A professora Bianca Tavolari participou de uma live sobre o primeiro romance lançado no Brasil da escritora libanesa Hanan al-Shaykh
Quatro pessoas que não se conhecem compartilham o mesmo avião em uma turbulenta viagem de Dubai a Londres. Lamis é uma iraquiana recém-divorciada do marido muito mais velho, com quem havia se unido em um casamento arranjado. Amira é uma garota de programa marroquina que exerce seu ofício em hotéis em um bairro da classe alta em Londres. Samir é um libanês gay que está contrabandeando um macaco em troca de dinheiro. Nicholas é um inglês fascinado pelo mundo árabe e que viaja com frequência para Omã. Depois dessa viagem, as vidas das quatro personagens vão se entrelaçar intensamente em Londres — a cidade que é uma espécie de quinta personagem onipresente no livro.
Esse é o pano de fundo do livro Gente, isso é Londres, o primeiro romance traduzido para o português de Hanan al-Shaykh, escritora libanesa que nasceu em Beirute, em 1945, e que vive desde 1982 na capital britânica, onde se refugiou por causa da guerra civil libanesa. É considerada uma das maiores escritoras árabes contemporâneas. Tem mais de 15 livros publicados, entre romances e contos, traduzidos para mais de 20 idiomas.
Nascida em uma família muçulmana xiita conservadora, Hanan al-Shaykh recebeu sua educação primária em Beirute e frequentou o Colégio Feminino Americano no Cairo, no Egito. Começou sua carreira de escritora aos 17 anos, publicando ensaios no jornal libanês An-Nahar. Seus contos e romances apresentam personagens femininas diante de tradições religiosas conservadoras em um cenário de tensão política e instabilidade causada pela guerra civil.
Gente, isso é Londres (o título em inglês é Only in London) retrata de forma bem-humorada os cheiros, os sons e as paisagens dos animados bairros árabes da capital britânica, bem como as liberdades que a cidade oferece — e nega — aos seus imigrantes. O livro foi tema de uma live realizada no dia 9 de fevereiro pela editora Tabla, que publicou a versão em português do romance de Hanan al-Shaykh. Bianca Tavolari, professora do Insper, participou de um bate-papo com a escritora Nara Vidal, mediado pela técnica em educação Mona Perlingeiro.
Durante a live, que pode ser vista na íntegra neste link, a professora Bianca comentou sobre a sensação de desorientação que temos quando desembarcamos em um aeroporto movimentado e cruzamos com pessoas de diferentes origens e culturas. Para nos localizarmos nessa azáfama de gente e barulho, sentimos a necessidade de nos guiar pelas placas de indicação.
Samir, uma das personagens do livro, tem essa sensação de desnorteamento quando chega a Londres e fica ainda mais confuso quando anda pelas ruas da cidade e vê lojas com nomes escritos em árabe. “Há uma quebra de expectativa. Ele se deslocou no tempo e no espaço e esperava encontrar o que imaginava ser Londres, mas acaba encontrando referências que o fazem lembrar de Beirute”, observou a professora Bianca.
“Há uma coisa que acho interessante no livro, cujo título parece ter duplo sentido. Primeiro é a ideia de que o livro não é sobre Londres vista por imigrantes. Londres é isso. A visão desses personagens constitui Londres enquanto cidade. É um universo inteiro dentro de uma cidade.”
Em sua seção da revista literária Quatro cinco um, Bianca publicou recentemente uma resenha do livro de Hanan al-Shaykh. No texto, a professora do Insper comenta: “Gente, isso é Londres nos leva pelas ruas da cidade a partir de quatro olhares imigrantes e deslocados. Seus entrecruzamentos revelam projetos e negociações distintos com o mundo e levam a situações curiosas e engraçadas geradas pelas estratégias de sobrevivência.”
Gente, isso é Londres
Editora Tabla, 365 págs, R$ 83