. Dois cientistas políticos avaliam o que está em jogo neste cálculo.
O partido presidido pelo senador Aécio Neves, o PSDB, está ampliando sua influência no governo do presidente Michel Temer num momento de agravamento de crise política e econômica.
O movimento mais visível é a possível indicação nos próximos dias do deputado tucano Antonio Imbassahy (BA) como novo ministro-chefe da Secretaria de Governo, responsável por negociar diretamente com o Congresso.
O anúncio ainda não foi feito porque parte da base de apoio de Temer no Congresso, o chamado centrão, é contra a indicação. O Planalto deve dar a palavra final sobre o tema na semana que vem.
Para além da indicação de Imbassahy, os tucanos buscam mais influência num governo que avalizaram desde quando Temer assumiu de forma interina, ainda em maio.
Aliado nos momentos agudos
Nas articulações de bastidor, a aposta do PSDB se fez presente na ação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante o imbróglio entre Congresso e Judiciário, em razão do pedido de afastamento de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado.
O tucano foi um dos personagens que procuraram interceder junto ao Supremo por uma solução que amenizasse o conflito, conforme reportagem do jornal “O Globo”. No final, a decisão da Corte foi a de manter Renan no cargo, mas o proibindo de ocupar a linha sucessória da Presidência da República.
O conflito preocupava Temer porque tirar Renan do Senado neste momento poderia colocar em risco a agenda de votações do governo. O presidente precisa aprovar ainda em 2016 a PEC do Teto, que limita o gasto público por 20 anos. Tem em vista ainda a reforma da Previdência, já enviada ao Congresso.
Além disso, o PSDB mostrou apoio a Temer em outra crise recente, na qual o presidente foi acusado por seu ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de atuar para atender a interesses particulares de Geddel Vieira Lima, agora também ex-ministro.
A participação nas decisões econômicas também estão na pauta. De outubro para cá, em ao menos duas ocasiões, Temer se reuniu com Aécio e Fernando Henrique para discutir mais detalhadamente alternativas para a recessão. Trata-se de um tema prioritário para Temer, que está pressionado para melhorar o cenário no curto prazo.
Nesses contatos, até o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, principal colaborador do PSDB para assuntos econômicos, foi sugerido como fonte a Temer.
Protagonismo maior em meio a turbulências
Nas palavras do próprio Fernando Henrique, o PSDB também é “responsável” pela gestão Temer e por isso deve atuar para o governo “dar certo”. Segundo o ex-presidente, o apoio da legenda ao impeachment de Dilma obriga o PSDB a caminhar nessa direção.
A questão é Temer tem passado por turbulências desde que assumiu. Seis ministros deixaram o governo, a economia não reagiu e a Lava Jato ainda deve provocar desdobramentos importantes. A operação investiga quase uma centena de parlamentares e pode atingir parte importante da base aliada do governo, o que contribui para deixar o cenário político ainda imprevisível.
De certa forma, ao se aproximar mais do Planalto, o PSDB também se aproxima desse contexto de turbulências. Para Temer, no entanto, garantir o apoio tucano é essencial levar adiante as pautas que precisa. A pedido do Nexo, dois cientistas políticos avaliaram essa relação. São eles:
Carlos Melo, cientista político e professor do Insper
Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP
Por que o PSDB aumenta sua participação no governo Temer agora?
Carlos Melo: O PSDB já fez uma aposta lá atrás, ao defender o impeachment de Dilma Rousseff e apoiar Temer. Agora, para o partido, se o governo fizer água é muito ruim porque ele vai junto. Se o governo não sair da crise e a crise econômica continuar, certamente o PMDB não terá candidato em 2018 e o candidato do PSDB também não vai tirar nenhum saldo positivo.
Então os tucanos tentam salvar o governo e a sua própria pele. O sucesso do governo é importante para o PSDB porque do contrário ele terá sua cota de responsabilidade. Afinal de contas, tira a Dilma, causa um forte abalo político, para quê?
No curto prazo, esse apoio é mais importante para Temer do que para o PSDB. Para o partido há um risco, mas um risco que pode trazer um prêmio a ele lá na frente. Imagine que, por algum acaso, não haja mais nenhuma crise e o governo passe a dar certo (é pouco provável, mas imagine). O PSDB vai dizer que é por consequência de sua articulação. Se continuar como está, ele dirá que tentou, mas não conseguiu resolver problemas que já estavam lá. O partido fica com um eventual bônus e divide o ônus.
Pedro Fassoni Arruda É uma relação bastante complexa e por trás dela existe também uma especulação sobre o futuro do próprio governo Temer – em razão da possibilidade da perda de mandato via Justiça Eleitoral (que pode cassar a chapa Dilma-Temer e ele cair em 2017). Então o PSDB, ao mesmo tempo em que apoia (e fornece importantes quadros para o governo), também discute nos bastidores possíveis nomes para a sucessão do Temer caso ele não conclua o mandato.
De qualquer maneira, o PMDB não governa sem o PSDB, porque é um partido com uma bancada numerosa no Congresso, mas também por ter prefeitos eleitos em cidades importantes e governadores. Esses episódios [agora com a indicação de um tucano para a Secretaria de Governo] são mais um gesto de aproximação de Temer, que precisa ampliar a participação do PSDB para garantir mais fôlego para governar com tranquilidade.
Neste momento, ainda vejo o PSDB mais cauteloso nessa relação. É preciso pensar que as medidas que Temer apresenta (como a PEC do Teto, a reforma da Previdência e flexibilização das regras trabalhistas) são impopulares. É válido para o PSDB apoiá-las porque também são medidas de seu interesse [levando em conta que, se ele vencer em 2018, não precisará executá-las], mas que não ficam diretamente associadas a eles.
Fonte: Nexo – 08/12/2016