Menos de duas semanas depois do último ato em defesa do governo Dilma, movimentos sociais voltaram a reunir milhares de pessoas nas 27 capitas e no Distrito Federal, na noite dessa quinta-feira (31).
A capacidade de mobilização nas ruas é importante para a presidente Dilma Rousseff, mas deixa dúvidas sobre a real força desses atos para influenciar os rumos do processo de impeachment em andamento na Câmara.
As manifestações ocorrem na mesma semana em que a presidente reforçou a narrativa de que o pedido de afastamento é um “golpe” contra a democracia.
Diante de artistas, acadêmicos e juristas, a Dilma promoveu encontros no Planalto em que exaltou o apoio de movimentos sociais e da classe cultural contra o impeachment. Um apelo à “elite pensante” do país, como definiu o ministro Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em entrevista ao Nexo.
Os atos dessa quinta repetiram o tom da estratégia do Palácio do Planalto. A começar pela escolha da data das manifestações, 31 de março, quando é lembrado o dia do golpe militar de 1964. Empurrados pelos gritos de “não vai ter golpe”, além dos grupos sociais, sindicais e partidos de esquerda, artistas participaram diretamente do ato, a exemplo do cantor Chico Buarque, que discursou no Rio.
50 mil
Foi o número de manifestantes em Brasília, segundo estimativas da Polícia Militar
40 mil
Foi o número de manifestantes em São Paulo, de acordo com o Instituto Datafolha
O público foi menor na comparação com os atos do dia 18 (em São Paulo foram 95 mil pessoas), mas assemelham-se a ele tantos nos aspectos positivos quanto na ineficiência (no ponto de vista do governo), segundo a avaliação de dois especialistas ouvidos pelo Nexo.
Por que é importante
MILITÂNCIA ORGANIZADA
Na avaliação do cientista político Carlos Melo e do professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado, essas manifestações mostram que Dilma também pode contar com a defesa de grupos que tradicionalmente apoiam governos petistas, embora também se mostrem insatisfeitos com a política econômica da presidente. O ato foi organizado pela Frente Brasil Popular, grupo que reúne cerca de 70 entidades e movimentos sociais, além de políticos de partidos como PT, PCdoB e PDT.
RESPOSTA A ISOLAMENTO
Pablo Ortellado, que tem pesquisado os recentes protestos pró e contra impeachment, destaca também o fato de o novo ato ter ocorrido em um intervalo relativamente curto na comparação com o anterior. Para ele, com essa capacidade de mobilização, o governo tenta mostrar que não está isolado. “É uma estratégia auxiliar ao trabalho que precisa ser feito no Congresso para conter o impeachment.”
Por que é pouco eficiente
LEGITIMIDADE ARRANHADA
Apesar da capacidade de mobilização, Pablo Ortellado não considera o ato forte o suficiente para recuperar a legitimidade de Dilma diante da opinião pública, cuja percepção ainda é bastante desfavorável à presidente. Pesquisa Ibope divulgada nessa quarta-feira (30), mostrou que o governo é “ruim ou péssimo” para 69% dos eleitores, resultado parecido com o levantamento feito em dezembro, quando o percentual estava em 70%.
POUCA INFLUÊNCIA NO CONGRESSO
Para Carlos Melo, professor do Insper (Insper Instituto de Ensino e Pesquisa), os atos demonstram o apoio da militância, mas tendem a surtir pouco ou nenhum efeito no embate travado no Congresso, onde o processo do impeachment será julgado. “O público desses atos não convencem os parlamentares de partidos que podem decidir a votação do processo, como o PMDB, o PP e o PR [com políticos com tendência de voto pró-impeachment]. O ato é legítimo, mas falta amplitude para pressionar o Congresso.”
A adesão aos protestos pró-Dilma
31 de março de 2016
– público em São Paulo: 40 mil, segundo o Datafolha
– bandeiras: Defesa do mandato de Dilma, críticas ao vice-presidente Michel Temer e ao PMDB
18 de março de 2016
– público em São Paulo: 95 mil, segundo o Datafolha
– bandeiras: Defesa do mandato de Dilma e críticas ao que os movimentos consideram excessos da Lava Jato
16 de dezembro de 2015
– público em São Paulo: 55 mil pessoas, segundo o Datafolha
– bandeiras: Contra o impeachment e por mudança na política econômica
20 de agosto de 2015
– público em São Paulo: 37 mil pessoas, segundo o Datafolha
– bandeiras: contra o impeachment e por mudança na política econômica
13 de março de 2015
– público em São Paulo: 41 mil pessoas, segundo o Datafolha
– bandeiras: contra o impeachment e críticas a medidas do governo, entre elas na área trabalhista
Fonte: Nexo Jornal – 01/04/2016