Riscos à privacidade e o mau uso de dados biométricos por governos de viés autoritário, no entanto, preocupam profissionais da área
Bernardo Vianna
A biometria — a análise de características físicas de uma pessoa com a finalidade de identificá-la — faz parte do nosso cotidiano desde o momento em que destravamos as telas de nossos celulares e está presente até mesmo no momento em que vamos votar. O desenvolvimento de tecnologias capazes de reconhecer a identidade de alguém, seja por meio de impressões digitais, seja por meio do formato do rosto, do timbre da voz ou do traçado da assinatura, é um mercado em crescimento que, nos próximos cinco anos, deverá ultrapassar a marca de 80 bilhões de dólares.
Durante a emergência da pandemia de convid-19, países como China, Coreia do Sul, Israel e Japão utilizaram dados biométricos e de geolocalização para monitorar a circulação de pessoas contaminadas. Ao alimentar modelos preditivos de inteligência artificial, os dados puderam ser usados para antever possíveis novos focos de disseminação da doença e para evitar aglomerações. O Biometrics Institute, organização que reúne tanto empresas quanto agências governamentais de todo o mundo, entrevistou, em 2021, 371 profissionais da área que, em sua maioria, concordam que a pandemia acelerou a adoção de soluções envolvendo tecnologias biométricas e que o desenvolvimento de novas tecnologias será crítico para o enfrentamento de futuras crises.
A pesquisa identificou, também, que a aplicação de biometria que mais se desenvolveu ao longo dos últimos 12 meses, e também a que tem maior potencial de crescimento nos próximos cinco anos, é a de identidade digital, o conjunto de informações que podem ser utilizadas por um computador para identificar uma pessoa, uma organização, um programa ou um dispositivo. Na prática, significa o uso de biometria para verificar a identidade de determinada pessoa em um site de compras ou em um aplicativo de banco e validar o acesso, entre outros possíveis casos.
A identificação biométrica, no entanto, acende o alerta para a possibilidade de governos de viés autoritário fazerem mau uso desses dados, violando a privacidade de seus cidadãos e buscando silenciar e restringir discursos dissidentes. A pesquisa do Biometrics Institute identificou, a partir das respostas colhidas entre os profissionais dessa indústria, que a possibilidade de cruzamento de bases e de vigilância massiva é a principal preocupação em relação ao desenvolvimento e à aplicação de tecnologias de biometria.