Fabricante de bebidas está na terceira edição de seu programa de estímulo ao desenvolvimento de novos negócios em parceria com startups
Bruno Toranzo
Um dos princípios da inovação aberta é promover a colaboração das organizações com pessoas que não fazem parte dela, assim como outras empresas, que, muitas vezes, são menores. Nesse sentido, as startups aparecem entre as maiores parceiras das organizações pela facilidade de inovar, de criar produtos e serviços, por meio da tecnologia, que sejam bem-recebidos pelo consumidor. Essa é uma estratégia adotada pela fabricante de bebidas Ambev para levar cada vez mais inovação ao seu negócio.
“Deixamos de achar que sabíamos tudo por termos domínio do mercado para passar a aprender com todos os players do ecossistema, como startups, universidades e profissionais talentosos”, diz Bruno Stefani, diretor de inovação global da Ambev. “Essa evolução da cultura de aprendizagem foi a grande mudança da companhia nos últimos cinco anos.”
De maneira geral, por muito tempo, vigorou o sigilo absoluto sobre a inovação promovida pelas empresas. A ordem era manter os projetos protegidos de interferências externas. Existia o temor de que a concorrência capturasse essa inteligência de alguma forma. A inovação aberta está naturalmente atenta a esse risco, mas não deixa que ele afete a própria capacidade de criar, que se mostra muito mais efetiva quando feita não apenas internamente pelas organizações. Essa troca de conhecimentos e experiências própria da inovação aberta enriquece o processo inovativo. Há quem diga que a real inovação ou, na palavra da moda, disrupção só ocorre a partir dessa colaboração.
“Para nós, inovação aberta é abrir os problemas da organização para soluções que já existem no ecossistema ou que possam ser desenvolvidas em parceria com ele. Não temos os melhores cérebros do mundo, mas podemos, por meio da inovação aberta, chegar a todos eles”, afirma Stefani. Para ele, como parte desse processo, é fundamental ouvir o consumidor, obtendo insumos para criar as soluções, como o app Zé Delivery, criado dentro da companhia. Na pandemia, considerando apenas o primeiro semestre de 2021, foram 29 milhões de entregas, superando todo o ano de 2020, que registrou 27 milhões.
“Esse serviço entrega cerveja gelada na casa das pessoas em até uma hora depois da realização do pedido. Ou seja, resolvemos o problema do consumidor, especialmente na pandemia. Na realidade, identificamos esse entendimento de que ficar em casa é mais seguro, barato e confortável antes da pandemia, o que comprova que essa realidade de consumo não se deu apenas por causa da crise de saúde”, diz Stefani.
Segundo o executivo, a Ambev se preparou a vida inteira para atender comerciantes de bares, restaurantes e mercados, o que não impediu que fosse criada solução para o consumidor final, proporcionando um bar em sua casa. “Olhamos para fora da organização, com atenção especial para o comportamento do consumidor, fizemos parcerias com outros players e assimilamos o conhecimento necessário para criar o Zé Delivery. Também foi importante a flexibilidade de rever a estratégia de priorizar o varejo e o atacado definida para o negócio.”
O programa Além da Ambev, que está em sua terceira edição, consiste em perguntar para o ecossistema o que ele enxerga de oportunidade trabalhando com a companhia. A lógica, portanto, é contrária àquela adotada geralmente pelas empresas: em vez de apresentar o problema e pedir soluções, a Ambev pergunta quais problemas o ecossistema acredita que ela, como organização, tenha. A partir daí, a solução é criada em parceria com o ecossistema.
A iniciativa resultou em 29 pilotos ou projetos com startups em toda a América Latina, aperfeiçoando áreas como marketing, vendas, sustentabilidade e embalagem. “Nosso objetivo é mapear oportunidades de tendências, talentos e negócios em todo o Brasil, e não apenas em São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte e Recife, que são as cidades com grandes mercados de startups”, diz Stefani.
Em 2021, a Ambev fechou parceria com a startup Speedbird Aero para testar o delivery de bebidas por drones. No voo de simulação, realizado na cidade de Jaguariúna, no interior de São Paulo, o drone percorreu dois quilômetros até um condomínio de casas ao lado da fábrica da cervejaria. O equipamento tem capacidade de transportar até dois quilos e pode ser a solução para que as bebidas geladas cheguem cada vez mais rápido ao consumidor — considerando o trânsito intenso das grandes cidades brasileiras.
“O natural seria pensar dentro de casa, criando uma área para isso. Em vez disso, por meio da inovação aberta, procuramos a melhor startup de drone do Brasil para desenvolver em parceria a iniciativa, que começou com projeto de pesquisa apontando para a falta de regulamentação dessa tecnologia no país”, diz Stefani.
O reconhecimento desses trabalhos veio com a primeira colocação no ranking Top 100 Open Corps 2021, da plataforma 100 Open Startups, que identifica as organizações que mais praticaram inovação aberta com startups. A Ambev foi ainda considerada neste ano uma das 50 companhias mais inovadoras do mundo pela revista Fast Company.