22/07/2015
O país manteve a política econômica no prumo, aproveitou a época de alta de preços das commodities para crescer e agora está forte para enfrentar tempos mais difíceis. História recente da Colômbia tem muito em comum com o que se viu no Brasil nos últimos anos. Lá, como aqui, a renda dos mais pobres cresceu de forma mais acentuada do que a do restante da sociedade. Programas sociais ganharam escala e fizeram o número de pessoas que vivem na pobreza cair. Como a vida melhorou também no topo da pirâmide social, lojas de grifes e carros de luxo se tornaram comuns em bairros ricos. Tudo, lá e cá, embalado pelo super boom de commodities, período em que a fome chinesa por produtos primários elevou a demanda e o preço de uma série de matérias-primas. No Brasil, principalmente soja e minério de ferro. Na Colômbia, basicamente petróleo. Infelizmente para os brasileiros, as semelhanças param por aí. Isso porque a Colômbia aproveitou muito mais a onda externa. De 1997 a 2006, a economia dos dois países cresceu exatamente no mesmo ritmo: 2,7% ao ano, na média. A partir de 2007, a Colômbia descolou. Nos últimos oito anos, o PIB colombiano acelerou num ritmo médio de 5,8%, enquanto o do Brasil não passou de 3,3%. Pior: o contraste entre os dois países deve aumentar neste ano. A previsão do FMI é que a Colômbia cresça 3,4% e o PIB brasileiro encolha 1% (previsão, aliás, que já começa a soar otimista). Quando o assunto é inflação, também há uma diferença favorável aos colombianos, Lá, a inflação acumulada em 12 meses em qualquer período de janeiro de 2010 a maio deste ano chegou, no máximo, a 4,5%.
No Brasil, o percentual bateu em 8,5%. Como os governos colombiano e brasileiro conseguiram resultados tão distintos tendo ambos um ambiente externo bastante semelhante? Equilíbrio Macroeconômico Em uma frase: a Colômbia não cometeu os erros crassos vistos em série por aqui. “Eles mantiveram o equilíbrio macroeconômico: perseguiram as metas de inflação e a disciplina fiscal. E apostaram na abertura comercial e na melhoria do ambiente de negócios”, diz Gino Olivares, professore de economia de negócios Insper Recentemente a Colômbia passou do 53º para o 34º lugar no ranking Doing Buseness, elaborado pelo Banco Mundial como uma medida da facilidade de fazer negócios em cada país.
já o Brasil… Bem estamos em 120º lugar de um total de 189. Todos esses avanços, embora cruciais, teriam tido um efeito menos impressionante caso a Colômbia não tivesse melhorado na questão da segurança pública. As negociações de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em andamento em Cuba, diminuíram os embates entre os dois lados e dissiparam a sensação de “Holocausto bíblico”, termo usado na década de 90 pelo colombiano Gabriel García Márquez, ganhador do Prêmio Nobel da Literatura, morto no ano passado.
García Marquez empregou a expressão para descrever o dia a dia sangrento em seu país. Desde o começo da década passada, o número de homicídios caiu pela metade. Os sequestros, usados pelas Farc e outros grupos como fonte de receita, também tiveram redução. Em 2002, foram registrados 2880. Em 2014, não passaram de 288 casos. Mais recentemente as negociações de paz emperraram em um dos pontos mais espinhosos do processo – como desmobilizar os rebeldes e que tipo de punição adotar. As Farc quebraram um cessar-fogo autoimposto, os embates voltaram a aumentar um pouco, mas a situação atual ainda é tranquila para os padrões do conflito. Com a melhora na segurança pública, o crescimento econômico e o bom ambiente de negócios, não demorou para que empresas estrangeiras passassem a se interessar – inclusive as brasileiras. Entre os países da América Latina, o Brasil é o segundo maior investidor estrangeiro na Colômbia. A construtora Odebrecht participa da segunda etapa da construção da Ruta del Sol, rodovia que corta o país entre Puerto Salgar e San Roque, por onde passa mais de 70% do PIB colombiano. O investimento total na obra é superior a 2 bilhões de dólares. De acordo com o contrato, a empresa brasileira vai poder explorar a concessão por 20 anos. A Stefanini, empresa brasileira de TI, abriu seu primeiro escritório em 2004. Em 2011, comprou a concorrente colombiana Informatica & Tecnologia. “Nosso objetivo é transformar o centro de desenvolvimento de Bogotá em regional para atender os países da América Central”, diz Marcelo Ciasca, presidente da Stefanini na América Latina. Para este ano está prevista a abertura do quarto escritório no país, desta vez em Cáli, a terceira cidade mais populosa. Entre as grandes brasileiras, também estão presentes a Petrobras, a fabricante de ônibus Marcopolo, a construtora Camargo Corrêa, a fabricante de material para construção Duratex e o banco BTG Pactual, que adquiriu, há pouco mais de dois anos, a corretora Bolsa y Renta, com sede em Medellin e escritórios em Bogotá e Barranquilla.
“A imagem das empresas brasileiras na Colômbia é, em geral, positiva”, diz Alejandro Peláez, diretor em São Paulo da Procolombia, o escritório de promoção do país no Brasil. Atraída pelo enriquecimento da população, a rede de cafeterias americana Starbucks abriu sua primeira loja em Bogotá há menos de um ano, um prédio de três andares na badalada região do Parque de la 93.
Foi a primeira do mundo a usar café 100% nacional. Hoje já são nove lojas pela cidade, e há planos de ampliar a rede ainda mais. A joalheria Cartier e a grife de roupas e acessórios Dolce & Gabbana estão entre as marcas de luxo europeias que recentemente chegaram ao país. O que esperar do futuro Como a maior parte dos países exportadores de commodities, a Colômbia precisa lidar com uma perspectiva mais difícil daqui em diante. O preço do petróleo, que responde por metade das exportações do país e cerca de 10% do PIB, despencou nos últimos tempos. O barril valia mais de 100 dólares há um ano. Agora orbita no patamar dos 60 dólares. Com isso, a economia começou a desacelerar, mas não há desespero. Numa entrevista recente à imprensa internacional, Maurício Cárdenas, ministro da Fazenda Colombiana, disse que o país se preparou bem para o fim do ciclo de preços altos das matérias-primas. Nos anos de alta valorização do petróleo o governo controlou os gastos e manteve as contas equilibradas. Agora, diferentemente do Brasil, não precisa fazer um ajuste fiscal. Com a inflação sob controle, os juros também estão estáveis. Sem grandes sobressaltos, o país pode adotar uma política anticíclica. O foco é infraestrutura, com ênfase em concessões na área de transportes. “O projeto que a Colômbia está colocando em prática tem boas chances de sair do papel e ser bem-sucedido”, diz João Pedro Bumachar, economista responsável pela análise das economias da América Latina no banco Itaú Unibanco.
Uma das vantagens da Colômbia é ter acesso ao mercado americano. O acordo de livre comércio em vigor desde 2012 fez um número crescente de médias empresas passar a epoxrtar para o maior mercado do mundo. Os setores mais beneficiados até agora foram os de autopeças, confecções de roupas, máquinas e flores. A venda externa dessas empresas ajudou a contrabalançar as perdas do país com a queda do preço do petróleo. Somente no ano passado, as receitas com a venda de seu principal produto para os Estados Unidos tiveram queda de quase 4 bilhões de dólares. A expectativa é que, com a recente desvalorização do peso colombiano diante do dólar. o país ganhe mais competitividade nos mercados internacionais. Ao examinar o exemplo colombiano fica claro que adotar aas políticas certas é vantajoso e não tão difícil assim. Pena que o Brasil jogou essa oportunidade fora – vai demorar para arrumar a casa por aqui.
Fonte: Revista Exame – 02/07/2015