Embalado pelo bom desempenho das vendas, o publicitário Juarez Zaleski pretende virar o ano no mesmo ritmo de crescimento que a empresa tem desde a criação, em 2013. No primeiro ano, com dez meses de atividades, a Caixa Filosofal, que vende quadros e pôsteres com frases motivacionais, faturou R$ 500 mil. Em 2014, a receita pulou para R$ 1,2 milhão.
Para o ano que vem, Zaleski e os sócios pretendem reforçar os canais de venda, com investimentos no e-commerce e na prospecção de clientes corporativos. “Também vamos ampliar o portfólio, com novos produtos de decoração para personalização, e entrar também na moda”, prevê.
O otimismo de Zaleski parece descolado do cenário econômico sombrio previsto para 2015, em que a projeção de baixo crescimento do PIB nacional– de 0,73% –, alta de juros e impostos, dólar mais caro e aumento de custos, com reajustes previstos para energia e combustíveis, estão tirando o sono dos empreendedores e mudando os planos de investimento e expansão dos negócios.
Mas é justamente a postura do empreendedor diante de um ano desafiador que pode fazer toda a diferença na hora de passar pela tempestade. “É interessante apostar em uma política anticíclica, em que a atitude mais agressiva surpreende a concorrência e ganha mercado”, avalia o professor do ISAE/FGV, Carlos Alberto Ercolin.
Os antídotos de Zaleski para crescer durante a crise são foco e flexibilidade. “Se eu ficar esperando para ver o que vai acontecer, não consigo investir e crescer. Temos que tocar a vida”, diz.
Estratégia
Se ignorar a crise é impossível e pouco recomendável, o ideal é explorá-la da melhor maneira. Vale estudar os efeitos da macroeconomia nos negócios, de acordo com cada atividade, considerando oportunidades e condições de operação que possam trazer melhores resultados financeiros.
Diante do aumento de custos, puxado pela alta de impostos e combustíveis, por exemplo, o empresário pode buscar ajustes na área tributária. A adesão ao Simples Nacional, que reúne em uma alíquota única o pagamento de impostos para diferentes atividades, deve ser avaliada.
“O enquadramento fiscal pode ser vantajoso também quando reduz tempo e recursos para cumprir a legislação”, aponta o consultor André Basso, gerente da área de atendimento individual do Sebrae-PR. O prazo para a adesão ao sistema é janeiro de 2015.
Para o professor de estratégia da Universidade Positivo, Fabrício Pupo, o plano de contingências ajuda no controle financeiro. Negociar com fornecedores, organizar estoque e compra de matéria-prima e vender menos a crédito são formas de manter o fluxo de caixa.
Outra orientação é sobre o cuidado com a marca, no atendimento e nas instalações. “Mais do que buscar novos mercados, vai ser importante manter a clientela atual. Para isso, não se deve relaxar com o padrão conquistado até agora, o que pode sinalizar descuido e fraco desempenho”, explica.
Colaborativa
A otimização de recursos também passa pela atividade colaborativa. Além de formar equipes multidisciplinares, que ganham em eficiência, principalmente com o uso da tecnologia nas operações, também pode-se pensar em ações compartilhadas com outras empresas, em novos arranjos operacionais. Centrais de compras e serviços podem economizar até 40% nos custos, aumentando a competitividade. A atuação em rede, na formação de pools, pode funcionar para determinados segmentos. “Por isso a informação é essencial. Entidades de classe dispõem de dados que ajudam nas estratégias comerciais e de gestão”, explica o professor Carlos Alberto Ercolin, do ISAE/FGV.
Novatos
Desemprego estimula início nos negócios
Empreender por necessidade ainda é a maior motivação para os novos negócios no país. E o cenário do mercado de trabalho tem bastante influência sobre essa modalidade de empreendedorismo, seja pela falta de vagas ou para aplicação da indenização pelo desligamento. Mas é preciso avaliar o mercado, o próprio perfil e as oportunidades para definir o investimento.
Para a coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper, Cynthia Serva, a questão financeira não pode ser o único gatilho para abrir um novo negócio. “As competências podem ser desenvolvidas, mas é preciso ter identificação com a atividade escolhida. Empreender exige muito do indivíduo”, observa.
A escolha deve ser feita após uma avaliação criteriosa do mercado, como concorrência, demanda e as características de empreendedor e empreendimento. “Fugir de modismos é um bom começo para evitar saturação de determinado produto ou serviço”, indica o professor Fabrício Pupo, da Universidade Positivo.
O empreendedor pode apostar em uma ideia nova, com a proposta de uma solução para uma demanda real, ou investir em modelos de negócios já testados, na área de franchising.
“As microfranquias podem ser mais adequadas para quem tem menor capacidade de investimento e quer abrir um negócio para ver como se comporta como empreendedor”, observa a consultora Lyana Bittencourt, sócia-diretora do Grupo Bittencourt, especializado em formatação do modelo de franquias.
Fonte: Gazeta do Povo Online – 14/12/2014