Realizar busca

Acessibilidade plena nos espaços públicos e privados é ainda um desafio

O dia nacional de mobilização pelos direitos da pessoa com deficiência nos ajuda a lembrar sobre a importância de envolver e incluir toda a comunidade

O dia nacional de mobilização pelos direitos da pessoa com deficiência nos ajuda a lembrar sobre a importância de envolver e incluir toda a comunidade

Adalto Barbaceia
Professor Adalto Barbaceia

 

Leandro Steiw

 

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, em 21 de setembro, foi criado para conscientizar a sociedade sobre os direitos dessa população. São pelo menos 17 milhões de brasileiras e brasileiros comlimitação em funções visuais, auditivas, motoras ou intelectuais, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, feita pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde. Os dados do Censo de 2010, porém, apontavam 45,6 milhões de pessoas que se percebiam com algum tipo de deficiência.

Engenheiro e doutor em Administração, Adalto Barbaceia teve poliomielite na infância e fala da importância das medidas de acessibilidade. “Quem tem dificuldades de locomoção distingue mais claramente questões que talvez passem despercebidas de todos”, diz o professor de Finanças e Economia do Insper. “Subir uma escada sem corrimão, no passado, era algo até irrelevante para mim. Hoje, é praticamente impossível, porque o risco de eu me acidentar é gigante. Mesmo a pessoa que não tenha deficiência, mas certa idade, começa a ter problemas.”

Algumas dessas questões foram apresentadas à Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper. “Para me levantar de uma cadeira, por exemplo, eu não preciso de ajuda, mas tenho de abrir bastante as pernas para usar a musculatura interna das pernas, porque a musculatura mais acima dos quadríceps não funciona direito”, explica Barbaceia. Esse espaço livre para movimentação é necessário em qualquer ambiente — casa, escritório, sala de aula, equipamentos públicos.

Se a pessoa com deficiência ocupa um banheiro público muito estreito, não consegue fazer a abertura necessária das pernas para se levantar. Sem uma barra na frente para se apoiar, ela não consegue se levantar e precisa fazer uma manobra de virar para trás e se apoiar de forma precária no vaso sanitário ou na caixa de descarga. Além do desconforto, acrescente-se todo o risco de a caixa quebrar e a pessoa sofrer um acidente dentro do banheiro.

Barbaceia recorda que já caiu dos degraus de escadas dentro de sala de aula. “Como eu levo tombos desde criança, tenho a característica de que, quando estou caindo, o meu corpo amolece todo”, diz. “Se não houver nada pontiagudo, acabo não me machucando, ou quando me machuco é coisa superficial. No entanto, sempre existe o risco de bater a cabeça em alguma ponta ou quina. Então, eu me cuido ao máximo.”

 

Ilhas de acessibilidade

Uma dúvida comum é em relação às medidas de segurança e evacuação de incêndio, mesmo em simulações. “O que eu devo fazer? Como desço escada com todo mundo descendo escada, sendo que corro o risco de cair? Nem sempre isso fica claro para nós. As pessoas não são preparadas para pensar nisso. Eu até consigo descer escadas, mas e aqueles em cadeira de rodas? Deixar claro o que fazer nessas situações de emergência, nessas situações limites que fogem do contexto normal, é algo que a escola sempre tem de pensar.”

Uma das intenções da norma de acessibilidade NBR 9050:2020 é permitir que as pessoas com deficiência, entre outras, possam usar edificações e espaços urbanos com autonomia e independência. Hoje, é praticamente impossível aprovar o projeto de um prédio de uso público sem atender aos critérios técnicos de acessibilidade. Mesmo assim, as cidades não estão dotadas de todas as conformidades, e um edifício acessível pode permanecer ilhado em meio a equipamentos urbanos inadequados.

O professor Barbaceia conta que mora relativamente perto do campus do Insper. Ele descreve a dificuldade que seria se deslocar em transporte público: “As árvores tomaram conta das calçadas do meu bairro, que já têm poucos metros, então você precisa andar pelas ruas. É bastante complicado para subir e descer em ônibus. E depois, parando na Avenida Santo Amaro, dependendo do caminho que você adotar, também é difícil chegar à escola. Se a pessoa for cadeirante, eu diria que passa a ser impraticável. Temos a sensação de que a cidade construiu aquelas rampinhas em tudo o que é lugar, mas elas, muitas vezes, dão numa raiz de árvore ou num buraco na rua. Isso sem falar quando há um carro parado no meio da rampa”.

Para Barbaceia, apesar de toda a preocupação com acessibilidade, ainda falta muito a evoluir. “Vamos levar vários anos para trabalhar o ideal da inclusão na cabeça das pessoas”, diz. “Esse espaço de conquistar os corações dos professores, dos alunos e dos colaboradores da escola é um trabalho contínuo, mas vai demorar.”

Ele cita as ocasiões em que se deparou com carros não autorizados estacionados nas vagas destinadas às pessoas com deficiência. Ou os obstáculos que as pessoas em cadeiras de rodas encontram em catracas do subsolo. “Acredito que o nosso front é a conscientização dos professores da necessidade de integrar as pessoas com deficiência na sala de aula”, afirma. “É um ponto que vale a pena a gente trabalhar, estudar e ver como pode fazer a diferença. Estamos falando de alteridade, de afetividade, de olhar com pena e não com raiva para alguém que ainda não sabe identificar ou perceber que existem pessoas que realmente precisam daquela vaga de estacionamento para se locomoverem e se integrarem dentro da escola.”

 

Vinícius Barqueiro
Vinícius Barqueiro, voluntário do Movimento Web para Todos

Componente humana

A mobilização em torno do dia 21 de setembro reforçou várias mensagens importantes, na opinião de Vinícius Barqueiro, coordenador de Programas de Gestão e Políticas Públicas do Insper. “Existem leis e normas em relação à garantia de direitos das pessoas com deficiência, mas, além disso, há uma componente humana de valorização de todas as pessoas e de garantia de direitos fundamentais”, diz. “O Insper trabalha com esses dois lados. Primeiro, estar conforme a lei. E, segundo, o que faz parte dos nossos valores: respeitar e valorizar nossas diferenças, envolver e incluir toda a comunidade.”

Para Barqueiro, o desafio ainda é tremendo. “O Brasil é muito diverso e tem serviços que ainda estão longe de oferecerem uma acessibilidade plena, embora, do ponto de vista tecnológico, não seja tão difícil garantir essa acessibilidade, basta querer”, afirma. “A outra face da moeda é que se percebe um movimento forte da sociedade civil organizada em prol da causa. Então, antes nem se tinha visibilidade da importância da acessibilidade. Hoje em dia, há mais pessoas envolvidas para que isso aconteça, com protagonismo das pessoas com deficiência e apoio de aliados.”

São inúmeras as maneiras de colaborar. Nas redes sociais, por exemplo, crescem as iniciativas de descrição de imagens. Já se encontram eventos remotos que incluem um intérprete de Libras — a Língua Brasileira de Sinais. “Quanto à acessibilidade digital, existem duas faces também”, diz Barqueiro, que atua voluntariamente no Movimento Web para Todos, rede que conecta organizações, profissionais de desenvolvimento e pessoas com deficiência na defesa da acessibilidade digital. “Há muito a fazer. A boa notícia é que muita gente se envolveu em busca de maior conscientização e qualidade de informação.”

O último levantamento do Web para Todos indicou que 0,5% dos 21 milhões de sites brasileiros são, de fato, acessíveis. “Essa é uma situação bastante crítica, considerando a dificuldade de as pessoas com deficiência exercerem a cidadania em mundo digital que não é acessível”, afirma. “A comunidade das pessoas com deficiência é bastante ampla e diversa, em identidades e causas, mas existe este ponto em comum: qualquer que seja o recorte de deficiência — física, auditiva, visual, intelectual —, há barreiras enormes de comunicação nos ambientes digital e online.”

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade