[{"jcr:title":"Laboratório Arq.Futuro quer estreitar os laços acadêmicos com centro de referência em urbanismo social"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Laboratório Arq.Futuro quer estreitar os laços acadêmicos com centro de referência em urbanismo social","jcr:description":"Insper e Universidade EAFIT avaliam novas possibilidades para difundir os conceitos de intervenções urbanas que tiraram Medellín, na Colômbia, do mapa da violência"},{"subtitle":"Insper e Universidade EAFIT avaliam novas possibilidades para difundir os conceitos de intervenções urbanas que tiraram Medellín, na Colômbia, do mapa da violência","author":"Ernesto Yoshida","title":"Laboratório Arq.Futuro quer estreitar os laços acadêmicos com centro de referência em urbanismo social","content":"Insper e Universidade EAFIT avaliam novas possibilidades para  difundir os conceitos de intervenções urbanas que tiraram Medellín, na Colômbia, do mapa da violência Alejandro Echeverri, Paulina Achurra e Tomas Alvim na Ruta N, centro de inovação e empreendedorismo em Medellín   Leandro Steiw   O Insper e a Universidade EAFIT, da Colômbia, iniciaram conversações com o objetivo de ampliar a parceria no âmbito do curso de pós-graduação em Urbanismo Social — que já conta com dois professores daquela prestigiosa instituição de ensino. Em abril, Tomas Alvim e Paulina Achurra, respectivamente coordenador-geral e coordenadora acadêmica do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, estiveram em Medellín e se reuniram para tratar do assunto com os três principais líderes do Centro de Estudos Urbanos e Ambientais (Urbam EAFIT): o cofundador Alejandro Echeverri, a diretora Natália Castaño Cardenas e o coordenador do Mestrado em Processos Urbanos e Ambientais, Juan Sebastián Bustamante Fernández. Similarmente ao Insper, a Universidade EAFIT também começou com uma escola de negócios, em 1960, mantida por doações privadas. Em 2010, já consolidada em diversas áreas do conhecimento, a EAFIT deu início a uma intensa colaboração com a equipe de profissionais do urbanismo social que transformou Medellín em referência de intervenção urbana. A chegada da equipe multidisciplinar deu origem ao Urbam EAFIT. Até a década de 1990, a segunda maior cidade da Colômbia era conhecida pela violência do tráfico de drogas e da guerra urbana deflagrada pelos cartéis de traficantes. No auge da criminalidade, a violência não distinguia as suas vítimas por classe social ou poder econômico, o que, em parte, explica a mobilização da sociedade em busca de soluções duradouras. O urbanismo social, na definição de seus criadores, consiste em intervenções efetivas em territórios de alta vulnerabilidade, caracterizados por construções e assentamentos informais e violência. Dentro da perspectiva de estreitar os laços acadêmicos entre o Insper e a EAFIT, surgiu, por exemplo, a ideia de se avaliar a possibilidade de que os alunos da pós-graduação do Laboratório Arq.Futuro de Cidades façam mais um ano de mestrado na universidade colombiana, obtendo dupla titulação. Tomas Alvim explica que a complementação dos currículos dos dois cursos ainda precisa ser desenhada, e também que é preciso avançar em questões burocráticas e regulatórias dos dois países. Outra sugestão nascida das conversas preliminares foi a de se pensar em buscar patrocínio para que os estudantes brasileiros venham a participar, futuramente, em Medellín, do renomado curso de férias em urbanismo social da EAFIT. “É uma imersão de uma semana com os especialistas que fizeram essas mudanças no desenho urbano e nas estratégias sociais de conteúdos de educação, lazer, esporte, geração de renda, capacitação e resolução de conflitos”, diz Alvim. “Existe todo um pacote que combina hardware e software de maneira muito sofisticada e muito eficiente.” Passadas duas décadas da implementação do urbanismo social em Medellín, os projetos desenvolveram uma raiz comunitária profunda e social, que superam as mudanças de comando na prefeitura. “São projetos incorporados pela sociedade, que não fazem parte de nenhum mandato de governo”, afirma Alvim. “É impressionante ver, 20 anos depois, como esses equipamentos continuam sendo efetivos no atendimento das demandas da comunidade e na transformação da sociedade. Queremos incluir esse modo de Medellín atuar também como uma atividade da nossa pós-graduação.”   Antítese da violência O Laboratório Arq.Futuro e o Urbam avaliam ainda a possibilidade de trabalharem em duas novas parcerias: um experimento de urbanismo social com a Redes da Maré, no Rio de Janeiro, e o intercâmbio de professores entre as duas instituições, em um modelo de residência temporária. A coordenadora da pós-graduação em Urbanismo Social do Insper, Eliana Sousa Silva, é fundadora e diretora da organização da sociedade civil que atua nas 16 favelas da Maré desde a década de 1980.No ano passado, a equipe do Urbam visitou o complexo da Maré, onde vivem cerca de 150.000 pessoas. “Eles se impressionaram com o trabalho da Rede”, relata Alvim. “A partir da atividade dos equipamentos que já existem no complexo da Maré, poderíamos pensar em intervenções urbanas para criar essa conexão e esse arranjo urbanístico-social mais integrador, que sempre é um problema desses territórios, porque são equipamentos que têm um conteúdo potente, mas não dialogam com o território por conta da segurança.” Para Alvim, o urbanismo social cria outra possibilidade de convivência na sociedade, que contribui para a redução da violência. “Em Medellín, eles dizem que a antítese da violência é a convivência, então essa é a estratégia”, observa o coordenador-geral do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper.  “Queremos estar mais próximos deles e, curiosamente, eles também querem estar mais próximos de nós. É admirável quando os criadores do urbanismo social reconhecem o trabalho que está sendo feito aqui no Insper.  Eles mantêm até hoje uma humildade, uma coerência e uma objetividade nos desafios, pois não acham que resolveram problema algum e dizem que ainda há muitos para resolver.” Os professores do Urbam costumam relembrar o passado brutal de Medellín, quando a cidade foi rotulada como a mais violenta do mundo, registrando 380 mortes por 100.000 habitantes em 1991 — índice reduzido, 25 anos depois, para a faixa das duas dezenas de mortes. As intervenções urbanísticas realizadas a partir de 2004 deram os primeiros passos na solução de questões decorrentes da falta de políticas públicas. “Eles salvaram a sociedade de um momento de muita dor e perda, porém continuam muito focados na evolução em desenvolvimento de projetos”, diz Alvim. A formação de profissionais especializados ajuda a perpetuar e disseminar o modelo de urbanismo social. “No fundo, essa é a nossa estratégia no Laboratório”, afirma ele. “O Núcleo de Urbanismo Social e a pós-graduação servem como um hub, uma referência de projetos na área, trabalhando na capacitação e na pesquisa e, em breve, participando também de projetos junto com comunidades, como é o caso da Maré. Isso está bem no escopo das atividades do Insper de pesquisa, ensino e extensão.”   Grafite colorido na Comuna 13, que já foi uma das áreas mais violentas de Medellín Tristes semelhanças e diferenças O caso do Complexo da Maré é emblemático na comparação com o passado na Colômbia. “No Brasil, a Maré seria a Comuna 13 de Medellín, que era a comuna do chefe do tráfico Pablo Escobar, onde também atuavam os guerrilheiros do M-19 e o Exército e a polícia entravam com brutalidade”, compara Alvim. “Em uma única operação das forças de segurança na Comuna 13, desapareceram mais de 80 pessoas, jamais encontradas. Quer dizer, é quando se perdeu o estado de direito e vive-se um nível de violência absurda.” “Um dos desafios do urbanismo social é perpetuar as intervenções no tempo”, sublinha Paulina Achurra. Ela enfatiza que, nas cidades brasileiras, são poucos os exemplos de sucesso. Na maioria das vezes, falta continuidade nas políticas públicas quando há mudança de governos ou os projetos são dimensionados incorretamente. A viagem de Alvim e Paulina à Colômbia foi complementada por visitas às comunidades locais. Ciceroneados por Alejandro Echeverri, que integra o Conselho do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, eles conheceram o Parque Explora, um dos primeiros equipamentos urbanos da Moravia — um antigo lixão que virou bairro de Medellín. “Hoje, eles têm algumas lideranças jovens com as quais nos encontramos, como a líder comunitária Cielo Holguín, que é uma figura já conhecida internacionalmente e que continua desenvolvendo esse trabalho e fazendo frente aos novos desafios”, conta Alvim. Juan Sebastián Fernández apresentou as comunas da zona Nororiental, onde foi possível conhecer a infraestrutura de transporte público, que integra as favelas ao centro urbano via metrô, metrocable e veículo leve sob trilhos (VLT), com um único bilhete de passagem. “A acessibilidade não é uma dificuldade para as comunidades mais pobres e nem para quem quer acessar esses lugares”, destaca Alvim. Por fim, o grupo foi à Comuna 13 acompanhado por Jorge Melguizo, ex-secretário de Cultura de Medellín e um dos principais articuladores das mudanças urbanísticas na cidade. Os olhares se voltaram para equipamentos como as moradias, as escolas, as bibliotecas-parques, o centro de inovação e negócios Ruta N e as Unidades de Vida Articulada (UVA), espaços públicos multifuncionais que aproveitam áreas urbanas ociosas. O coordenador-geral do Laboratório Arq.Futuro analisa: “Todas são comunidades que saíram de uma precariedade e violência extremas para uma potência identitária, cultural, social e econômica. Assim como nas nossas comunidades, ainda existem problemas, no entanto há muito mais inclusão, dignidade e oportunidades do que no Brasil. E a qualidade dos equipamentos e dos programas instalados é o diferencial de tudo. Foi empregada uma arquitetura de primeiríssima linha, como no caso das famosas bibliotecas-parques, o equipamento mais icônico dessa estratégia de urbanismo social”. Uma característica peculiar do processo de transformação urbana de Medellín é a participação ativa da Empresas Públicas Municipais (EPM), grupo empresarial controlado pela prefeitura, que fornece diversos serviços públicos nas áreas de energia elétrica, água, esgoto, gás encanado, resíduos sólidos e telecomunicações. “É uma empresa altamente lucrativa, com capacidade de investimento consistente ao longo do tempo e que deu a Medellín uma flexibilidade de atuação muito única”, explica Alvim. “Essa visão mais integrada e sistêmica das políticas públicas foi possível muito por causa dessa empresa, que se diferencia bastante de qualquer arranjo que tenhamos no Brasil.” São Paulo poderia dar nova escala ao movimento do urbanismo social na visão do Urbam EAFIT. A dimensão da capital paulista torna os problemas exponenciais, e os projetos bem-sucedidos podem se tornar referência mundial. “Este também é o desafio que temos aqui para o Brasil: encontrar políticas públicas que contemplem essa convergência de desenho urbano, de moradia, de infraestrutura e de políticas públicas sociais; que, efetivamente, sejam acolhedoras e transformadoras da vida das pessoas que mais precisam delas”, acredita Alvim. Para contribuir na divulgação do conceito notabilizado pela experiência de Medellín, o Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper lançou, em março, o  [ Guia de Urbanismo Soci al](https://www.insper.edu.br/noticias/insper-e-diagonal-lancam-o-guia-de-urbanismo-social-publicacao-pioneira-nesse-genero-no-brasil/) , em parceria com a consultoria de gestão socioambiental Diagonal. A obra, com o selo da BEĨ Editora e organizada pelo urbanista e professor Carlos Leite, é uma publicação digital pioneira no gênero dedicada ao estudo desse tema no Brasil.  "}]