30/11/2012
O que analisar na escolha de um MBA Executivo
A qualificação de pessoas é a principal preocupação dos presidentes de empresas brasileiras, conforme mostra o estudo Global CEO Study 2012, da IBM, que ouviu mais de 1 700 presidentes de companhias em 64 países. Segundo a pesquisa, 87% dos líderes brasileiros temem que a falta de competência dos funcionários tenha efeitos negativos sobre os negócios – a média mundial é de 69%. Para gerentes e diretores, essa qualificação passa pela escolha de um curso que proporcione o desenvolvimento de uma capacidade analítica aprofundada. No Brasil, os cursos que têm esse tipo de proposta são os MBAs executivos, de longa duração (têm no mínimo 480 horas de aula), voltados a profissionais com experiência comprovada em gestão. É a alternativa nacional que mais se assemelha aos MBAs internacionais -lá fora existem programas executivos como os brasileiros, que permitem ao aluno estudar sem deixar o emprego. Contudo, os MBAs convencionais exigem dedicação integral, o que obriga a dar uma pausa na carreira. “O curso amplia a visão do profissional maduro sobre a gestão de negócios.
Um recém-formado não aproveitaria um programa como esse”, diz Edson Crescitelli, diretor da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Conforme a pessoa avança na carreira e assume cargos mais altos, aumenta a complexidade das decisões que deve tomar. Por meio da metodologia de estudos de caso, o MBA executivo possibilita a assimilação de um modo de tomada de decisão. “Um MBA de alto nível deve estar comprometido fundamentalmente com o aumento da capacidade analítica dos participantes de forma que possam lidar melhor com a solução de problemas complexos e com os desafios das mudanças em sua empresa”, diz Marco Tulio Zanini, coordenador do Corporate International Master’s, curso da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Ebape), que confere ao aluno o título de mestrado executivo.
Outro objetivo do curso é qualificar o profissional para lidar com novas situações de mercado e cenários futuros. “As técnicas tradicionais de administração ajudam a resolver os problemas de hoje, trabalhando com um horizonte mais curto. E um curso de MBA é fundamental para começar a pensar os cenários de longo prazo”, diz James Wright, coordenador do núcleo Pro futuro e do MBA Executivo Internacional, ambos da FIA, de São Paulo. “As empresas procuram líderes com visão de futuro.” Se você pretende ser esse líde, veja o que um MBA executivo deve obrigatoriamente oferecer.
O QUE UM MBA EXECUTIVO DEVE TER
1 Pensamento estratégico
O pensamento estratégico em muitos cargos não se faz necessário, mas, para líderes que precisam comandar uma equipe e tomar decisões, é fundamental. Um MBA deve ensinar a entender desafios futuros e a planejar os negócios com um olhar amplo e de perpetuação da empresa. “Os cursos de- vem oferecer uma nova maneira de pensar”, diz Silvio Laban, coordenador-geral dos programas de MBA executivo do Insper, de São Paulo. Um bom exemplo, segundo John Schulz, sócio fundador da BBS Business School, é a questão da sustentabilidade.
“As limitações de recurso do planeta e como traduzir esse contexto em continuidade do negócio são preocupações de um executivo de alto nível”, diz John. “O curso deve preparar para esse tipo de decisão.”
2 liderança e aulas de humanidades
O que fazer para ser um bom líder é a dúvida mais comum dos profissionais que procuram um MBA executivo. Por isso, o curso deve proporcionar uma visão que não seja meramente técnica. A oferta de aulas de humanidades é uma tendência nas principais escolas de negócios do mundo, pois permite aos alunos aprender a analisar cenários em que não existem respostas definidas para um problema. O ensino de liderança tornou-se importante porque a gestão hoje se dá por meio da transmissão de valores e princípios para as equipes. “Nas aulas, promovemos discussões baseadas em virtudes como humildade, transparência e respeito”, afirma Paula Simões, da Fundação Dom Cabral (FDC), escola de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. Ela explica que o próprio formato das discussões de classe é organizado para aprender a valorizar a diversidade de opiniões. Ao mesmo tempo, os cursos de ponta hoje possibilitam construir um plano pessoal de desenvolvimento. “Adotamos uma metodologia que leva os alunos a um processo de autoconhecimento”, diz Renata Nogueira, coordenadora-geral de educação executiva do Ibmec do Rio de Janeiro.
3 Globalização e análise de futuro
O crescimento de negociações globais criou uma demanda na qualificação dos executivos. As companhias, cada vez mais, buscam líderes com visão de futuro, atentos à inovação. “Praticamente toda empresa sofre as consequências da concorrência globalizada, mesmo empresas domésticas têm competidores globais. Esse entendimento é necessário para que se possam desenvolver estratégias para enfrentar esses competidores”, diz James Wright, da FIA. Outro ponto é a diversidade. Negociações globais envolvem lidar com diferentes culturas e realidades. “Chamamos de executivo global aquele que está preparado para trabalhar com a diversidade, que entende as diferenças e conhece os padrões de concorrência, e com isso consegue tirar o melhor proveito dessas situações”, afirma Armando Dal Colletto, diretor acadêmico da Business School São Paulo (BSP).
4 Empreendedorismo
Ao contrário do que possa parecer, o empreendedorismo não é importante apenas para aqueles que querem montar seu próprio negócio. Essa qualidade é bastante valorizada nas organizações. O espírito empreendedor de um profissional faz parte do pacote de competências esperadas de um grande líder. Por causa disso, escolas como Insper e Coppead têm aumentado a carga de importância do ensino de empreendedorismo nos MBAs. “O mercado precisa de pessoas capazes de fazer coisas bem-feitas pela primeira vez e que aprendam enquanto as fazem, ou seja, precisa de empreendedor”, afirma Vicente Ferreira, vice-diretor de educação executiva do Instituto Coppead, do Rio de Janeiro. Para muitos profissionais, o MBA também é o reforço que faltava para tomar a decisão de empreender.
É comum encontrar profissionais que, ao término do curso, partem para a abertura de um negócio. “Quando se adquire o embasamento, as pessoas se sentem mais seguras para arriscar. Um curso forte de MBA desenvolve as competências e as técnicas para aprimorar essa segurança”, afirma Silvia Sampaio, coordenadora executiva do One MBA, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV.-Eaesp).
5 Uso inteligente da EAD
As plataformas online são um recurso em expansão nos programas de MBA. Em um curso presencial, a tecnologia é usada para complementar as atividades na escola, e não para substituí-las. É uma maneira eficiente de proporcionar encontros extraclasse entre os alunos, que podem usufruir dessa facilidade em fóruns de discussão, por exemplo. É também um suporte didático, que pode ser acessado de qualquer lugar, um facilitador para o compartilhamento de arquivos entre os estudantes e a instituição. “Esses recursos mantêm o vínculo do programa com os alunos e a escola, mesmo quando se está distante. O MBA tem de ser um processo de aprendizado ininterrupto não apenas durante os períodos de aula. Com essas ferramentas evitamos o liga e desliga do estudo e possibilitamos uma continuidade”, diz Paula Simões, da FDC. A tecnologia também permite a comunicação nos cursos que têm alunos de diversos países, como o One MBA. “Usar a plataforma online é imprescindível para nós, pois nossos alunos estão em diversas regiões do mundo e têm de desenvolver projetos em conjunto”, diz Silvia Sampaio, da FGV-Eaesp, que explica que não existem aulas online, apenas atividades e conteúdos complementares, como entrega de trabalhos.
6 Experiência internacional
Em muitos aspectos, o dia a dia do executivo envolve relações com estrangeiros. E é nesse contexto que possuir experiência internacional faz diferença (veja a reportagem Dentro do Circuito Mundial). “O mais importante é ter outra perspectiva, ver como as coisas são feitas em outros lugares. Assim, pode-se comparar métodos e absorver os mais interessantes”, diz John Schultz, da BBS Business School. Vivenciar realidades diferentes também é um exercício importante de desenvolvimento de liderança, pois sensibiliza o profissional a entender necessidades alheias às suas. Para James Wright, da FIA, esse convívio deixa o executivo mais forte e bem preparado. “Além de permitir uma análise comparativa mais rica, ele adquire uma percepção valiosa de comportamentos e de como são realizados os negócios no exterior.”
7 reconhecimento internacional
As certificações internacionais atestam o nível de qualidade de, um curso, pois para obter o selo é necessário cumprir uma série de requisitos. Entre as certificações internacionais, as mais importantes são as da Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB), da Association of MBAs (Amba) e da European Foundation for Management Development (EFMD). “As certificações são selos de qualidade da instituição. Elas possuem critérios rigorosos e consistentes de qualidade”, diz Armando Dal Colletto, da BSP. Silvio Laban, do Insper, destaca a importância de ser observado por alguém de fora. “As certificações possuem prazos de validade que são renovados. É preciso atender a sugestões de melhorias e buscar inovações para mantê-las.” No Brasil, o MEC não fiscaliza os cursos de MBA, mas exige 360 horas/aula, o equivalente a um curso de especialização regular, que por muitos especialistas é considerado insuficiente para abranger as competências abordadas em MBAs.
8 Trabalho final rigoroso
Em grande parte dos cursos de MBA executivo, o trabalho final é um estudo de caso, muitas vezes com uma grande aplicabilidade no trabalho que o profissional já desenvolve. Segundo especialistas, essa é uma maneira de aproximar o estudo acadêmico da trajetória profissional. Um dos mais rigorosos é o MBA do Coppead, único oferecido em horário integral no país. “Existe um rigor acadêmico em relação ao trabalho final que parte dos próprios alunos, que não aceitariam ser avaliados de forma branda”, diz Vicente Ferreira. “O trabalho final é importante por ser um momento mais reflexivo, de decantação do conhecimento que a pessoa absorveu ao longo do curso.” No Corporate International Master’s, da FGV-Ebape, que tem status de mestrado, o rigor acadêmico é ainda maior. “No MBA, o foco é capacitar o gestor para que ele dê a resposta certa. No mestrado, queremos que ele faça a pergunta certa e usamos o trabalho final para aumentar a capacidade analítica desse gestor”, diz Marco Tulio Zanini.
Fonte: Você S/A – Novembro de 2012