
A próxima onda de mostras imersivas em São Paulo digitaliza e conta a história da artista plástica mexicana
Leandro Steiw
Depois de Salvador, na Bahia, é a vez de São Paulo receber a exposição Frida Kahlo: Uma Biografia Imersiva, que conta a história da pintora mexicana por meio de luzes, sons e projeções de vídeo. Até o dia 30 de abril, será possível conhecer parte da vida da mulher que se tornou famosa por seus retratos e autorretratos inspirados na arte popular, incorporados à estética surrealista, e que conviveu com personalidades relevantes da história do século 20.
A organização da mostra esclarece que não há pinturas originais de Frida, como se esperaria de uma exposição de artes plásticas. A proposta é retratá-la “por meio de coleções de fotografias históricas, filmes originais, ambientes digitais, instalações artísticas e itens de colecionador, além de música original criada para reproduzir os momentos mais relevantes da vida da artista, convidando os visitantes a descobrir a incrível história por trás desse mito”.
Mito é uma expressão adequada. Nascida em 6 de julho de 1907, em Coyoacán, seguiu a carreira de pintora porque precisava de trabalho. Ela queria ser médica, mas um acidente de ônibus deixou-a tão marcada fisicamente que precisou abandonar o sonho. Durante a recuperação, dedicou-se à produção dos primeiros quadros. No livro Frida: A Biografia, a autora Hayden Herrera conta que a jovem artista procurou o já renomado pintor Diego Rivera (1886-1957) em busca de uma opinião sincera sobre o seu talento. Rivera ficou realmente impressionado e disse para Frida continuar pintando. Tempos depois, os dois se casariam.
Essa é uma versão, claro, muito resumida dos primeiros anos de artista de Frida, influenciada por uma infância no interior de uma família triste e de relacionamento difícil — na Casa Azul de seus pais, Matilde e Guillermo, viviam também as suas três irmãs. Aos seis anos, Frida teve poliomielite, passou nove meses presa em um quarto e ficou com uma perna desfigurada. Aos 18, sofreu o acidente no ônibus, quando foi empalada por uma barra de ferro, que quebrou sua coluna. A dor dessas fatalidades tornou-se parte da sua obra.
Em Frida: A Biografia, há uma declaração da pintora sobre aquele momento: “É mentira que a pessoa tem consciência da batida, é mentira que a pessoa chora. Em mim não houve lágrimas. A colisão nos jogou para a frente e um corrimão de ferro me varou do mesmo jeito que uma espada rasga a carne do touro”. Os médicos não acreditavam que ela sobreviveria. Como artista e mulher, não é o instante mais importante da vida de Frida, mas é significativo o suficiente para compreender o que ela criaria nos 29 anos seguintes.
A biógrafa Hayden Herrera observa que, embora Frida retratasse a morte (a sua e a dos outros), nunca conseguiu pintar aquela colisão entre o bonde e o ônibus. Porém, teria tentado. “Anos depois, ela disse que até tinha tido a intenção, mas não conseguira porque o acidente era ‘complicado’ e ‘importante’ demais para ser reduzido a uma única imagem compreensível”, escreve Hayden. No hospital, Frida adiantou a um amigo o que seria a sua temática persistente: “A morte dança toda noite em volta da minha cama”.

Frida circulou entre nomes díspares como o revolucionário Leon Trotsky, os megaempresários Henry Ford e Nelson Rockfeller, os poetas Pablo Neruda e André Breton e o artista plástico Marcel Duchamp, entre tantos. Na vida íntima, relacionou-se com homens e mulheres. Na vida profissional, foi tardiamente reconhecida — a sua primeira grande exposição no México foi realizada só um ano antes de falecer. Frida morreu, em 13 de julho de 1954, em sua cama na casa de Coyachán, a mesma onde nasceu.
O material de divulgação da exposição imersiva lembra que as influências de Frida estão mais atuais do que nunca, agora também como ícone da arte e do feminismo. “Sua vida encanta, surpreende e inspira por meio de uma biografia que revela uma mulher capaz de superar adversidades graças à sua perseverança, força, rebeldia e talento, com uma personalidade inigualável, à frente de seu tempo”, sintetizam os organizadores.
Frida Kahlo: Uma Biografia Imersiva está dividida em 10 ambientes e dura cerca de 90 minutos. O visitante verá uma holografia que recria o acidente e uma instalação que tenta imaginar os sentimentos da pintora durante o processo de recuperação. Em mil metros quadrados de telas de projeção, passeia-se entre imagens dos retratos e autorretratos de Frida — é onde se consolida a ideia da mostra imersiva. Há ainda um ambiente que reproduz a sala de pintura de Frida. Não há quadros reais da artista — não custa lembrar mais uma vez.
Local:
Shopping Eldorado (Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, São Paulo).
Horários:
– Segunda a sábado, das 10h às 22h.
– Domingo, das 11h às 21h.
Preços:
– Segunda a quinta-feira: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia).
– Sexta a domingo e feriados: R$ 130 (inteira) e R$ 65 (meia).
– VIP Experience: R$ 170 (atividade de realidade virtual, entrada sem filas, sem horário marcado e brindes).