Valor anunciado pela QI Tech é o maior do ano no Brasil. Startups de alunos e alumni devem representar no mínimo 20% do total das captações no país em 2023
A QI Tech, fintech que tem entre seus fundadores o paulista Marcelo Bentivoglio, alumnus de Economia do Insper, anunciou nesta terça-feira, 31 de outubro, a captação de cerca de 1 bilhão de reais (200 milhões de dólares) em rodada de investimento liderada pela gestora de private equity General Atlantic, com participação da gestora Across Capital, que já é acionista da QI Tech e está reforçando seu aporte de recursos na empresa.
Esse é o maior investimento em uma startup no Brasil anunciado até agora em 2023. Com isso, as captações realizadas por empresas de alunos e alumni do Insper somam quase 7,5 bilhões de reais desde janeiro de 2021, de acordo com dados compilados pelo Hub de Inovação e Empreendedorismo. Ao todo, foram 75 rodadas de investimento no período, envolvendo 56 startups criadas por alunos e ex-alunos. A estimativa é que o ecossistema de empreendedorismo do Insper feche este ano com, no mínimo, 20% de participação no total de captações realizadas no país — em 2022, essa fatia foi de 9,6%.
A rodada de investimento anunciada hoje é da série B, como são conhecidos os aportes destinados a empresas em fase de crescimento. A QI Tech foi fundada em 2018 por Pedro Mac Dowell (atual CEO da empresa), Marcelo Bentivoglio (que ocupa o cargo de CFO, ou diretor financeiro) e Marcelo Buosi (COO, ou diretor de operações). Em 2021, a empresa levantou 270 milhões de reais (50 milhões de dólares pelo câmbio da época), em rodada da série A liderada pelo Fundo Soberano de Cingapura (GIC). A série A é um investimento destinado a negócios em estágio inicial de desenvolvimento.
A QI Tech é uma empresa de tecnologia para serviços financeiros. Ela oferece um conjunto de APIs (interfaces de programação de aplicativos) que permite a qualquer empresa oferecer produtos financeiros a seus clientes. As APIs são uma série de regras e padrões que possibilitam que diferentes aplicativos se comuniquem e compartilhem dados e funcionalidades.
“A QI Tech é uma empresa de infraestrutura para serviços financeiros. Temos uma plataforma completa, one-stop-shop. Atuamos de ponta a ponta na jornada de crédito, oferecendo tudo o que é necessário para qualquer empresa virar um banco”, diz Bentivoglio. Para se tornar um banco, explica, uma empresa precisa basicamente de duas coisas: dinheiro e uma carteira de clientes. O restante — a tecnologia e a parte regulatória — fica sob a responsabilidade da QI Tech.
A operadora Vivo é uma das clientes da QI Tech. A empresa de telecomunicação atua como um banco, por exemplo, ao fornecer crédito para consumidores que desejam financiar a compra de um telefone celular. Todos os trâmites financeiros — abertura de conta, aprovação do crédito, emissão de boletos e cartões, cobranças etc — são feitos por meio da plataforma da QI Tech.
A fintech tem hoje cerca de 320 clientes, de diversos setores, e uma equipe de 120 colaboradores. Em média, passam pela base da QI Tech 2,4 milhões de CPFs por mês. “Processamos 80 mil transações de crédito por dia, o que significa em torno de 800 milhões de reais em novos créditos a cada mês. Serão cerca de 10 bilhões de reais em 2023”, diz Bentivoglio.
Além da tecnologia de serviços bancários (banking as a service) e soluções de crédito (lending as a service), a QI Tech oferece sistemas antifraudes (reconhecimento facial, análise de documentos) e atua com custódia e administração de fundos de investimento. A empresa foi a primeira no país aprovada pelo Banco Central como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), instituição autorizada a realizar operações de crédito por meio de plataforma eletrônica. E se tornou a primeira fintech a receber simultaneamente a licença de Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DVTM), o que lhe permite intermediar a negociação de títulos e valores mobiliários nos mercados financeiro e de capital.
Com os recursos que captou na nova rodada de investimentos, a QI Tech planeja aquisições de outras empresas para se consolidar no mercado. “Vamos buscar parcerias com empresas de tecnologia bem-sucedidas que tenham produtos de alta qualidade. Estamos empenhados em fortalecer a posição da QI Tech como líder de mercado, reforçando nossa base de clientes e, eventualmente, nossa equipe”, diz Bentivoglio. Ele explica que o objetivo da fintech é se preparar para uma oferta pública inicial (IPO) nos próximos dois ou três anos. “Até lá, o ano de 2024 será de consolidação, uma vez que as taxas de juros ainda se mantêm em níveis elevados, o que torna o cenário desafiador.”
Nascido em Campinas, Bentivoglio vive em São Paulo desde a infância. Fez o curso de graduação em Economia no Insper de 2008 a 2012. “Fui aluno bolsista a vida inteira. Em todas as escolas, estudei com bolsa. E tive o privilégio de ser aprovado entre os primeiros no vestibular do Insper, onde contei com uma bolsa parcial até me formar”, conta o alumnus. “Hoje sou doador do Programa de Bolsas e também atuo como mentor de uma aluna do Insper.”
“A jornada de Marcelo é um inspirador exemplo de determinação. No ano passado, ele foi agraciado com o Prêmio José Eduardo Ermírio de Moraes, que reconheceu seu papel como líder em projetos inovadores que impactam positivamente a sociedade e os negócios”, diz Ana Carolina Velasco, gerente de Relacionamento Institucional do Insper. “Marcelo é um testemunho de comprometimento e inspiração para nossa comunidade e um exemplo brilhante do potencial que o Programa de Bolsas alcança.”
Bentivoglio costuma atuar também como convidado para dar aulas de empreendedorismo e fintechs no Insper. Além disso, contribui como mentor da FOKS, a aceleradora voltada para startups de alunos e ex-alunos do Insper. De acordo com Bentivoglio, sua proximidade com o Insper é uma forma de retribuir o que recebeu como aluno. “Sou muito grato por tudo o que vivi na escola. Hoje tenho orgulho e uma felicidade enorme de poder contribuir com o que estiver ao meu alcance.”
Dados compilados pelo Hub de Inovação e Empreendedorismo apontam que, até setembro, as empresas criadas por alunos e ex-alunos do Insper representavam 13,1% das captações realizadas durante o ano por todo o ecossistema de startups no país. Como os dados de outubro do mercado brasileiro ainda não estão disponíveis, não há como saber com precisão a fatia do Insper após a captação anunciada pela QI Tech.
“A expectativa é que, com essa rodada da QI Tech, a participação das startups do Insper no Brasil alcance quase 25% do total captado este ano. O mercado brasileiro, assim como no resto do mundo, está menos aquecido em comparação com os últimos anos. Por isso, essa captação de 1 bilhão de reais da QI Tech tem um impacto significativo no cenário”, diz Thomaz Martins, coordenador do Hub de Inovação e Empreendedorismo. “Mesmo que outras rodadas de investimento com valor significativo sejam anunciadas até o fim do ano, dificilmente a participação do Insper no total das captações no Brasil ficará abaixo de 20% em 2023”, prevê.
Para Martins, o aumento da fatia das empresas do ecossistema Insper no total das captações se deve à capacidade delas de continuar gerando valor mesmo em cenários de incerteza. “As startups fundadas por alunos e ex-alunos do Insper já tinham um histórico de captar valores acima da média”, observa Martins. “Os empreendedores do Insper têm conseguido demonstrar o valor de seus negócios e construir empresas com propostas sólidas, o que as mantém resilientes mesmo diante da retração do mercado.”
As startups do ecossistema Insper atuam em setores diversificados, desde finanças (como Remessa Online, Conta Simples), comércio eletrônico (Evino, Shopper) e saúde (Vittude, Alice) até agronegócio (A de Agro), mobilidade (E-Moving, Mottu) e benefícios corporativos (Caju). Embora predominem os negócios criados por alunos e egressos dos cursos de Administração e Economia, há um número crescente de empreendimentos de alunos e ex-alunos de Engenharia e de programas de MBA.
Martins destaca o papel da trilha de empreendedorismo, que oferece mais de 20 disciplinas, disponíveis para todos os programas, o que ajuda na disseminação das melhores práticas de negócios em toda a escola. “Além disso, acredito que há um fator que vem de longa data no Insper, que tem a missão de formar líderes para serem protagonistas e transformarem o Brasil. Isso ajuda a formar pessoas com competências empreendedoras, independentemente do curso que façam.”