Relatório do BID aponta baixa participação feminina no topo da hierarquia do setor público. O Brasil tem o pior índice entre países da América Latina e do Caribe
Bernardo Vianna
O relatório Mulheres líderes no setor público da América Latina e do Caribe: lacunas e oportunidades, publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em dezembro de 2022, aponta que essa é a parte do mundo com maior proporção de países com paridade de gênero em cargos de liderança do setor público — a equidade entre gêneros foi observada em 64% dos países da região. Além disso, em 18% deles há mais mulheres do que homens em cargos públicos de liderança. O Brasil, porém, encontra-se no grupo formado pelos 18% restantes, o dos países com menos mulheres em cargos públicos de liderança do que o esperado.
Segundo a publicação, se não for suficiente o argumento da garantia da equidade, há um amplo conjunto de evidências que indicam uma correlação positiva entre mais mulheres em cargos públicos de liderança e “maior crescimento econômico, igualdade de gênero e maior investimento social em educação, saúde e proteção ambiental”. A análise feita pelo BID, porém, aponta que a presença de mulheres em cargos de decisão da gestão pública ainda está muito aquém do necessário para que haja paridade de gêneros em países como o Brasil e a Guatemala.
Na administração pública dos países analisados, as mulheres representam 52% da força de trabalho. No entanto, ao fazer o recorte de nível hierárquico dos cargos, percebe-se que elas ocupam apenas 24% dos cargos de nível 1, equivalente, no Brasil, ao cargo de ministro. Em comparação, as mulheres ocupam 44,2% dos carros de nível 4, o correspondente a um subsecretário no Brasil.
A análise mostra, além disso, que a presença de mulheres é limitada também horizontalmente, inclusive em países nos quais a participação delas é maior, pois tende a concentrar-se em áreas associadas a estereótipos tradicionais de gênero. Nos países latino-americanos e caribenhos observados, a presença de mulheres é maior em áreas como educação (47%) e desenvolvimento social (57%), mas cai drasticamente em áreas como economia (31%) e defesa nacional (27%).
A análise do BID conclui recomendando que os países da América Latina e do Caribe exijam “uma agenda de gênero mais ambiciosa nos cargos de liderança do setor público”. De acordo com o documento, “isto significa não apenas uma presença numérica, mas também a eliminação da segregação vertical e horizontal, que continua sendo evidente na região. Além disso, é necessário promover a participação ativa das mulheres para aproveitar o efeito positivo que elas têm demonstrado gerar nas organizações públicas e na economia”.