Quanto mais recursos livres à disposição uma empresa listada em Bolsa detinha durante a última recessão brasileira, melhor em regra foi o seu desempenho operacional. Essa tendência foi verificada concentradamente nos setores de saúde e utilidade pública.
Avaliar o impacto da gestão de caixa de companhias brasileiras no contexto econômico recessivo foi o objetivo do estudo dos pesquisadores do Insper Adriana Bortoluzzo e Mario Ferreira, com seu colega Mauricio Bortoluzzo, da Saint Paul Escola de Negócios.
A possibilidade de a empresa acessar imediatamente recursos financeiros próprios é objeto de controvérsia. Uma parte da literatura entende que manter caixa acima do necessário para cobrir obrigações de curto prazo seria perder oportunidades de negócios.
Outra vertente postula tratar-se de medida de cautela, que suaviza o impacto de crises setoriais ou macroeconômicas na operação empresarial. Crises econômicas têm sido comuns no Brasil, onde ocorre em média uma recessão a cada quatro anos desde 1980.
A fim de avaliar essas cogitações numa situação concreta, Adriana, Mario e Mauricio analisaram como evoluiu o resultado de 200 empresas listadas na B3 no mais recente ciclo recessivo, que se estendeu do segundo trimestre de 2014 e ao quarto de 2016.
O ano fiscal anterior ao início da crise, 2013, foi o ponto de partida da comparação. O ROA (resultado sobre ativos, em inglês) foi tomado como medida do resultado operacional, e o “market to book” (divisão do valor acionário pelo contábil), como parâmetro da visão da empresa pelo mercado.
A análise econométrica confirmou a hipótese dos autores de que o resultado operacional nesse período foi maior quanto maior foi o caixa da companhia. Não detectou essa relação, entretanto, para o indicador “market to book”.
Ao segmentar as empresas por ramo de atuação, o trabalho conclui que a correlação positiva entre caixa e desempenho não ocorreu para todos os setores. Ficou concentrada nos segmentos de saúde e utilidade pública, este último abrangendo companhias de saneamento, eletricidade, petróleo e gás.
Leia o artigo: Impacto da posição de caixa na performance das empresas brasileiras em períodos de recessão econômica.