[{"jcr:title":"Com o protagonismo das líderes comunitárias"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Com o protagonismo das líderes comunitárias","jcr:description":"Primeiro núcleo do Laboratório Arq.Futuro de Cidades volta sua atenção para a atuação feminina em conglomerados urbanos de baixa renda"},{"subtitle":"Primeiro núcleo do Laboratório Arq.Futuro de Cidades volta sua atenção para a atuação feminina em conglomerados urbanos de baixa renda","author":"Ernesto Yoshida","title":"Com o protagonismo das líderes comunitárias","content":"Primeiro núcleo do Laboratório Arq.Futuro de Cidades volta sua atenção para a atuação feminina em conglomerados urbanos de baixa renda Juliana Mitkiewicz, coordenadora do Núcleo Mulheres e Territórios   Leandro Steiw   O Núcleo Mulheres e Territórios do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper propõe-se a conectar mundos e conhecimentos divergentes que, muitas vezes, não se comunicam. “Um dos nossos principais objetivos é entender a demografia e a inserção da mulher no território, divulgar o trabalho já realizado por essas mulheres pioneiras no espaço urbano, em especial favelas e comunidades de baixa renda, e incidir sobre políticas públicas a partir da transversalidade de conhecimento da academia e do território”, diz Juliana Mitkiewicz, professora e pesquisadora do Insper, que coordenao núcleo, o primeiro criado no Laboratório, em 2019, e composto majoritariamente por lideranças comunitárias femininas. O núcleo busca entender como essas lideranças, que atuam em seus territórios há tempos, fazem incidência política por meio de movimentos sociais organizados, particularmente na perspectiva de lente da mulher. E, a partir disso, promover a discussão pública que essas mulheres já realizam, voltada à sua própria demanda. “Isso porque entendemos que são lideranças femininas que estão à frente desses movimentos sociais, fazendo política e articulando para desenvolvimento de seus territórios”, explica Juliana. A atuação do núcleo visa difundir esse conhecimento na academia e pluralizar a pesquisa aplicada por meio de diversos pontos de vista, apoiando o lado científico, baseado em dados e evidências, com o olhar dessas mulheres em seus territórios — consequentemente, de todo o conhecimento que elas acumulam sobre as suas comunidades ao longo de décadas. Segundo Juliana, o núcleo atua como uma rede de pesquisa-ação, de conceituação, de estudo de casos e pesquisas baseadas em dados, evidências e conhecimento territorial para atender às necessidades dessas mulheres e influenciar as políticas públicas e os projetos de intervenção urbana com o olhar coletivo feminino. Um dos desafios que logo se impôs foi a pandemia de covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020, poucos meses depois da criação do núcleo. “Quando chegou a pandemia, a atenção desse grupo de mulheres, principalmente dessas lideranças, se voltou para as questões das necessidades básicas que a população estava sofrendo, principalmente em termos de saúde e segurança alimentar”, recorda a coordenadora.   Grupo de confiança Atualmente, fazem parte do núcleo Mulheres e Territórios Evaniza Rodrigues, Cleide Alves, Marília de Santis, Carmen Silva, Eliana Sousa Silva e Fernanda Viana. Todas se engajaram nas iniciativas de enfrentamento do novo coronavírus. “Esse grupo de confiança se solidificou e se fortaleceu muito, apesar de todas as dificuldades que existiram naquele momento da pandemia”, afirma Juliana. Evaniza Rodrigues é militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra Leste 1 e da União Nacional por Moradia Popular. Graduada em Serviço Social pela PUC-SP e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, ela atua nos movimentos populares habitacionais, com ênfase em serviço social e nos temas de direito à moradia, autogestão na habitação, direito à cidade, participação social e produção social da moradia. Foi consultora da Caixa Econômica Federal e chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades. Cleide Alves faz parte das 153 primeiras famílias que chegaram a Heliópolis, após serem retiradas da Vila Prudente, em 1971. Desde a adolescência, luta por melhores condições de vida ds moradores da região e integrou a comissão que deu origem à União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), da qual é presidente desde 2013. Marília de Santis é diretora de escola na rede municipal de educação da cidade de São Paulo, coordenadora do Movimento Sol da Paz de Heliópolis e integrante da diretoria ampliada da UNAS. Graduada em Letras pela USP, cursa o mestrado em Gestão e Práticas Educacionais da Uninove, na qual está inscrita no grupo de pesquisa Práticas Político-Sociais. Carmen Silva é líder do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). Filha de empregada doméstica e militar, casou-se aos 17 anos e sofreu violência doméstica do ex-marido por quase uma década. Quando já era mãe de oito filhos, aos 35 anos, veio sozinha para São Paulo em busca de uma vida melhor para as crianças. Em 2022 venceu o 1º Prêmio Ecoa na categoria Causadores, por sua luta pelo direito à moradia digna para famílias na região central da cidade de São Paulo. O MSTC coordena cinco ocupações – a maior delas é a 9 de Julho, que abriga cerca de 120 famílias. Atualmente é chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Eliana Sousa Silva é fundadora e diretora da Redes da Maré, organização da sociedade civil que atua nas 16 favelas da Maré, no Rio de Janeiro, e coordenadora da pós-graduação em Urbanismo Social do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper. Doutora Honoris Causa pela Universidade Queen Mary, da Inglaterra, e doutora em Serviço Social pela PUC-Rio, recebeu vários prêmios, entre eles o Itaú Cultural 30 anos e o Mulher do Ano na área social do Rotary Club do Rio de Janeiro. Fernanda Viana nasceu na Maré e começou a atuar na Redes da Maré em 2002, como aluna do curso pré-vestibular da organização. Trabalhadora e mãe de três filhos, entrou no curso de Serviço Social. Ela costuma dizer que a rede de apoio que encontrou em casa e a ajuda de vizinhos foi fundamental para que conseguisse fazer a graduação. Atualmente, é mestranda no curso de Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde na Fiocruz. Também integra o núcleo a professora e pesquisadora do Insper Paulina Achurra , coordenadora acadêmica do Laboratório Arq.Futuro de Cidades. No Chile, seu país natal, Paulina graduou-se em Engenharia Química e Engenharia em Biotecnologia. Ela é também doutora em Engenheira Química. Participou do desenvolvimento e da implantação dos cursos de Engenharia do Insper, nos quais leciona e pesquisa nas áreas de inovação social, sustentabilidade e inovação na educação em Engenharia. À frente do núcleo, como foi dito antes, Juliana Mitkiewicz é professora de Design Participativo nos cursos de graduação, pós-graduação e educação executiva do Insper, Graduada em Engenharia Ambiental, tem mestrado em Sistemas Sustentáveis de Energia. É doutoranda em Sistemas Sustentáveis de Energia e pesquisadora e consultora do D-Lab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Ela recorda: “Nosso núcleo ajudou nas questões de gestão administrativa e de recebimento de recursos durante a crise humanitária provocada pela covid, que aconteceu, principalmente, nos territórios vulnerabilizados. Foram essas mulheres que lideraram os movimentos nas causas mais críticas relacionadas à pandemia em seus territórios, como a perda de empregos e a dificuldade de alimentação adequada para as crianças, que não iam mais para creche ou para a escola”.   Pesquisa O núcleo permitiu que elas trocassem experiências relacionadas à pandemia e de um território para outro. Ainda durante a crise de saúde mundial, uma primeira pesquisa investigou como as mulheres foram impactadas pela covid-19 em três principais aspectos: trabalho remunerado, trabalho de cuidados e violência doméstica. Cerca de 150 moradoras do conjunto de 16 favelas da Maré, no Rio Janeiro, das comunidades do Jardim Colombo, no Complexo de Paraisópolis, e de Heliópolis, em São Paulo, foram entrevistadas. “Um dos destaques da pesquisa é que, no interior das comunidades o movimento de ‘ficar em casa e ficar isolado’ não era trivial, até porque essas mulheres perderam a sua renda básica, resultado do trabalho com serviços de limpeza em outras casas”, sublinha Juliana. Sem a principal fonte de renda e impossibilitadas de sair de casa, as mulheres ainda tiveram que lidar com questões relacionadas à violência doméstica e ao trabalho de cuidados, que aumentou bastante devido à falta de acesso à educação das crianças. “A possibilidade de home office não existiu para elas”, comenta a coordenadora do Núcleo Mulheres e Territórios. A segunda pesquisa focou em empreendedorismo na lente de gênero, no acesso à escola e pré-escola e no acesso às políticas públicas. Foram ouvidas 500 mulheres. Segundo Juliana, o principal achado é que, em termos de empreendedorismo liberal, é difícil conceituá-lo no contexto dos territórios vulnerabilizados. Percebeu-se que, nessas comunidades, as pessoas se reinventam constantemente e criam negócios para ter dignidade e renda. “Para as mulheres entrevistadas, o empreendedorismo vem por necessidade de acesso à renda, principalmente por serem arrimo de família”, afirma a professora. Outro dado importante do estudo é a dificuldade de acesso à creche. No Brasil, a criança de zero a seis anos tem direito à educação, mas não é obrigada a frequentar a pré-escola. “Essa é uma faixa extremamente importante de desenvolvimento da criança, portanto surge uma questão muito relevante para ser discutida”, diz Juliana. Soma-se a isso ainda a falta de informações sobre o acesso a políticas públicas. As mulheres conheciam os seus direitos, entretanto não sabiam como poderiam denunciar de maneira efetiva a violência doméstica ou como acessar os recursos para receber o próprio auxílio-creche e o auxílio gás, por exemplo. Dessa pesquisa, a partir do entendimento e da importância da rede informal de cuidados e da falta de acesso a creches para as crianças entre zero e seis anos, um dos projetos que se iniciou ainda em 2022 e se estende para 2023 é o Cuida2, criado durante o Laboratório Local de Inovação Cidadã (Labic), em outubro, no Panamá. O Cuida2 pensa o cuidado como a possibilidade de gerar conexões de confiança entre cuidadoras com competências alinhadas às necessidades de desenvolvimento da primeira infância e mães que podem continuar em seus empregos com a tranquilidade de um espaço e uma rede de pessoas pronta para apoiá-las no desafio de criar seu filho ou sua filha.   Justiça climática Em 2023, o núcleo Mulheres e Territórios tem trabalhado com o MIT em uma pesquisa sobre justiça climática, com o objetivo de entender como as mudanças causadas pelo aquecimento global atuam nas comunidadess vulnerabilizadas e interferem de maneira desigual na questão de gênero. Um primeiro diagnóstico foi feito com a colaboração de alunas da instituição americana, que aqui estiveram no início do ano. Neste mês elas retornarão para trabalhar junto com o Observatório De Olho na Quebrada, formado por moradores de 15 a 22 anos de idade de Heliópolis, que pesquisam e divulgam dados sobre os problemas e as potencialidades da favela. Também neste ano, uma parceria com a organização não governamental WWF Brasil discute a agricultura urbana dentro de territórios vulnerabilizados. O objetivo é montar um curso prático de técnicas de desenvolvimento da produção de alimentos nas comunidades de baixa renda e a realização de um projeto piloto aplicado em uma comunidade. Um terceiro projeto une o núcleo ao programa Women in Tech, do Hub de Inovação Paulo Cunha do Insper, e novamente ao Observatório De Olho na Quebrada. O grupo pesquisa as condições de conforto térmico e a sensação de bem-estar nas casas autoconstruídas e nos programas de Habitação de Interesse Social de Heliópolis. Para a realização desses projetos de pesquisas, o núcleo Mulheres e Territórios tem como premissa básica que os instrumentos de pesquisa sejam cocriados com agentes das comunidades. Esses agentes são líderes de cada região, que fazem a ponte direta com o público-alvo. Nas etapas de construção do instrumento e metodologia de pesquisa, para além do feedback, é necessário participação direta de tais lideranças para melhor adequação de aspectos que tornem a compreensão das perguntas facilitadas, especialmente em relação ao vocabulário utilizado e na adequação da metodologia de coleta de dados primários. Neste contexto, o Núcleo Mulheres e Territórios é diferenciado porque valoriza o saber das favelas e periferias do Brasil, acreditando que a participação popular em conjunto com a academia pode executar, monitorar e, principalmente, propor soluções para as demandas atuais. Essa conexão também cria a possibilidade de mudanças e transformação a partir da sociedade civil e de órgão públicos, gerando impactos na vida dos cidadãos e cidadãs de forma positiva e efetiva.  "}]