A dívida dos estudantes nos Estados Unidos, o débito estudantil passou de US$ 1 trilhão e virou um problema. No Brasil, ele existe, mas é nascente – e totalmente justificado.
As mudanças no comportamento do consumidor americano, quase seis anos após a crise de 2008 mostra-se assim: a retomada no crédito imobiliário, a diminuição na divida com os cartões de crédito e – o mais impressionante – o crescimento do débito estudantil, que atingiu US$ 1,1 trilhão no último balanço divulgado pelo FED.
Dez anos atrás, ele era de US$ 260 bilhões . “0 endividamento dos estudantes é um fato decorrente da crise”, afirma Otto Nogami, professor de economia do Insper. “Quando o mercado está recessivo, sobretudo o mercado de trabalho, os jovens costumam postergar sua saída da universidade e continuar estudando e se aperfeiçoando.”
Apesar de ter um efeito potencialmente benéfico no longo prazo, o volume de empréstimos estudantis, no entanto, já tem provocado danos colaterais. Sem emprego depois que terminam os estudos, os jovens não conseguem pagar a divida contraída na universidade. A inadimplência nessa categoria passou de pouco mais de 6%, em 2003, para quase 12%, no ano passado. As mensalidades também triplicaram em três décadas, e 71% dos que se formam na graduação carregam uma divida média de US$ 30 mil. Assim, sem crédito e com o nome sujo, postergam a compra de imóveis, têm mais dificuldades em abrir seus próprios negócios ou em gastar para movimentar a economia.
A preocupação é tamanha que o presidente Barack Obama veio a público anunciar uma reestruturação para parte dessas dividas, que poderá custar ao governo US$ 58 bilhões em dez anos. Embora crie um problema no presente, a qualificação da mão de obra costuma ser um bom investimento.
Nesse ponto, o Brasil tem uma situação similar. “0 aumento pela procura do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) mostra o mesmo processo no Brasil, só que aqui ele é completamente novo”, diz Nogami. O Fies e o Pro Uni (Programa Universidade para Todos) já respondem por 31% das matriculas nas universidades privadas do pais, um total de 1,6 milhão de alunos, segundo o MEC (Ministério da Educação ).Apenas 11% usavam financiamento estudantil em 2010. “À medida que a sociedade passa a valorizar o estudo, os alunos procuram se qualificar”, afirma o professor do Insper.
Apesar de os caminhos serem parecidos, a situação financeira para os alunos brasileiros é diferente da dos americanos. Primeiro porque, diferentemente dos EUA, ter a graduação numa faculdade significa aumento quase certo no salário, no país. A Kroton Educacional, a maior rede de ensino superior do Brasil, fez uma pesquisa com 11.158 alunos sobre o impacto dos cursos em sua empregabilidade. Após formados, o aumento salarial médio é de 69%. Para os engenheiros e administradores, a vantagem é maior: os salários aumentam em 3,4 vezes e 2,2 vezes, respectivamente. O retorno dos investimentos em educação no caso da engenharia é de 25 meses, no da administração, 28 meses e no de cursos de tecnólogos, 31 meses.
“Em dois anos, com o crescimento de salário, o engenheiro pagou o investimento na graduação “, diz Rodrigo Galindo, presidente da Kroton. “Hoje é muito fácil mostrar para o aluno que vale a pena fazer um investimento em ensino superior.” Além disso, a inadimplência na primeira safra de alunos do Fies é baixa. “Existe a chance de o programa se autossustentar no médio e longo prazos. ”
Fonte: Revista Época Negócios – 07/08/2014