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Ser um humano analógico não fere o meu lado digital

Ter consciência de que o mundo começou antes de nós e continuará depois de nós é um dos aprendizados valiosos para construirmos um legado para nosso usufruto e o das próximas gerações

Ter consciência de que o mundo começou antes de nós e continuará depois de nós é um dos aprendizados valiosos para construirmos um legado para nosso usufruto e o das próximas gerações

   

Renata Frischer Vilenky*

 

O título deste texto remete à letra de uma música cantada por Pepeu Gomes nos anos 1980 — “ser um homem feminino não fere o meu lado masculino” — e traz a reflexão de que a transição exige uma série de atributos que precisamos aprender ou minimamente entender, para nos ajudar a construir uma jornada mais robusta na vida pessoal e profissional, a ter referências diversas para evitar a miopia que pode nos aprisionar ou estagnar em visões distorcidas sobre o que estamos vivendo, ou ainda nos lembrar de que o mundo tem vários tons de cinza, e defini-lo em preto e branco pode ser apenas uma imposição da nossa visão.

Avaliar nosso modelo mental e entender o valor de conhecer a história nos ajuda a perceber que muito do que temos hoje é uma melhoria do que já existia antes de estarmos neste planeta, e muita gente trabalhou para evoluir, inovar ou até mesmo desconstruir a utilidade daquele produto ou serviço, oferecendo uma nova roupagem, uma nova perspectiva ou simplesmente encerrando seu ciclo.

Aprender e desenvolver a consciência de que o mundo começou antes de nós e continuará depois de nós é um dos aprendizados valiosos para construirmos um legado para nosso usufruto e das próximas gerações.

Então, vamos falar de exemplos práticos e entender como isso acontece na realidade:

  1. A hype do conceito de metaverso, que já deu lugar para o ChatGPT, porém continua sendo uma tecnologia importante para o mundo atual, nasceu nos anos 1990, com a publicação do livro Snow Crash: Hiro, um entregador de pizza, para viver aventuras diferentes do seu cotidiano e até libertar muito do seu emocional, tem uma vida paralela no metaverso, onde é um herói e consegue, com seu avatar, livrar o mundo de pessoas más.
  2. A inteligência artificial que fundamenta as melhorias alcançadas no ChatGPT nasceu nos anos 1950, em um laboratório da Carnegie Mellon, onde cientistas queriam construir máquinas capazes de reproduzir a capacidade humana de pensar e agir.
  3. A realidade virtual, muito aplicada em games e que está entrando em novos segmentos da atualidade, começou por volta de 1930, com a criação do primeiro simulador de voo comercial construído por Edward Link. Nele, um equipamento controlado por motores tinha um leme que simulava turbulências e se chamava Link Trainer.
  4. Os testes de irrigação por precisão que vêm sendo feitos na agricultura com instalação de equipamentos de IoT, uma rede de sensores sem fio que coletam dados agronômicos e de umidade do solo em diferentes áreas e profundidades, e avaliam a necessidade de irrigação das plantas, são uma evolução da irrigação por gotejamento que nasceu nos anos 1980 em Israel, com o princípio de economia inteligente dos recursos hídricos.
  5. Os robôs que temos visto, desde a Roboteria, robôs que fazem sorvetes até robôs humanoides da Boston Dynamics que saltam, são a evolução dos primeiros conceitos de robôs criados na década de 1920 em uma peça teatral do dramaturgo tcheco Karel Čapek, na qual um cientista criou uma máquina inteligente para realizar as tarefas mais difíceis do homem.
  6. A automação industrial que conhecemos hoje começou sua trajetória na revolução industrial do século XVIII, quando muitos serviços artesanais começaram a ser desenvolvidos por máquinas e os primeiros dispositivos semiautomáticos foram criados.
  7. A impressão 3D, que ainda é bastante embrionária frente ao seu potencial, que vai da impressão de comida a impressão de roupa, começou na década de 1980 com o primeiro pedido de patente para tecnologia de prototipagem rápida feito pelo designer Hideo Kodama, no Japão. A prototipagem rápida era um método mais econômico para a criação de protótipos para desenvolvimento de produtos na indústria.
  8. O próprio conceito da internet vem da década de 1960 com a criação, nos Estados Unidos, da Arpanet, que tinha a função de integrar vários laboratórios de pesquisa, agilizando a troca coletiva de informações.
  9. O trabalho remoto, que tanto falamos que foi acelerado pela pandemia, tem o seu conceito inicial na década de 1850, quando nasceu nos Estados Unidos o telégrafo, um sistema de transmissão e recepção que utilizava eletricidade para enviar mensagens codificadas através de fios. Para a realização dessa atividade, não importava onde o operador estivesse, desde que existisse a infraestrutura necessária. Como o envio e recebimento de mensagens poderia acontecer a qualquer horário, trabalhar em casa não era apenas uma possibilidade, mas uma necessidade.
  10. A videochamada nasceu na década de 1960 em uma feira tecnológica nos Estados Unidos, onde o laboratório Bell, da AT&T, apresentou um aparelho chamado Picturephone. Na apresentação, o visitante tinha de entrar em uma cabine e discar para o número de telefone fixo. Quando a ligação era completada, a pessoa apertava um botão indicado com um “V” para ativar o vídeo. Uma câmera pequena capturava a imagem da pessoa e mostrava em outro Picturephone à pessoa do outro lado da linha.
  11. Os foguetes de hoje tiveram suas origens como protótipos na China durante a dinastia Sung, entre 960 e 1279 d.C., desenvolvidos por alquimistas chineses que se surpreenderam com um truque que deu errado: o fogo de artifício. O Ti Lao Shu (“rato terrestre”, em português) era um fogo de artifício feito a partir de um tubo de bambu cheio de pólvora que disparava por todas as direções pelo chão. Ele apareceu pela primeira vez no final do século XII, no livro Rustic Tales in Eastern Ch’i, em que o escritor descreveu o artefato que se incendiava, como um “verdadeiro foguete” — numa alusão às lanças voadoras com fogo atiradas contra os mongóis que cercavam a cidade de Kai-feng-fu em 1232.

E por que é tão importante conhecermos essas histórias e origens do que temos no digital atualmente?

Antes de tudo, isso nos traz a realidade de que há muito tempo já existem pessoas testando, evoluindo e pesquisando melhorias para o nosso cotidiano. Assim, sabendo disso, vem o questionamento sobre qual o nosso papel transformador a partir de todas essas facilidades que já recebemos de quem veio antes de nós?

Em tempos em que “propósito” é a fala de tantas pessoas, e aprender, reaprender, desaprender e responsabilidade são avaliados em todas as nossas ações com o contexto ao redor, pense com carinho: quanto vale você respeitar e conhecer o mundo analógico para fomentar, melhorar e inovar no mundo digital?

Faça a sua análise e avalie se o caminho do meio pode ser uma alternativa saudável para coexistir com o melhor dos mundos e comportamentos, permitindo a livre escolha de modelos de negócio e vida por cada ser humano.

 


Renata Vilenky

* Renata Frischer Vilenky é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. É conselheira de estratégia e inovação e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books Artificial: Uma Oportunidade para Você Aprender e Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio, ambos publicados pela Expressa Editora.

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