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“Ter mais mulheres na política é uma questão de sustentabilidade do país”

Para Graziela Tonin, professora do Insper, a paridade de gênero na política é uma das agendas mais urgentes para o Brasil

Para Graziela Tonin, professora do Insper, a paridade de gênero na política é uma das agendas mais urgentes para o Brasil

 

Bárbara Nór

 

Aos 50 anos da criação do Dia Internacional da Igualdade Feminina, implementado pelo Congresso dos Estados Unidos no dia 26 de agosto de 1973, não há muito a se comemorar. A data marca a aprovação da emenda que permitiu o voto às mulheres nos Estados Unidos, em 1920, e representa a importância da inclusão de gênero na política.

Mas, segundo a ONU, em janeiro deste ano, dos 193 países reconhecidos internacionalmente, somente 31 tinham mulheres como chefe do Estado ou do Governo. Se seguirmos nesse ritmo, calcula a ONU Mulheres, só alcançaremos a igualdade de gênero na política em 130 anos.

No Brasil, foi há menos de um século que elas conquistaram o direito de votar em eleições nacionais. E, apesar de representarem metade da população — e 53% dos eleitores —, as mulheres ainda são minoria na política brasileira. Entre 2016 e 2022, de acordo com dados do TSE Mulheres, elas representaram 33% das candidaturas e 15% dos eleitos. E, mesmo quando estão presentes na política, as mulheres ainda tendem a se concentrar em áreas ligadas à família e a gênero. Globalmente, as cinco pastas onde a presença de mulheres é maior são Mulheres e Igualdade de Gênero, Família e Infância, Inclusão e Desenvolvimento Social, Proteção e Segurança Social e Povos Indígenas e outras minorias.

Para Graziela Tonin, professora de Projeto Ágil e Programação Eficaz, integrante da Frente Gênero da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper e líder da Iniciativa Women in Tech, a inclusão das mulheres na política é, no limite, uma questão de sustentabilidade do próprio futuro do País. “Não é só para fazer justiça para 51,1% da população do país e mãe dos outros 48,9%”, afirma. “O progresso passa por equilíbrio e por reduzir vieses e, hoje, os investimentos são decididos pela maioria de pessoas do gênero masculino.” Assim, ela diz, é urgente ter mais mulheres fazendo política para enfrentar os desafios do Brasil. Veja mais na entrevista a seguir.

 

Graziela Tonin, especialista em metodologias ágeis e professora do Insper
A professora Graziela Tonin

 

Como você descreveria a presença feminina na política brasileira? Estamos avançando?

Olhando por uma perspectiva positiva, tivemos um avanço na política brasileira. Mas o percentual ainda é muito baixo — as mulheres são menos de 17% na Câmara dos Deputados, por exemplo. Então, embora tenhamos evoluído, não estamos fazendo isso na velocidade necessária. Precisamos acelerar esse processo e ter mais mulheres fazendo política. E uma coisa que discutimos no Insper é que não precisamos apenas de mais mulheres se candidatando, mas também assumindo secretarias, sendo chefes de gabinete, ministras e assessoras de vereadores. É um trabalho amplo e árduo, mas urgente.

 

Qual é a importância de ter mais mulheres na política?

A política define os investimentos e políticas em uma série de áreas importantes, como educação, saúde pública e ciência, que têm muitos desafios. Precisamos de mais mulheres na política para conseguirmos enfrentá-los. Por exemplo, neste mundo complexo em que vivemos, precisamos inovar rápido, ter mão de obra qualificada, criar tecnologia de ponta e saber utilizá-la. Mas se não incentivamos mais mulheres na ciência e não temos mais mulheres discutindo políticas afirmativas ou a inclusão dessas matérias no currículo do Ensino Médio, ou mesmo políticas de proteção a mulheres e meninas vulneráveis e infraestrutura básica, como vamos mudar isso? Já em relação à saúde pública, por exemplo, quantas meninas não engravidam logo ao sair da escola ou mesmo abandonam os estudos por terem engravidado? Elas acabam tendo o empoderamento econômico comprometido. No Brasil, questões como essas são muito influenciadas por políticas governamentais. Se não tivermos mulheres influenciando essas decisões, não teremos o progresso de que precisamos. É uma questão de sustentabilidade para um futuro viável, e não só uma questão do que é ideal.

 

Quais são as maiores barreiras para termos mais mulheres na política no Brasil?

Embora os partidos teoricamente tenham a obrigação de investir em candidatas mulheres, eles têm encontrado formas de burlar essas obrigações. No topo dos partidos, nas secretarias da prefeitura e em outras instâncias, ainda são homens que tomam as decisões. Acredito que, para eles, as circunstâncias hoje estão confortáveis, então eles não têm motivo para mudar. É uma dor que talvez eles nem percebam. E mais: quantas mulheres à sua volta são incentivadas a fazer política? E, quando elas chegam lá, não é um ambiente acolhedor. Os partidos, os lugares de discussão, como Câmara e Congresso, são violentos para as mulheres. Quando a mulher chega a uma posição alta na política, em geral isso tem um custo grande para ela. Além disso, no Brasil, as mulheres dedicam mais tempo à família, o que também pode impedir seu envolvimento na política. As mulheres não são instigadas, motivadas nem preparadas para fazer política e, se conseguem chegar lá, podem ter sua permanência dificultada por essas questões.

 

Que medidas poderiam ser tomadas para reverter esse quadro?

Temos ainda uma cultura muito opressora e machista para as mulheres, haja vista o índice de violência contra a mulher e de feminicídios diários. O Índice de Normas Sociais de Gênero (GSNI), da ONU, por exemplo, mostrou que 9 a cada 10 pessoas têm vieses negativos contra as mulheres: elas são consideradas menos aptas para temas como política, liderança e economia. Precisamos fazer um letramento e educação para os homens a fim de reduzir esses vieses, porque eles ainda são os grandes tomadores de decisão. Isso passa por uma estratégia macro, não adianta ficar só em ações pontuais. No Brasil, temos um problema de continuidade de políticas — dependendo do viés ideológico do governo, esse não é um tema prioritário. Isso torna ainda mais urgente a necessidade de ter política de Estado, e não só de governo, para que ela se torne perene. Precisamos também de incentivos por parte do setor privado. Precisamos ter mecanismos de monitoramento e tomar decisões em cima dos dados coletados, usá-los para um projeto de sensibilização dos partidos e da sociedade. E precisamos de incentivos para que os partidos aumentem a presença de mulheres e puni-los nos casos em que violarem a lei.

 

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