[{"jcr:title":"Primeira infância e urbanismo social para a transformação das cidades"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Primeira infância e urbanismo social para a transformação das cidades","jcr:description":"Especialistas compartilharam experiências de sucesso que uniram a atenção aos anos iniciais do desenvolvimento humano com políticas públicas inclusivas"},{"subtitle":"Especialistas compartilharam experiências de sucesso que uniram a atenção aos anos iniciais do desenvolvimento humano com políticas públicas inclusivas","author":"Ernesto Yoshida","title":"Primeira infância e urbanismo social para a transformação das cidades","content":"Especialistas compartilharam experiências de sucesso que uniram a atenção aos anos iniciais do desenvolvimento humano com políticas públicas inclusivas   Michele Loureiro   “Primeira infância não é coisa de primeira-dama. É questão econômica na mesa.” As palavras de Teresa Surita, ex-prefeita de Boa Vista que implantou o Programa Braços Abertos — um instrumento estratégico para o planejamento de ações estruturais e locais na capital de Roraima —, destacam a importância das crianças no contexto da organização das cidades. “É na primeira infância que moldamos nossas primeiras memórias. Durante esse período, se tivermos a sorte de contar com o equilíbrio emocional familiar e o suporte do Estado temos a chance de uma vida melhor. Caso contrário, perdemos uma importante janela de oportunidade.” Teresa, que ocupou o cargo de prefeita de Boa Vista por cinco mandatos — o mais recente, de 2017 a 2020 —, foi uma das convidadas do debate “A Implementação de Programas de Primeira Infância e Urbanismo Social: Casos de Sucesso”, realizado pelo Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, em 25 de julho. O evento, mediado por Tomas Alvim, coordenador-geral do Laboratório, contou com a participação também de Kátia Mello, copresidente da consultoria socioambiental Diagonal, e de Ricardo Balestreri, ex-secretário de Cidadania do Pará e que vai assumir a coordenação do Núcleo de Segurança Pública, Territórios e Urbanismo Social do Arq.Futuro (leia [aqui](https://www.insper.edu.br/noticias/nao-se-faz-seguranca-publica-so-com-policia/) ). Todos os participantes apresentaram casos práticos de êxito que ilustram a sinergia entre urbanismo social e primeira infância. Kátia iniciou sua apresentação relembrando as raízes da Diagonal, que, há três décadas, contribuiu para a urbanização da favela de Tamarutaca, em Santo André (SP). Esse projeto serviu como base para o Habitar Brasil, um dos primeiros programas de urbanização de favelas do país, e demonstrou a capacidade de transformar territórios por meio de intervenções sociais. Desde então, a Diagonal atuou em projetos nas cidades de São Paulo, Santos e Curitiba; em um de seus mandatos como prefeita de Boa Vista, Teresa Surita solicitou a ajuda da Diagonal para impulsionar mudanças na capital roraimense. “Era um desafio enorme, levando-se em conta a localização da cidade, que fica em área de fronteira, e o orçamento muito baixo. Mas entendemos que ela queria de fato fazer o melhor para a população e apostamos em um modelo participativo, integrado, regionalizado e focalizado, porque cada pessoa importa”, lembrou Kátia. “Nossa lógica foi priorizar ações com alto impacto e baixo custo, que gerassem trabalho e renda, além de ações-piloto para demonstrar que era possível mudar a realidade.” No ano de 2001, foi lançado o Programa Braços Abertos, que convocou a população de Boa Vista a participar de uma pesquisa. A resposta positiva de 42 mil famílias proporcionou dados cruciais que embasaram a compreensão da prefeitura sobre a composição dos grupos e permitiram diagnósticos com base nos índices de pobreza, desemprego e exclusão escolar infantil. “Saber quais eram os problemas, quem eram as pessoas e do que elas precisavam nos ajudou a fazer planos locais de ação integrada a partir da análise dos territórios. Uma das primeiras ações foi colocar professores à noite nas praças para ter diálogos com os jovens, o que culminou na criação de um projeto com oficinas e ajuda para eles arrumarem emprego. Em três anos, houve uma redução de 72% nos índices de violência na cidade”, destacou Kátia. Em 2003, uma nova pesquisa foi conduzida para avaliar os resultados das intervenções, com 79% dos entrevistados expressando a opinião de que Boa Vista havia melhorado desde 2001. Essa iniciativa, apesar de ter sido realizada há duas décadas, deixou o seu legado. Kátia enfatizou a importância de um método centrado no diálogo com a população e no trabalho conjunto, ressaltando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar e integrada. Com a cidade mais bem estruturada, Teresa considerou que o momento era oportuno para começar um segundo ciclo de aprimoramentos, focando na identificação dos desafios da primeira infância. “Nosso objetivo era fazer de Boa Vista a capital com a melhor qualidade de vida no Brasil. Assim, colocamos as crianças no centro, incorporando-as ao plano de governo. Reorganizamos a cidade para receber políticas públicas abrangentes voltadas para a primeira infância e estabelecemos uma política pública que integra diversos setores”, afirmou a ex-prefeita. Para implementar uma abordagem social efetiva, a administração da época realizou um novo mapeamento da capital e desenvolveu uma plataforma digital para análise de dados e diagnósticos. Isso levou à criação de um plano de ação pró-infância, com enfoque em áreas como unidades de saúde, creches, escolas e transporte. Além disso, houve um compromisso em monitorar o desenvolvimento integral da criança desde a gestação até os 6 anos de idade. “Introduzimos iniciativas como a Universidade do Bebê, o Família que Acolhe, a promoção da leitura desde os primeiros anos, visitas domiciliares, atendimento médico e intervenções urbanas. Desenvolvemos o primeiro currículo inclusivo do Brasil, com contribuições da sociedade – até mesmo das crianças. Entregamos 93 escolas e creches com padrões uniformes, todos os professores foram capacitados; com isso, avançamos do último para o quinto lugar no IDEB. Foi, sem dúvida, uma transformação incrível”, concluiu Teresa.   Ricardo Balestreri durante sua apresentação [ ](/content/dam/insper-portal/legacy-media/2023/08/Evento-primeira-infancia-e-urbanismo-social.heic) Segurança e urbanismo social Antes de assumir o cargo de secretário de Cidadania no Pará (2019-2022), Ricardo Balestreri desempenhou funções como secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (2017-2018)), onde supervisionou 142 presídios. Durante o encontro realizado no Insper, ele narrou sua experiência em utilizar abordagens científicas para reduzir os índices de criminalidade, chamando a atenção do governador do Pará, Helder Barbalho, que solicitou sua colaboração para enfrentar esse desafio. Relatou Balestreri: “O governador me disse que o Pará enfrentava um problema de segurança pública que impactava os investimentos, ameaçava o turismo e trazia uma série de desafios alarmantes. Ele me questionou sobre como poderia resolver esses problemas. Minha resposta foi clara: criar uma Secretaria de Cidadania para impulsionar uma revolução social completa”. Isso marcou o início da integração das duas áreas, que, para Balestreri, são inseparáveis: a segurança pública e o urbanismo social. Inicialmente, os territórios mais problemáticos em relação à violência e ao crime foram identificados no Pará. Posteriormente, ocorreu a intervenção policial. Balestreri destacou que isso não foi simples, visto que o estado de direito estava ausente das comunidades mais carentes. Ele recordou: “O que aconteceu foi impressionante. Não houve registros de violações dos direitos humanos em nenhum território, nem uma única morte.” O ex-secretário de Cidadania descreveu um momento marcante de sua gestão, quando testemunhou a chegada da polícia numa daquelas localidades: “Em uma dessas ocasiões, lembro-me de ter ficado impressionado, pois pensei que a população ficaria assustada com nossa presença. No entanto, fiquei parado por cerca de 45 minutos, cercado por pessoas, jovens jogando futebol ao nosso redor. Era uma verdadeira celebração espontânea e popular, pois viram ali uma chance de recuperar o território que era dominado pelo crime”. Mais de 30 secretarias e órgãos governamentais trabalharam de maneira coordenada para combater a violência no Pará. Em um período de um ano e três meses, foram realizados 1,7 milhão de atendimentos em territórios que abrigavam 500 mil moradores. “Na etapa final, introduzimos o programa TerPaz e estabelecemos as Usinas da Paz — complexos comunitários, construídos em terrenos de 10 a 15 mil metros quadrados, com instalações como piscinas, quadras esportivas, cozinhas e espaços para cursos e bibliotecas. As crianças e jovens não apenas se divertem nesses locais como também aprendem valores e têm oportunidades.” Balestreri encerrou a participação no debate enfatizando sua crença de que o urbanismo social é a chave para transformar o país — e ressaltou a importância inestimável das crianças nessa jornada. “Trata-se de acreditar em nosso potencial para iluminar o caminho mesmo em meio à escuridão, em vez de esperar pela luz no final do túnel”, concluiu."}]