Autora lançou livro no Insper e destacou a importância do tripé audácia, coragem e determinação para o país se tornar referência global em tecnologia e empreendedorismo
A israelense Inbal Arieli, reconhecida como uma das 100 pessoas mais influentes na indústria de alta tecnologia de seu país, esteve no Insper em 21 de setembro para o lançamento de seu livro Chutzpah – Por que Israel é um hub de inovação e empreendedorismo. Arieli autografou a obra e falou sobre os segredos de sucesso do ecossistema de inovação de Israel, que se destaca no cenário global pela alta concentração de empresas de tecnologia.
O evento no Insper foi realizado pelo Women in Tech em parceria com o Consulado de Israel. O programa Women in Tech foi lançado em 2021 pelo Hub de Inovação Paulo Cunha com o objetivo de ampliar a presença de mulheres em cursos de tecnologia e em postos de liderança no setor. O bate-papo foi conduzido por Ana Carolina Oliveira de Souza, coordenadora da área de Relações Internacionais do Insper.
Arieli tem formação em Direito e em Economia e um MBA em Empreendedorismo e Estratégia pela Universidade de Tel Aviv. Nos últimos 20 anos, vem desempenhando um papel de liderança na próspera indústria de tecnologia de seu país. Sua trajetória, que incluiu o período de serviço militar obrigatório nas Forças de Defesa de Israel, foi marcada por cargos de conselheira e executiva em várias startups e empresas de alta tecnologia em Israel, além da atuação como empreendedora de negócios em série. Atualmente, é sócia-gerente da Big.IL, empresa de investimentos focada em startups israelenses em estágio inicial.
Em sua palestra no Insper, Arieli começou explicando o significado de “chutzpah”, termo em iídiche que dá nome ao seu livro. “Chutzpah é uma mentalidade que combina audácia, coragem e determinação. É o que leva os israelenses a arriscar, inovar e criar empresas de sucesso”, disse.
Arieli descreveu o atual cenário de inovação em Israel, país que tem a maior densidade de startups do mundo. O país também atrai uma quantidade significativa de investimento externo, principalmente de capital de risco. Arieli ressaltou que cerca de 85% dos fundos são provenientes do exterior, demonstrando a confiança dos investidores internacionais no ecossistema israelense.
“O principal motivo para Israel ser tão atraente para investidores é sua cultura altamente inovadora. Diferentemente de muitos outros ecossistemas, em Israel, há uma forte convergência entre empreendedorismo e inovação, abrangendo diversas indústrias, desde tecnologia agrícola até cibersegurança e equipamentos médicos”, disse Arieli. Ela destacou o impacto global de empresas israelenses, como o Waze, que transformou a maneira como utilizamos mapas.
Outro aspecto notável no ecossistema israelense é o alto investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), que representa 5,7% do PIB do país. “Isso reflete o compromisso contínuo de Israel com a pesquisa e a criação de inovação para o futuro”, afirmou.
Arieli mencionou também desenvolvimento interessante no ecossistema de seu país. Por muitos anos, os israelenses acreditaram que eram especialistas apenas na criação de empresas de pequeno porte. No entanto, essa crença foi superada em 2013, quando Israel viu nascer seu primeiro “unicórnio”, uma startup avaliada em mais de 1 bilhão de dólares. Hoje, Israel tem mais de 70 unicórnios, a maior densidade do mundo. “Isso ocorreu porque os empreendedores israelenses compreenderam que não estão confinados a uma determinada escala ou limitados a um único mercado. Eles demonstraram a capacidade de crescer e de criar empresas de grande porte.”
A especialista chamou a atenção também para outro fator decisivo para o país: a presença de mais de 400 multinacionais em Israel, incluindo gigantes da tecnologia como Intel, Apple, Microsoft e Meta. Todas as big techs têm áreas de pesquisa e desenvolvimento em território israelense, onde não apenas contratam talentos locais, mas também investem na formação e no treinamento desses profissionais. “Essas empresas desempenham um papel crucial como atores dentro desse ecossistema em constante evolução”, afirmou.
Arieli mostrou uma foto de um escorregador em um parque infantil para falar sobre outra característica dos israelenses: a mentalidade de “balagan”, palavra hebraica que significa “desordem”, “bagunça”, “caos”. Em muitos países, é comum ver placas com instruções de como usar o brinquedo ou avisos do que não é permitido fazer. Em Israel, não se vê esse tipo de restrição.
Arieli exibiu uma imagem de um escorregador em um parque em Tel Aviv no qual era possível observar uma criança de pé no brinquedo e outra subindo pela rampa, em vez de usar a escada de acesso, sugerindo provável conflito com outra criança que desejasse deslizar rampa abaixo. “Essa cena ocorre diariamente em todo o país. O que acontece é que essas crianças, desde tenra idade, estão desenvolvendo independência e confiança para utilizar a criatividade, a curiosidade e as habilidades sociais naturais para resolver seus conflitos”, observou Arieli. “Não há necessidade de ninguém intervir. As crianças resolvem por conta própria.”
Para Arieli, comportamentos desse tipo estão na base daquilo que se transformou em uma nação de startups, scale-ups (empresas de rápido crescimento que já superaram a fase inicial de startups) e unicórnios. “A tendência das pessoas é evitar a desordem porque isso as faz sentir que não têm controle sobre as coisas. Entretanto, essa desordem, ou confusão, ou caos, ou até mesmo incerteza, é uma oportunidade”, afirmou Arieli. “É uma oportunidade para criar uma nova ordem, para enxergar as coisas de maneiras diferentes e para utilizar recursos de formas inovadoras.”
Arieli comentou também a abordagem de Israel em relação ao treinamento militar, enfatizando a importância de ensinar os jovens a lidarem com a incerteza e a tomarem decisões mesmo quando não têm todas as respostas. “Em Israel, ensinamos aos jovens soldados a não ter todas as respostas. Isso pode parecer estranho à primeira vista. Por que lhes ensinamos a não saber? A razão é simples: em algum momento, eles terão de enfrentar situações em que não terão a resposta, em que não saberão o que fazer. Se não estiverem preparados para lidar com essa situação, vão entrar em pânico ou se sentir completamente perdidos”, disse Arieli. Ao se acostumarem a lidar com incertezas, os jovens israelenses, com o tempo, adquirem resiliência. “A primeira vez que enfrentam tal situação pode ser difícil, a segunda vez também, mas, conforme passam por essa experiência de forma repetida, eles se tornam mais capazes de lidar com as incertezas. Isso é fundamental não apenas para os soldados, mas para todas as pessoas, seja nos negócios, seja na política ou em qualquer outro aspecto da vida.”