Seminário discutirá importância da coordenação de políticas de habitação e de mobilidade para promover um desenvolvimento urbano compacto equitativo, sustentável e resiliente
Bruno Toranzo
A necessidade de longos e improdutivos deslocamentos urbanos, devido às grandes distâncias entre moradias, empregos e serviços, é causa do congestionamento que gera tantas ineficiências em nossas cidades. Esse problema também está na raiz dos altos níveis de poluentes: o setor de transportes é responsável por cerca de 25% do dióxido de carbono lançado na atmosfera globalmente, sendo a mais relevante fonte de emissões urbanas. Só os automóveis são responsáveis por 72,6% das emissões de gases efeito estufa (GEE) em São Paulo.
“Reduzir os deslocamentos e criar incentivos para o uso de modos mais eficientes de transporte, como o ônibus e o metrô, são fundamentais para diminuir as emissões urbanas. Por isso, a acessibilidade é tão importante no planejamento urbano, já que une os fatores da mobilidade e das disposições dos locais de moradia e de trabalho nas cidades. Uma acessibilidade de baixo carbono é aquela que utiliza modos mais sustentáveis de transporte e também reduz a necessidade de longos deslocamentos”, diz Adriano Borges Costa, professor de Mobilidade e Dados Urbanos no Insper e pesquisador-líder do Laboratório Arq.Futuro de Cidades da escola. “Além disso, o setor da construção civil é hoje o segundo maior emissor urbano de CO2. Então, a forma como nos deslocamos e o modo como vivemos precisam ser repensados para buscarmos uma cidade de baixo carbono.”
É nesse contexto que o Laboratório realizará, no dia 27 de outubro, o seminário internacional Climate resiliency and low-carbon accessibility, em parceria com o MIT Center for Real Estate e o Lincoln Institute. O objetivo é discutir como pensar sistemas de mobilidade e de uso do solo de maneira integrada para reduzir a emissão de carbono e promover a resiliência urbana. No transporte, a mobilidade de baixo carbono está, por exemplo, na eletrificação da frota de ônibus e na popularização do uso dos carros elétricos. Já no mercado imobiliário, a descarbonização se observa nos recursos usados na construção civil, bem como na eficiência energética dos prédios e na distribuição pelo espaço urbano dos locais de moradia e de trabalho de modo mais eficiente. “A acessibilidade de baixo carbono, indispensável para tornar as cidades resilientes, é formada, portanto, por três aspectos: desenvolvimento urbano compacto, descarbonização dos transportes e descarbonização do mercado imobiliário”, aponta Adriano.
Os eventos extremos causados pelo aquecimento do planeta são cada vez mais comuns em toda parte. O aumento da temperatura média mundial tem provocado verões com termômetros que se aproximam dos 50°C, geadas acompanhadas de nevascas, períodos longos de seca e chuvas intensas, que resultam em inundações com perdas humanas e patrimoniais para as regiões afetadas.
A resiliência climática é a capacidade dos sistemas — sociais, econômicos e ambientais — de resistir aos impactos das mudanças do clima. Ela é alcançada por meio da adaptação desses sistemas, o que abrange atividades para ajustar, gerir e mitigar impactos climáticos. Nas cidades, alguns exemplos incluem reforço de barreiras contra inundações e adaptação da infraestrutura urbana, com investimento em transporte público que não utilize combustíveis fósseis, modernização de edifícios antigos (o chamado “retrofitting”), criação de sistemas de armazenamento de águas pluviais, além da melhoria das condições de habitação e do investimento na criação e expansão de espaços verdes.
“As mudanças climáticas vão se agravar, motivo pelo qual é necessário que os sistemas urbanos sejam capazes de lidar com eventos climáticos, suportando esses choques. É fundamental reconhecer que esses eventos atingem de forma mais aguda as famílias pobres e vulnerabilizadas, em especial negros, negras e indígenas que moram em áreas urbanas. Assim, deve-se trabalhar com uma perspectiva de equidade e de justiça social ao lidar com esses desafios contemporâneos”, ressalta Adriano.
As cidades devem ser capazes de absorver choques a ponto de recuperar seu estágio anterior de normalidade. São consideradas resilientes ao clima se conseguem proteger seus habitantes e seus ativos, estando preparadas para enfrentar novos riscos emergentes. No geral, essas cidades sofrem menos e se recuperam mais rápido dos eventos extremos.
As oportunidades de negócio voltadas para tornar as cidades mais resilientes equivalem a mais de US$ 3,7 trilhões por ano para o setor privado até 2030, de acordo com o relatório “Risk & Resilience: The role of cities in tackling the climate crisis”, do CCAG (Climate Crisis Advisory Group). A mudança para cidades sustentáveis tem o potencial de gerar quase 170 milhões de empregos e de enfrentar grandes problemas públicos relacionados justamente à falta de sustentabilidade que elevam os custos com saúde, como os que são provenientes da poluição atmosférica. Ainda segundo o estudo, há benefícios econômicos claros gerados pelos investimentos em cidades mais verdes, incluindo edifícios sustentáveis. Essas construções são mais valorizadas pelo mercado e têm custo operacional ou de manutenção até 20% menor, pois suas características trazem economia no dia a dia, promovendo, por exemplo, o resfriamento interno, o que significa redução do uso do ar-condicionado.