[{"jcr:title":"Fronteiras do Pensamento debate grandes temas do mundo contemporâneo"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Fronteiras do Pensamento debate grandes temas do mundo contemporâneo","jcr:description":"O professor Fernando Schüler fala sobre as novidades e os planos do projeto cultural que já reuniu mais de 300 conferencistas de diferentes áreas do conhecimento"},{"subtitle":"O professor Fernando Schüler fala sobre as novidades e os planos do projeto cultural que já reuniu mais de 300 conferencistas de diferentes áreas do conhecimento","author":"Ernesto Yoshida","title":"Fronteiras do Pensamento debate grandes temas do mundo contemporâneo","content":"O professor Fernando Schüler fala sobre as novidades e os planos do projeto cultural que já reuniu mais de 300 conferencistas de diferentes áreas do conhecimento     O [Fronteiras do Pensamento](https://www.fronteiras.com/sobre) é uma iniciativa cultural que, desde 2006, vem reunindo pensadores influentes em ciclos de conferências para debater temas atuais, questionando e explorando ideias que impactam a sociedade, a economia e a vida cotidiana. Nesse período, já promoveu mais de 300 conferências, produziu cerca de 500 horas de conteúdo e impactou mais de 300 mil pessoas. O criador e curador do projeto é o cientista político [Fernando Schüler](https://www.insper.edu.br/pesquisa-e-conhecimento/docentes-pesquisadores/fernando-schuler/) , professor do Insper. Sua atuação no Fronteiras é voltada à orientação intelectual, que envolve a definição dos temas e seleção dos conferencistas. Na entrevista a seguir, Schüler faz um balanço das atividades do Fronteiras, comenta alguns momentos marcantes que vivenciou em 17 anos de trajetória e fala sobre planos para 2024.   Poderia fazer um balanço do que o Fronteiras do Pensamento fez de mais interessante ao longo de 2023? O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural que existe há 17 anos, um projeto plural que traz ao Brasil pensadores de destaque na cena contemporânea. A cada ano, traçamos uma proposta curatorial única, sem pretensão de chegar a um consenso ou a uma resposta definitiva. Neste ano, a questão central foi a ideia de “caos e ordem”. Uma provocação que fizemos sobre a incerteza que pauta o mundo contemporâneo, a tensão que existe hoje em diversas questões que envolvem a ciência e o próprio avanço tecnológico, a inteligência artificial, os riscos da tecnologia e seu efeito sobre a psique das pessoas. Contamos com a participação de vários intelectuais importantes, como o historiador [David Wengrow](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/reinterpretando-a-historia) , cujas descobertas arqueológicas redefinem alguns aspectos da história da civilização ocidental. Também tivemos a presença marcante de [Michael Sandel](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/desafiando-a-fe-no-mercado-e-a-perda-de-valores-na-politica-atual) , autor do livro sobre os descontentes da democracia, que provocou reflexões sobre as demandas de justiça no cenário contemporâneo. A questão central que norteou muitas das discussões foi a forma como a democracia reage diante das novas tecnologias, um tema crucial com a explosão na participação de cidadãos e o mal-estar percebido em relação a novas demandas. Surgiram questionamentos sobre como construir uma base de consenso ético em uma sociedade plural, abordando temas como tolerância e democracia. Trouxemos também [Douglas Rushkoff](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/o-outro-lado-do-mundo-digital) , intelectual especializado na era digital. Ele apresentou análises sobre os riscos associados às novas tecnologias e abordou questões como algoritmos e realidade virtual. Tivemos a presença impactante de [Nadia Murad](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/que-eu-seja-a-ultima) , vencedora do Prêmio Nobel da Paz. Ela contou sua história única —foi vendida como escrava sexual, conseguiu passar por um processo de superação pessoal e hoje dirige uma importante fundação que trata de como as mulheres são usadas como instrumentos de guerra por grupos terroristas e fundamentalistas. Em resumo, o Fronteiras do Pensamento ofereceu em 2023 uma riqueza de debates, consolidando sua tradição de trazer à tona questões filosóficas e temas relacionados aos direitos humanos, com um olhar prospectivo sobre o mundo contemporâneo.   Quais foram as novidades introduzidas no decorrer deste ano? Em 2023, o Fronteiras apresentou uma iniciativa inovadora: sua plataforma digital, concebida como um canal de ideias. O Fronteiras+ abriga um vasto acervo de imagens. São filmagens, gravações, edições, entrevistas e documentários, acumulados ao longo dos anos. Esse rico arquivo está sendo disponibilizado ao público, juntamente com produções inéditas. Além disso, há o Mundo Livro, um clube de leitura que se propõe a discutir obras fundamentais para a compreensão do mundo atual. A ideia é realizar uma viagem pelo cenário contemporâneo por meio de livros, que incluem tanto obras de ficção quanto de não ficção. O Mundo Livro busca não apenas a diversidade de visões, mas também a consistência, selecionando obras que marcaram épocas e autores que deixaram um impacto significativo.   Já foi definido o tema central que será explorado pelo Fronteiras em 2024? Para o próximo ano, estamos na fase final das definições curatoriais. Embora ainda não possa revelar nomes neste momento, é possível dizer que será uma das mais impactantes temporadas da história do Projeto. O Fronteiras possui um histórico significativo de trazer personalidades notáveis de diversas áreas. Já tivemos conferências com mais de 20 laureados com o Prêmio Nobel de Economia, assim como escritores e intelectuais do porte de [Amartya Sen](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/amartya-sen) , o biólogo [Richard Dawkins](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/richard-dawkins) , o escultor [Richard Serra](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/richard-serra) e o jornalista [Tom Wolfe](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/tom-wolfe) . No próximo ano, podemos afirmar que teremos uma programação bastante rica, continuando a tradição de promover reflexões relevantes sobre os desafios atuais.   Qual o critério utilizado na seleção dos conferencistas? A ênfase está na pluralidade de ideias? O principal critério para a escolha dos conferencistas no Fronteiras é a qualidade da produção intelectual, incluindo a maturidade e relevância do trabalho. Priorizamos intelectuais com uma obra consolidada ou uma história de vida significativa, como são os casos da ativista Nadia Murad ou do médico [Denis Mukwege](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/denis-mukwege-conferencistas-fronteiras-do-pensamento-2019) , ambos laureados com o Nobel da Paz. Ao longo de sua história, o Fronteiras tem explorado questões fundamentais como tecnologia, meio ambiente, filosofia e história, trazendo pensadores e historiadores de destaque, como [Paul Kennedy](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/paul-kennedy) e [Niall Ferguson](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/niall-ferguson) . O francês [Luc Ferry](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/luc-ferry) , um amigo recorrente do projeto, é um exemplo da diversidade de abordagens filosóficas. O Fronteiras busca não apenas a pluralidade de ideias, mas também a convergência em torno de grandes temas, desafiando os participantes a responderem a uma questão central. Isso se reflete na presença de figuras como [Rosa Monteiro](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/rosa-montero) , uma escritora e jornalista espanhola premiada, cujo olhar incorpora a perspectiva única de alguém que transitou entre a reportagem e a literatura ao longo de sua carreira. Em síntese, a convergência em torno de um grande tema é o que confere unidade ao projeto, permitindo a inclusão de diferentes perspectivas. A proposta é criar um caleidoscópio de visões de mundo, oferecendo aos espectadores um convite para aprofundar a reflexão, desligando-se um pouco da instantaneidade tecnológica e explorando o prazer da cultura.   Como a tecnologia está impactando a própria atuação do Fronteiras? Com o lançamento da plataforma digital, a tendência é priorizar cada vez mais o conteúdo online? A pandemia foi uma experiência crucial, impulsionando a migração para o digital, uma trajetória compartilhada por muitos setores da educação e cultura. Apesar do retorno parcial ao presencial após a pandemia, preservamos as lições aprendidas na interseção entre o presencial e o digital. Neste ano, já observamos uma divisão equitativa entre o público presencial e o digital. Nos próximos anos, se manterá a tradição das conferências presenciais, mas com ênfase crescente na participação online. A perspectiva é atrair uma audiência mais global, pois o projeto tornou-se acessível a participantes de todo o Brasil, da América Latina e de qualquer parte do mundo, graças à plataforma digital. Essa tendência para o futuro sugere a coexistência de eventos presenciais e virtuais, o que implica ajustes na linguagem, nos cenários e na adoção de tecnologias facilitadoras. Em suma, acredito que a trajetória do Fronteiras do Pensamento deve ficar na confluência entre o presencial e o digital.   Desde a criação do Fronteiras, você entrevistou inúmeras personalidades de destaque. Houve alguma que o tenha impactado de maneira especial? Muitas, muitas. O Fronteiras tem várias histórias memoráveis. Uma das figuras notáveis foi [Christopher Hitchens](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/christopher-hitchens) , um intelectual que se foi muito cedo, mas marcou o debate global na virada do século. Sua visita foi especialmente marcante porque, pouco depois, infelizmente, ele veio a falecer de câncer. Durante sua participação, compartilhou conosco sua perspectiva única, e essa conferência se tornou uma das últimas oportunidades para o público brasileiro interagir com esse importante pensador. Outro episódio de destaque foi a presença da autora [Ayaan Hirsi Ali](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/ayaan-hirsi-ali) , conhecida por seu livro Infiel . Hirsi Ali é uma mulher de notável coragem. Foi vítima do fundamentalismo islâmico, escapou de um casamento forçado e posteriormente se tornou uma destacada deputada. Sua participação no Fronteiras demandou não apenas a preparação intelectual, mas também um elaborado esquema de segurança devido às ameaças que enfrentou, reminiscentes do caso de [Salman Rushdie](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/salman-rushdie) — que, aliás, é um dos nomes que estamos convidando para voltar ao Fronteiras. Tivemos também o privilégio de receber [Mario Vargas Llosa](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/passado-presente-e-literatura) em um momento único. Uma semana antes de sua conferência no Brasil, em 2010, ele foi anunciado como vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Sua presença no Fronteiras foi a primeira aparição pública após a conquista do prêmio, um momento de celebração da literatura latino-americana que atraiu a atenção de jornalistas de todo o mundo. Outra pessoa que marcou muito foi cineasta [David Lynch](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/david-lynch) . Foi muito interessante porque, quando veio ao Brasil, ele quis fazer uma conferência não sobre o cinema, mas sobre meditação transcendental. Então, obviamente, ele falou sobre cinema, porque todo mundo queria ouvi-lo falar sobre cinema, mas a primeira parte da conferência foi dedicada a meditação transcendental. Lynch gostou tanto do Fronteiras que topou gravar um filme de curta-metragem que fizemos, chamado “Red Fish” ( [Peixe Vermelho](https://www.andreiavigo.com/peixe-vermelho) ), dirigido por Andreia Vigo. É o único filme feito no Brasil em que David Lynch participa como ator. Ele ficou vários dias em Porto Alegre para a gravação do filme. Vivenciamos também situações de conflitos intelectuais, que fazem parte da dinâmica muitas vezes tensa do mundo das ideias. Um exemplo foi a acalorada discussão entre dois grandes dramaturgos, [Gerald Thomas](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/gerald-thomas) e [Fernando Arrabal](https://www.fronteiras.com/assista/exibir/a-louise-bourgeois-que-conheci) . A ideia era reuni-los no palco para um debate sobre o teatro contemporâneo. No entanto, a intensa divergência de visão teatral, em especial em torno da obra de Beckett, levou a uma discussão acesa e ao cancelamento do debate conjunto. No final, foram duas conferências em separado. Outro episódio memorável envolveu o russo [Garry Kasparov](https://www.fronteiras.com/descubra/pensadores/exibir/garry-kasparov) , que é reconhecido não apenas como enxadrista, mas também como intelectual e dissidente político. Em um momento de improvisação, o desafiamos para participar de uma partida contra mais de 30 enxadristas brasileiros. Kasparov derrotou a todos, exceto um dos oponentes, que conseguiu um empate. A repercussão desse feito rendeu notoriedade ao jogador que não perdeu de Kasparov. O Fronteiras é repleto de histórias curiosas e fascinantes como essa.  "}]