14/05/2014
Cidade já conta com 43 escritórios coletivos e o fenômeno, por aqui, é impulsionado por donos de pequenas empresas. A cidade de São Paulo já tem 43 espaços compartilhados de trabalho, os chamados escritórios de coworking, endereços profissionais que reúnem debaixo de um mesmo código postal empresas, artistas e prestadores de serviços que integram mercados diversos e nutrem realidades econômicas absolutamente distintas entre si.
Em plena expansão, o número desses espaços cresce praticamente todos os meses faz pelo menos cinco anos, desde que o movimento chegou por aqui após se popularizar nos Estados Unidos e Europa – cidades como Barcelona e Nova York são expoentes dessa tendência.
Mas ao contrário do hemisfério norte, onde a crise econômica turbinou o trabalho remoto, o principal motivador do modelo, no Brasil, são os empreendedores. E um conjunto de fatores está por trás da busca pelos coworkings. O principal deles, pelo menos o mais apregoado entre especialistas, donos de espaços e adeptos do sistema, é o convívio com outras empresas e profissionais, uma alternativa a quem não se adapta com o ritmo intimista, para não dizer solitário, do trabalho em casa.
Mas, segundo Ana Maria de Mattos Guimarães, coordenadora da escola de indústria criativa da Unisinos e estudiosa sobre o assunto, dá para elencar também o alto custo do aluguel de pontos corporativos nas capitais, que ao lado do investimento em infraestrutura de comunicação, consome uma parte importante do capital de giro dos pequenos negócios.
“A questão imobiliária é muito forte, embora não possa ser a mais importante. Mas sabemos que para uma empresa com poucos funcionários e que busque uma expansão rápida, o modelo de coworking, por oferecer maior flexibilidade, possa ser interessante”, avalia a especialista no tema.
Nem precisa rodar muito para conferir o fenômeno na prática e o arquiteto Domingos Bidoia é um bom exemplo. Após procurar opções onde montar seu escritório, há um ano e meio ele decidiu locar duas posições de 1,20 metro por 70 centímetros cada em um coworking na região da Avenida Paulista. Um ponto é para ele, outro para sua funcionária – o investimento total do empreendedor foi de apenas R$ 1.350. “Olha, eu acho que compensa muito. Além do dinheiro, em si, a gente está em um momento econômico em que não me sinto muito seguro. Qual a vantagem de ter um escritório só pra mim? Aqui, eu não tenho de fazer um contrato longo, com fiador ou seguro fiança. Eu ‘loco’ o espaço por três meses, seis meses, mas é um contrato pay per use; pagou, usou. Se eu quiser parar de usar, eu paro”, explica o empresário, que ainda busca consolidar seu próprio negócio. “A gente tem crescido, vou contratar mais um funcionário agora, mas quero permanecer no coworking”, diz. “Acho que a palavra que resume o nosso serviço é mesmo a flexibilidade”, vende Dirceu Neto, que mantém com o sócio, Antonio Moraes Pinto, um espaço no Itaim Bibi, o B4i. Dividido em duas casas que se unem por uma ponte improvisada no quintal de ambas, o local reúne mais de 100 empresas, a maioria bem pequena. Mas há também negócios maiores. Um exemplo é a parte de tecnologia do e-commerce de móveis Oppa, fundado pelo alemão Max Reichel e que ocupa temporariamente 28 posições enquanto a empresa aguarda pela reforma de um novo espaço na Vila Leopoldina para abrigar os atuais 230 funcionários do site.
“O que a gente quer fazer é ir oferecendo opções e serviços para as empresas, que vão crescendo, não saírem daqui de dentro”, afirmou Neto. Preços em SP oscilam entre R$450 e R$ 1,1 mil Entre as 43 opções atuais, a oferta paulistana de coworkings tem se organizado em três grandes categorias: a de escritórios tidos como descolados, procurados por designers, arquitetos moderninhos e jovens empreendedores ligados à internet; os endereços mais sóbrios, designados como corporativos, que fazem sucesso entre equipes de tecnologia de informação, advogados e fundos estrangeiros de investimento; e os hubs especializados, onde o foco é a formação de um ecossistema voltado para um nicho de negócios.
“Os espaços de coworking não são iguais”, diz Homero Ramirez, ele próprio um empresário do setor, dono de um escritório compartilhado chamado Oficina Coworking na região da Avenida Paulista.
“Nós temos um local mais corporativo. Tem aquele lugar superdescolado e o outro supercareta. A gente não é nem uma coisa nem outra. É legal estar no meio”, diz. Segundo levantamento da reportagem, o preço médio mensal dos espaços em São Paulo gira em torno de R$ 825,40 por posição. O mais barato é o Caiubi, que cobra R$ 450 em Perdizes, e o mais caro é o House of Work, com preço de R$ 1,1 mil para o plano ilimitado mensal.
Modelo pode não ser ideal para quem precisade concentração
Barulho, entra e sai de desconhecidos ou, simplesmente, a falta de privacidade. Antes de optar por um coworking o empresário deve teremmente que o modelo passa longe de um consenso. Segundo especialistas e empreendedores da área, atividades que demandam alto nível de concentração ou profissionais com dificuldade de assimilar novidades com certo grau de recorrência tendem a não se adaptar ao regime de escritório compartilhado.
“Coworking não é para todo mundo”,afirma Anderson Costa, que mantém um site especializado no assunto, o Movebla. “O coworking é um lugar ótimo para fazer networking, para viver próximo das pessoas. Mas, de repente, alguém que tenha um foco maior na produção, esse tipo de espaço não é o ideal”, pontua Costa. Foi exatamente o que aconteceu com o pernambucano Caramurú Baumgartner. Depois de um tempo trabalhando em casa, onde se especializou em desenvolvimento de folders e ilustrações para a área cultural, ele resolveu experimentar um escritório compartilhado na cidade do Recife.
A experiência, ele conta, não deixou saudades. “Foi legal, o pessoal era todo muito bacana. Mas eu não gostei, não”, resume o designer. “Tinha muita dificuldade para me concentrar, para gerar um fluxo criativo que é importante para o meu trabalho. O espaço tinha cerca de 12 a 15 pessoas, mas tinha dia em que chegava a 20 pessoas dentro de 150 metro quadrados, todo mundo rodando de lá para cá”, lembra Baumgartner, que hoje voltou a dar expediente dentro de casa.
Facilidades. Para quem se adapta, há algumas facilidades. Além do espaço em uma mesa, que pode ser fixo ou não, os coworkings geralmente incluem conexão com internet Wi-Fi de alta velocidade (com até 100 megabytes de banda em determinados lugares), ponto de telefone e salas de reuniões.
Os espaços também oferecem algumas cortesias corporativas, como espaço para café, umcanto para relaxar e uma copa com geladeira.