A busca por soluções que levem valor a toda a cadeia deu o tom do evento de lançamento do novo MBA Executivo em Saúde do Insper
Tiago Cordeiro
O ecossistema de saúde vive um dilema, no Brasil e em boa parte do mundo. O atendimento, em geral, é focado na doença, e não na prevenção. Os principais players — hospitais, laboratórios e indústria farmacêutica — atuam de forma isolada. “Fazemos circular muito dinheiro, mas não estamos gerando valor. Dissipamos energia. Os profissionais de saúde estão no limite do estresse, sabem o que precisam fazer, mas não conseguem, presos a processos burocráticos enquanto o setor opta por inovações que geram mais retorno financeiro do que benefícios para as pessoas.”
O diagnóstico de Victor Piana Andrade, médico patologista, com pós-doutorado pelo Memorial Sloan-Kettering, de Nova York, MBA em Saúde pelo Insper e pela Universidade Harvard, atualmente CEO do A.C. Camargo Cancer Center, ecoou ao longo do evento de lançamento do MBA Executivo em Saúde do Insper. Redesenhado, o programa tem por objetivo formar os líderes e gestores mais preparados para o futuro da saúde.
Realizado no dia 26 de maio, o encontro contou com a participação de Denise Santos, CEO da Beneficência Portuguesa de São Paulo desde 2013, Gonzalo Vecina Neto, professor assistente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo desde 1988, e Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo há 38 anos e coordenador do Núcleo de Saúde Urbana do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper.
A mediação ficou a cargo de Isabela Furtado, professora assistente no Insper que, ao lado de Saldiva, participou do projeto de renovação do MBA, com o apoio decisivo dos líderes do setor que atuam no Comitê de Saúde do Insper. Isabela apontou a importância do MBA para a instituição. “Desenhar este novo curso nos forçou a nos reconhecer como grupo. Temos um Núcleo de Saúde, temos pessoas especializadas em medição de impacto, temos um Centro de Data Science que recebe informações de impacto em saúde. Estamos construindo uma unidade interna em torno do tema. E trazemos também pessoas do setor, para ajudar a enxergar problemas e reforçar a conexão entre a academia e o que acontece na ponta.”
Denise Santos, por sua vez, observou: “Precisamos de pluralidade e inconformismo. Na Beneficência Portuguesa, atuamos com 4 Ps: prevenção, predição, personalização e participação. Instituições como as nossas precisam estar preparadas para oferecer tratamentos de maneira absolutamente personalizada. Temos que conciliar a conveniência individual das pessoas com as demandas coletivas. Para isso, vamos precisar trabalhar, em especial, no P da participação. Logo teremos que discutir o compartilhamento de dados entre diferentes grupos do setor.”
Por isso, disse ela, as expectativas a respeito do novo MBA do Insper são altas, porque a proposta é focar em grandes desafios concretos do setor, buscando soluções práticas que integrem os diferentes players. “O setor é muito fragmentado. Cabe a nós que estamos aqui começar a juntar estas peças. As pessoas começam a entender que tudo é saúde, incluindo trabalho, relações sociais, felicidade. O desafio para esse novo programa é formar líderes capazes de construir as pontes entre os integrantes do ecossistema.”
De sua vez, Victor Piana Andrade lembrou que a solução está na interface e na busca por tecnologias acessíveis, replicáveis e escaláveis. “No A.C. Camargo, estamos ficando cada vez menos hospital, buscando terapias menos tóxicas, cirurgias menos intensivas, já projetando o momento em que atenderemos em casa. Para isso, buscamos tecnologias relevantes e acessíveis, algo que o mercado hoje não visualiza. Vemos novas tecnologias chegando a um custo muito alto. Deve haver soluções maravilhosas a um custo baixo, mas que não chegam ao mercado.”
Daí a relevância do novo MBA, que contou com sua participação ativa — Andrade foi, ele mesmo, aluno do curso antes da reformulação e é um dos coordenadores do Comitê Alumni de Gestão de Saúde do Insper. “Não estamos gerenciando saúde. Estamos gerenciando dinheiro. Vamos precisar redesenhar a cadeia de valor, e o Insper tem totais condições de agregar informações de alto padrão em áreas estratégicas. Este é um MBA comprometido em gerar valor. O Insper vai colocar tudo o que tem a serviço da transformação da saúde.”
Em paralelo com a interação as análises dos dois CEOs, Paulo Saldiva e Gonzalo Vecina Neto trouxeram insights relevantes a respeito da importância da participação da academia para a reformulação de que o setor precisa.
“Hoje a medicina privada no Brasil não oferece saúde, oferece negócio. Esse dilema é resultado de um debate antigo sobre as especificidades da gestão em saúde, o quanto ela se diferencia da gestão de qualquer outro setor. A saúde está ficando mais cara, a incorporação da tecnologia está mais difícil”. Neste sentido, ele lembrou, a epidemiologia é uma área da medicina crucial para basear a tomada de decisões. “É uma ciência mal compreendida pela gestão em saúde”, indicou Vecina.
“O desafio é prever o futuro da saúde nos próximos 20 anos”, apontou, por sua vez, Saldiva. “Vamos ter uma transição demográfica, com um aumento de pessoas acamadas, recebendo atendimento em suas residências, com hospitais participando com cuidados paliativos. O sistema de saúde é privado e público, inclusive na trajetória das pessoas que adoecem e passam por diferentes sistemas.”
Será preciso desenhar uma gestão de saúde de precisão, assim como existe a medicina de precisão, observou Saldiva. “Para isso precisaremos territorializar as demandas, considerando aspectos complexos como as desigualdades sociais, as doenças que acometem as periferias, os mais de 30 mil mortos em acidentes de trânsito todos os anos, a violência contra crianças.” Por isso o novo MBA do Insper se posiciona de forma inovadora. “Queremos incentivar um redesenho do setor, com base nas demandas reais da sociedade”.
O evento permanece disponível, na íntegra, no canal do Insper no YouTube.