Desenvolvido por encomenda da Dell, o protótipo permite que uma pessoa fotografe uma lesão na pele e receba de volta uma mensagem apontando se há risco de estar com um tumor
Tiago Cordeiro
Um terço dos diagnósticos de câncer no Brasil acontece na pele. São cerca de 185 mil novos casos ao ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), sendo que o melanoma, a versão mais agressiva, atinge 8.400 novos casos anuais. Como acontece com tumores, o diagnóstico tardio é um dos principais fatores de risco.
Foi nesse contexto que a Dell Technologies encomendou ao Insper um PFE capaz de agilizar o diagnóstico para câncer de pele. A multinacional americana desenvolve desde soluções de nuvem híbrida e computação de alto desempenho até iniciativas de impacto social e sustentabilidade, combinando análise e integração de dados em tempo real.
A área da empresa que conduziu a interação com o Insper é a de Consultoria em Data Analytics, responsável por arquitetar e executar projetos que buscam revolucionar o mercado por meio de soluções baseadas em aprendizado de máquina, inteligência artificial, engenharia de dados, processamento distribuído e DevOps/DataOps/MLOps, entre outros domínios.
O desafio apresentado a um grupo de alunos em fase de desenvolver o Projeto Final de Engenharia consistia na criação de um protótipo para um sistema capaz de fazer um diagnóstico prévio de um possível caso de câncer de pele. A partir de uma foto de uma lesão, o software teria que ser capaz de mapear diferentes características, com diâmetro do melanoma, características da borda e diferença da cor. Assim, apontar um possível diagnóstico.
A iniciativa aproxima a engenharia de computação da área de saúde, uma importante tendência global, e fortalece o PFE, que é um dos marcos de conclusão do processo de formação do engenheiro do Insper, aproximando, por meio de desafios reais, os alunos das organizações, para que desenvolvam soluções voltadas a demandas e necessidades genuínas das empresas e da sociedade.
“A Dell quis desenvolver uma prova de conceito para o problema de identificação e classificação de lesões de pele baseado em imagens. O protótipo deveria permitir que um usuário fotografasse uma lesão de pele com seu celular e o sistema deveria então determinar se a imagem corresponderia a uma lesão cancerígena. Caso a possibilidade de câncer estivesse presente, o sistema sugeriria ao usuário que fizesse uma consulta com um especialista”, explica o orientador do projeto, Fábio Jose Ayres, professor do Insper envolvido no desenvolvimento dos cursos de Engenharia e que atua com visão computacional, aprendizado de máquina, processamento de imagens, recuperação de informação e computação de alto desempenho.
O grupo foi composto por quatro alunos de Engenharia de Computação: Carlos Eduardo Dip, Fernando Cesar Furtado Ballesteros Fincatti, Gabriella Escobar Cukier e Samuel Naassom do Nascimento Porto. Eles tiveram autonomia para estabelecer a rotina de comunicação com a Dell, na figura do mentor técnico atribuído ao projeto. “Nessas comunicações, ficou claro que a empresa demonstrou satisfação com o projeto”, afirma Ayres, que avalia que a prova de conceito se mostrou bem sucedida.
É possível que a iniciativa seja transformada em um produto para uso amplo na rede de saúde? “O desenvolvimento de um produto com implicações diagnósticas é um processo bem extenso e caro, posto que demanda testes clínicos com alto rigor de confiabilidade”, responde o professor do Insper.
“Para transformar o esforço dos alunos em um produto, faz-se necessário um alto grau de investimento, e a parceria de clínicas e hospitais que possam viabilizar a coleta de dados e a avaliação do produto segundo parâmetros das agências reguladoras de saúde envolvidas e dos Conselhos de Medicina pertinentes”. De outro lado, ele aponta, “o projeto poderia ter continuidade acadêmica com dados abertos, como foi feito nesta iteração do projeto”.