Fonte: Brasil Econômico – 15/08/2012A retomada do projeto do trem de alta velocidade (TAV) pelo governo federal acontece em meio a um cenário político e econômico turbulento: julgamento dos envolvidos no mensalão, greve dos servidores federais e atividade econômica enfraquecida.
“Ao que tudo indica, a presidente Dilma Rousseff está usando o trem-bala, que interligará Rio, São Paulo e Campinas, para criar uma agenda positiva durante sua gestão, tirando um pouco o foco dos problemas”, avalia o cientista político Humberto Dantas, do Insper.
Pelo fato de a própria presidente ter concebido o projeto, em meados de 2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, a obra se torna uma de suas maiores prioridades. Mas, observa Dantas, isso não basta para a viabilização.
O alto custo, aponta o especialista, que vem avançando por conta dos atrasos, inibe os investidores, que avaliam cautelosamente o retorno financeiro.
No ano de sua concepção, o governo estimava o custo da obra em R$ 33 bilhões, cifra mantida até agora. O mercado, contudo, calcula que a cifra saltou para R$ 60 bilhões, segundo especialistas consultados pelo BRASIL ECONÔMICO.
Dantas relembra que, em julho de 2011, quando do lançamento do primeiro edital, não surgiu nenhum interessado na concorrência. E diz que dificilmente um projeto desta magnitude sairá do papel sem participação da iniciativa privada.
Temeroso quanto a esse quadro, Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa do Trem de Alta Velocidade (Etav), estatal criada para gerir o projeto, afirmou semana passada que o governo federal assumirá a obra, caso não haja novamente interessados.
Quanto ao prazo para início das operações, Figueiredo estima agora o ano de 2019. O projeto inicial previa operações já para 2014, ano da realização da Copa do Mundo no país.
“É o governo querendo mostrar que está tentando aquecer a economia. Essa agenda não vem em qualquer hora, mas exatamente em momentos de crise”, diz Dantas, observando que Dilma segue a mesma estratégia usada por seu antecessor em 2006, que em momento de crise se reelegeu com o slogan “deixa o homem trabalhar”.
Especialista em aeroportos e transporte aéreo e professor do setor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Eduardo Leal de Medeiros também não vê viabilidade no projeto, pois não há demanda suficiente em todo o trecho.
O especialista chama a atenção para os altos custos do TAV e avalia que os recursos usados poderiam ser destinados à ampliação da malha ferroviária do metrô paulistano.
“Cada quilômetro de linha tem um custo médio de R$ 100 milhões. Os R$ 60 bilhões (estimativas do mercado) do TAV poderiam ser usados para fazer entre 300 km e 400 km a mais de linhas”, calcula.
Apesar dessas incertezas, a sócia especialista em concessões da Tozzini Freire Advogados, Cláudia Bonelli, diz que já surge um sentimento diferente entre os investidores. “Com o novo modelo de licitação – em que primeiro participam os fornecedores de tecnologia e, depois, as empresas responsáveis pelas obras -, o interesse pelo investimento aumentou 50%”, afirma, sem divulgar nomes de possíveis concorrentes.
Já para o especialista em financiamento de projetos do escritório de advocacia FH Cunha, Fábio Moura, a motivação dos investidores ainda depende muito da análise da minuta do edital, que deverá ser lançado no ainda este mês, com previsão de concorrência para início de 2013.
Parceria com o estado O vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingues, disse que está em negociações com a União para fazer interligações entre o TAV e trem expresso, projeto do governo paulista.