Fonte: Valor Econômico – 15/08/2012
Confira entrevista do professor de economia da Universidade de Tel Aviv, Alex Cukierman, que esteve no Insper dia 15/08 para participar do Seminário Internacional “Desafios e Perspectivas para a Economia Mundial
Em meio ao fraco desempenho da economia mundial, uma das principais perguntas que os analistas têm feito é quando os bancos centrais irão tomar novas medidas de estímulo. No caso dos EUA, o que se espera é que o Federal Reserve ponha em prática um novo programa de “quantitative easing” (QE, afrouxamento monetário).
Para Alex Cukierman, professor de economia da Universidade de Tel Aviv e professor-pesquisador do Center for Economic and Policy Research (CEPR), a crise financeira global intensificou o uso de instrumentos não convencionais de política monetária. “Os bancos centrais não reagem imediatamente, eles precisam ter certeza de que uma mudança não é temporária, mas algo mais persistente”, disse ao Valor Cukierman, que participará hoje do evento “Desafios e Perspectivas para a Economia Mundial“, no Insper.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Valor: Qual seria o gatilho para um novo QE nos EUA?
Alex Cukierman: Eu acho que é o estado geral da economia americana. Não há apenas uma razão, mas alguns indicadores: o setor imobiliário, a taxa de desemprego, as expectativas para o futuro. Esses indicadores formam um retrato da medíocre taxa de crescimento nos EUA. É preciso levar em consideração que um comitê de política monetária, como o Fomc, toma decisões não baseado no que está acontecendo, mas no que pode acontecer com os indicadores. Além do mais, os bancos centrais não reagem imediatamente, eles precisam ter certeza de que uma mudança não é temporária, mas algo mais persistente.
Valor: E que forma teria um novo programa de QE?
Cukierman: Não tenho ideia…
Valor: O senhor vê pressões inflacionárias no cenário atual?
Cukierman: Olhando para o que aconteceu nos últimos quatro anos, após a quebra do Lehman Brothers, tanto os EUA como a zona do euro fizeram imensas expansões dos balanços de seus bancos centrais, que aumentaram sua base monetária. Além do mais, as taxas de juros tornaram-se muito baixas. A política monetária vem sendo muito expansionista, ainda mais se comparada aos últimos cinco ou seis anos. Apesar disso, as taxas de inflação seguem baixas.
Valor: O senhor acredita que outra rodada de LTRO (intervenção no mercado de dívida soberana) seria eficiente na zona do euro?
Cukierman: O problema na Europa não é a ausência de demanda por crédito, mas a ausência de oferta. Isso porque os bancos estão em má forma. A demanda por crédito depende muito de como o banco central vai agir.
Valor: O senhor acredita que a Alemanha defenderá o euro?
Cukierman: Eu não deveria fazer profecias… O que eu posso dizer é que a posição do governo alemão tem se tornado mais flexível, era muito mais inflexível há dois anos. A Alemanha gradualmente compreendeu que o fim do euro resultaria em enormes custos para o país.
Valor: Há chances de voltarmos a ver compras de títulos soberanos?
Cukierman: É uma possibilidade. O BCE prefere comprar títulos apenas depois dos países cumprirem algumas condicionalidades, como fazer um ajuste fiscal e ficar sob monitoramento de outros governos europeus. Acredito que estamos vendo uma barganha entre os governos e o BCE.
Valor: O que aconteceria se a Grécia saísse da zona do euro?
Cukierman: O efeito seria muito maior na própria Grécia do que nos outros países. A Grécia representa apenas 3% do PIB da zona do euro. Mas é verdade que Alemanha, Itália e outros países são credores da dívida grega e que parte dela não será paga.