Realizar busca
test

Os benefícios da neuroplasticidade para a liderança

A prática constante de competências de liderança pode remodelar o cérebro, fortalecendo as vias neurais necessárias para se tornar um líder mais eficaz

A prática constante de competências de liderança pode remodelar o cérebro, fortalecendo as vias neurais necessárias para se tornar um líder mais eficaz

 

Luiz Otávio Mascolo*

 

Já ouvir falar em neuroplasticidade? É a capacidade do cérebro de se adaptar e se reorganizar ao longo da vida, em resposta a novas experiências e aprendizados. Esse fenômeno não apenas influencia a capacidade de adquirir novas habilidades, mas também tem implicações profundas para a liderança.

A neuroplasticidade pode ser dividida em duas categorias principais: plasticidade estrutural e plasticidade funcional. A plasticidade estrutural envolve mudanças físicas na conectividade das sinapses neurais — significa que novas sinapses podem ser formadas e conexões antigas podem ser fortalecidas ou enfraquecidas com base nas experiências e no aprendizado. Já a plasticidade funcional diz respeito à capacidade do cérebro de redistribuir funções entre diferentes áreas, em resposta a mudanças nas demandas cognitivas. A plasticidade funcional influencia a liderança adaptativa, uma vez que, em um ambiente de negócios em constante evolução, os líderes precisam se adaptar a novas circunstâncias e desafios. Nesse contexto, a capacidade do cérebro de realocar funções cognitivas permite que os líderes mudem seu foco, prioridades e abordagens de acordo com as necessidades.

Quando aplicamos esses conceitos à liderança, vemos como a neuroplasticidade desempenha um papel crucial no desenvolvimento de líderes eficazes. Ao praticarem habilidades de liderança repetidamente, as pessoas podem fortalecer as redes neurais relacionadas a essas competências. Por exemplo, um líder que se empenha em melhorar sua habilidade de comunicação ativará circuitos neurais específicos cada vez que se envolver em conversas construtivas, apresentações ou discussões de equipe. Com o tempo, essas ativações repetidas levam a uma melhoria perceptível na habilidade de comunicação.

Líderes eficazes podem se aproveitar da neuroplasticidade para melhorar suas habilidades de gestão. Ao se envolverem em novas experiências, desafios e aprendizados, podem reforçar circuitos neurais relacionados a habilidades que, talvez, não estivessem tão bem desenvolvidas quanto outras, como comunicação, empatia, resolução de conflitos e tomada de decisões. Isso significa que a prática constante de competências de liderança pode efetivamente remodelar o cérebro, fortalecendo as vias neurais necessárias ao desempenho mais efetivo das atribuições da liderança.

 

Aprendizado contínuo

A neuroplasticidade destaca a importância do aprendizado contínuo na liderança. As pessoas que buscam constantemente adquirir novos conhecimentos e se expor a diferentes situações estão aproveitando a capacidade do cérebro de se adaptar e crescer para atingir esse objetivo. A mentalidade de aprendizado contínuo não apenas aumenta a adaptabilidade dos líderes, como também os torna mais relevantes no contexto geral onde atuam e os torna capazes de lidar com as mudanças inesperadas e os desafios que enfrentam em suas funções.

Nesse cenário, fica evidente que a neuroplasticidade está intimamente ligada à importância de sair da zona de conforto para o desenvolvimento de liderança. Quando os líderes se expõem a novas experiências, estão literalmente construindo novas estradas no cérebro. Participar de desafios, estabelecer metas mais arrojadas ou, num aspecto qualitativo, diferentes do habitualmente praticado pela área, além de buscar feedback e aprender com outras perspectivas, cria conexões neurais que podem melhorar a adaptabilidade e a agilidade de um líder diante das mudanças.

No entanto, é importante notar que a neuroplasticidade não opera apenas em uma direção positiva. Assim como comportamentos e habilidades propositivas podem ser fortalecidos, padrões comportamentais negativos também podem se enraizar se forem repetidos com frequência. Portanto, os líderes devem estar atentos não apenas ao que estão praticando, mas também a como estão praticando.

 

Dicas para aprimorar

Há uma série de aspectos intrínsecos à liderança que podem ser aprimorados de forma bastante considerável pelo exercício intencional e propositivo da neuroplasticidade. Veja alguns exemplos:

1) Desenvolvimento de habilidades de comunicação: Um líder que deseja aprimorar suas habilidades de comunicação pode se comprometer a praticar a escuta ativa e a comunicação clara. Ao envolver-se em conversas significativas, fazer apresentações e receber feedback regularmente, ele fortalece as vias neurais associadas à comunicação eficaz.

 

2) Cultivo da empatia: Um líder pode trabalhar na melhoria de sua empatia ao se colocar no lugar dos membros da equipe e considerar suas perspectivas. Ao praticar a empatia em situações cotidianas e se esforçar para entender as emoções dos outros, o líder está remodelando as conexões neurais relacionadas à empatia.

 

3) Tomada de decisões estratégicas: Um líder que busca aprimorar sua tomada de decisões pode praticar a análise crítica e a avaliação de diferentes cenários. Ao enfrentar desafios que envolvam tomada de decisões e refletir sobre os resultados, o líder está fortalecendo as vias neurais necessárias para escolhas mais estratégicas.

 

4) Liderança de equipe: Para melhorar suas habilidades de liderança de equipe, um líder pode se expor a diferentes dinâmicas de grupo e trabalhar na gestão de conflitos construtivos. Ao lidar com situações de equipe, fornecer orientação e incentivar a colaboração, o líder está refinando suas competências de liderança de equipe.

 

5) Resiliência diante da mudança: Um líder pode aproveitar a neuroplasticidade para aumentar sua resiliência. Ao adotar uma mentalidade de aprendizado diante dos desafios, buscar oportunidades para aprender com o fracasso e enfrentar situações de mudança, o líder está construindo caminhos neurais que favorecem a resiliência.

 

6) Criatividade e inovação: Um líder que deseja estimular a criatividade pode se envolver em atividades que incentivem o pensamento divergente, como brainstorming e exposição a diferentes perspectivas. Essas atividades desafiam as redes neurais a fazerem novas conexões, promovendo a criatividade.

 

7) Autogerenciamento do estresse: Um líder pode praticar técnicas de autogerenciamento do estresse, como meditação ou mindfulness. Essas práticas podem remodelar as vias neurais envolvidas nas respostas ao estresse, criando um maior distanciamento entre o fato gerador e as respostas reflexas típicas, tornando o líder mais capaz de lidar com pressões e demandas.

 

É importante ressaltar que a neuroplasticidade requer tempo e esforço. Mudanças significativas no cérebro não ocorrem da noite para o dia. Portanto, a prática consistente é fundamental para consolidar as mudanças neurais necessárias ao aprimoramento das habilidades de liderança.

Em última análise, a neuroplasticidade reforça a ideia de que a liderança é uma jornada contínua de crescimento. À medida que os líderes exploram novas maneiras de aprender, praticar e se desenvolver, estão aproveitando a capacidade inata do cérebro de evoluir ao longo do tempo. Ao fazer isso, eles não apenas se tornam líderes mais eficazes, mas também inspiram suas equipes a buscar o aprendizado constante e a adaptação diante das mudanças.

 


Luiz Otávio Mascolo

*Luiz Otávio Mascolo é especialista em Direito dos Contratos pelo Insper e coordenador do Comitê Alumni de Liderança. É membro do Grupo de Trabalho de Riscos de Crédito e Garantia da AIDA Brasil, das Comissões de Transportes e da Lei Geral de Proteção de Dados da Fenseg, da Comissão de Direito do Seguro e Resseguro da OAB-SP e do Fórum de Assuntos Jurídicos do Sindseg-SP. Atualmente, é Legal Counsel na Swiss Re Corporate Solutions, onde elabora e negocia contratos dos mais diversos tipos e níveis de complexidade.

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade