[{"jcr:title":"O impacto da diversidade na pesquisa acadêmica"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"O impacto da diversidade na pesquisa acadêmica","jcr:description":"Em evento promovido pelo Insper, alunas bolsistas negras relatam como são incentivadas a trazer um outro olhar para os projetos de que participam"},{"subtitle":"Em evento promovido pelo Insper, alunas bolsistas negras relatam como são incentivadas a trazer um outro olhar para os projetos de que participam","author":"Ernesto Yoshida","title":"O impacto da diversidade na pesquisa acadêmica","content":"Em evento promovido pelo Insper, alunas bolsistas negras relatam como são incentivadas a trazer um outro olhar para os projetos de que participam   Bárbara Nór   No dia 23 de abril foi realizado o evento “Representatividade de mulheres negras na universidade e seu poder de transformação”, [transmitido online](https://www.youtube.com/watch?v=JnQnPzj0Pzw) com a participação das professoras Bruna Arruda e Beatriz Abreu e das alunas Daniela Santos Mattos e Ruth Gaudencio. O bate-papo foi uma das iniciativas para promover a [campanha de financiamento coletivo para bolsas de estudo étnico-racial do Insper](https://www.insper.edu.br/transforme-com-o-insper/campanha-alas/) , realizada em parceria com o Fundo Alas, ligado à Fundação Tide Setubal. Completando 20 anos de existência em 2024, o [Programa de Bolsas](https://www.insper.edu.br/programadebolsas/) do Insper já contemplou mais de 900 alunos com algum tipo de bolsa. Atualmente, são 351 bolsistas — número que a escola pretende aumentar. “A gente sabe da importância de promover e se posicionar, além da diversidade social, também em termos de diversidade racial”, disse Ana Carolina Velasco, gerente de Relacionamento Institucional do Insper, na abertura do evento. Hoje, boa parte dos alunos bolsistas entra por critérios de elegibilidade social, explicou ela. Assim, objetivo da campanha é ampliar as vagas específicas para estudantes pretos e pardos. “Nós temos a missão de cada vez mais ampliar a entrada dos bolsistas negros”, ressaltou Ana Carolina. Outro objetivo do evento foi reforçar a importância de trazer mais mulheres negras para a academia. No Insper, elas ainda são minoria em relação a homens negros — dos 118 bolsistas negros ativos, 33% são mulheres. A exceção é o curso de Direito, onde elas são 57% dos bolsistas. “Como a Angela Davis [ professora e ativista americana de direitos humanos ] sempre falou, quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, disse Bruna Arruda, que, além de professora, é também Embaixadora de Diversidade no Insper. “É muito potente, para mim, estar aqui como embaixadora junto de mulheres tão incríveis, com alunas que nos inspiram diariamente.” Em sua fala, a professora Bruna resumiu o histórico dos programas de diversidade no Insper, que, desde a primeira iniciativa, em 2015, vêm ganhando cada vez mais espaço na instituição, a ponto de, em 2021, a diversidade ter entrado no planejamento estratégico da instituição. Além da Comissão de Diversidade, com 37 integrantes, a escola conta agora com a [Área de Diversidade, Equidade e Igualdade](https://www.insper.edu.br/noticias/insper-cria-area-para-fortalecer-acoes-de-diversidade-equidade-e-inclusao/) , coordenada por Débora Mallet. “A Área de Diversidade tem a missão de colocar no ar a agenda para o tema definida institucionalmente e é uma forma muito positiva de dizer como o Insper está avançando na agenda de diversidade”, disse Bruna. “Nossa missão é ajudar a escola na desconstrução de preconceito e estigmas sociais, levando a um crescimento igualitário para todas as pessoas e tornando o Insper também um agente de transformação.” Apesar dos avanços das pautas de diversidade na última década, o número de pessoas negras no Brasil ainda é relativamente baixo — em especial nos níveis de pós-graduação, comentou a professora Beatriz Abreu. “Quando olhamos para os estudantes de pós-graduação no Brasil, observamos que há 12,7% de estudantes autodeclarados pardos e 2,7% que se autodeclaram pretos”, disse. “A proporção de pessoas brancas entre mestres e doutores é da ordem de 80%.” Entre professores, essa proporção é ainda maior — 90,1% dos professores de ciências exatas, biológicas e da terra são brancos, e apenas 7,4% são negros. Já na população geral, os pretos e pardos correspondem a 55% do total. Isso se repete em outras esferas, como no mundo jurídico, mostrou Beatriz. No Ministério Público, por exemplo, enquanto 40,3% dos estagiários são pessoas negras, essa taxa cai para 15,7% entre os membros efetivos. “A representatividade vai diminuindo ao longo do crescimento hierárquico”, disse a professora. “E apenas 0,7% dos 13 mil membros do Ministério Público brasileiro são mulheres pretas, ou seja, a gente tem 81 mulheres no Brasil inteiro. É muito pouco.”   Olhar mais diverso na pesquisa acadêmica Números como esses demonstram ainda mais a importância de programas de bolsa específicos como o do Insper — que, além de contribuir para ampliar a diversidade, trazem outras perspectivas para as pesquisas acadêmicas. Exemplo disso é a trajetória de Daniela Santos Mattos, aluna negra bolsista de Direito no Insper. “Os professores nas salas de aulas e os núcleos de pesquisa estão sempre incentivando os alunos a participarem, principalmente alunos bolsistas”, disse Daniela. Ela mesma começou a participar de um programa de pesquisa depois de uma professora do curso de Direito dizer que estava procurando alunas bolsistas para apoiar em uma pesquisa no núcleo de Direito, Saúde e Políticas Públicas. “Passei dois anos nesse núcleo como assistente de pesquisa e auxiliei em diversas pesquisas, como a judicialização da saúde infantil, análise da política pública de rastreamento de câncer de pulmão, covid e saúde nas prisões, saúde e direito na América Latina”, disse. “E dentro desses estudos havia uma preocupação de toda a equipe em fazer recortes raciais, de gênero, de classe, de identidade de gênero e sexualidade.” Para Daniela, isso mostra que a preocupação do Insper vai além de trazer mais diversidade entre os estudantes. “O Insper também está incentivando um olhar mais cuidadoso da parte dos próprios pesquisadores em reconhecer diversidade e fazer recortes importantes para olhar para os problemas da sociedade de uma forma mais completa e assertiva”, afirmou. Além da participação nos núcleos de pesquisa, relatou Daniela, o Insper incentiva que os alunos façam projetos de iniciação científica diversos. Ela mesma realizou dois projetos: um sobre o [grau de deferência do Poder Judiciário](https://www.insper.edu.br/noticias/judiciario-costuma-respeitar-decisoes-da-agencia-nacional-de-saude-suplementar/) às decisões proferidas pela Agência Nacional de Saúde e outro sobre a análise da desigualdade racial no sistema de justiça criminal brasileiro. “Historicamente, o racismo estrutural tem contribuído para o encarceramento da população negra em massa, então foi superimportante esse trabalho”, disse. “Eu olhei também para a justiça restaurativa, que é uma alternativa para combater esse sistema de desigualdade racial que permeia a sociedade.” “Como aluna de Direito, posso afirmar que o Insper está fazendo a diferença”, comentou Daniela. Para ela, quando se trata de trazer para a agenda discussões sobre pautas de diversidade, muitas faculdades tradicionais de Direito ainda estão atrasadas, enquanto no Insper esses temas são propostos desde o início. “A gente tem matérias específicas para discutir o contexto social, as mazelas da sociedade brasileira e a desigualdade racial, de gênero e ambiental.” A oportunidade de contribuir para resolver problemas complexos da sociedade é também um dos grandes diferenciais do Insper para Ruth Gaudencio, também aluna negra bolsista de Direito. Durante o evento, ela contou sobre sua participação em um projeto dentro de uma das disciplinas da graduação. “É uma disciplina prática voltada para desenvolver habilidades como capacidade de resolução de problemas sociais por meio da colaboração”, disse. Nela, os alunos recebem um pedido de um cliente externo e, a partir disso, precisam construir uma solução. No caso de Ruth, o desafio foi construir uma solução para o Tribunal de Contas da União (TCU). “A gente estava trabalhando com a missão de criar um indicador que fosse integrado ao sistema de auditoria em programas de educação, um projeto que o TCU já tem para fiscalizar de forma remota e assim fiscalizar maior volume de escolas”, explicou. O objetivo era conseguir ver como está sendo feito o uso de recursos das escolas, se ele está sendo adequado e, a partir disso, verificar também o desempenho dos alunos.  Para isso, foi preciso usar conhecimentos tanto de Direito quanto de Ciências de Dados — outro diferencial, para ela, do Insper. “Nós sempre precisamos usar dados e números para justificar as decisões que estamos tomando”, disse. “Analisamos uma base pública de microdados com dados do sistema de avaliação da Educação Básica para chegar às variáveis.” Uma das conclusões foi que os principais fatores que impactavam na qualidade da nota eram a raça e o nível socioeconômico dos alunos. “Conseguimos chegar a um indicador que mostrava que essa equidade educacional precisa ser feita”, disse. Hoje, o sistema está em processo para ser efetivamente implementado no TCU. A oportunidade de contribuir para a melhoria de uma política pública foi uma das coisas que mais marcaram a experiência de Ruth. “Acho que isso é uma das coisas mais legais aqui no Insper — além da oportunidade de ter um ensino de qualidade e de poder usar as nossas lentes de pesquisa”, disse. Participar de projetos como esse é a chance também de garantir com que estudantes na rede pública tenham uma experiência melhor que ela mesma teve, acrescentou Ruth. “Eu estudei em escolas que não tinham acesso a recursos suficientes. Por exemplo, a escola em que eu estudava não tinha portas no banheiro. Então, para onde estava indo essa verba, se não tinha porta no banheiro?”, disse. “Essa fiscalização permite que a gente consiga fornecer uma educação de qualidade tanto em termos de infraestrutura quanto no nível de instrução dos professores.” Além desse trabalho, Ruth contou que também se envolveu com outros projetos de pesquisa, como um que analisava dados de pessoas privadas de liberdade no Brasil. “Isso nos permite realmente ter uma formação de liderança, que no futuro vai estar trabalhando para resolver esses problemas complexos”, afirmou. “Quando conseguimos juntar esse conhecimento com a vida que tivemos, é uma certeza de que vamos conseguir gerar um impacto real, mudar a realidade da nossa vida e das outras pessoas que vieram de onde viemos.”  "}]