Em evento realizado pelo Insper, Telmo Schoeler, presidente de conselhos de administração há mais de 30 anos, falou sobre “Agile Business no mundo 4.0” e suas implicações para empresas familiares
Tiago Cordeiro
O ambiente corporativo vem sendo transformado por uma série de pautas simultâneas e desafiadoras. Inovar, causar disrupção e fortalecer práticas ESG (ambiental, social e de governança), num ambiente de mudanças aceleradas, exige a capacidade de avaliar cenários e responder a eles rapidamente, preservando valores e focando na resiliência no longo prazo. Se este contexto já é desafiador para empresas de grande porte, e até mesmo para startups desenhadas de modo a atuar de forma alinhada com o novo momento, que dirá para empresas familiares?
“As famílias, em geral, têm visão de longo prazo e foco na criação e na manutenção de valor. Mas encontram grandes dificuldades na agilidade, na adaptação a um cenário em mutação constante”, disse Roberta Nioac Prado, coordenadora do Grupo de Estudos de Empresas Familiares, durante o evento “Agile Business no mundo 4.0: implicações e desafios para a empresa familiar”.
Realizado na manhã de 13 de setembro, no Insper, em São Paulo, presencialmente e com transmissão online, o painel se apoiou em uma palestra de Telmo Schoeler, administrador, com MBA em finanças e marketing pela Michigan State University, extensão em planejamento na Universidade Harvard e governança e sucessão na Universidade Yale.
Schoeler acumula 23 anos de experiência executiva como diretor de crédito, investimentos, M&A, planejamento e financeiro, além de 33 anos como consultor empresarial e mais de 30 anos atuando como membro e presidente de conselhos de administração.
As transformações desencadeadas pela combinação de tecnologia, automação e inteligência artificial exigem agilidade nos negócios, ou “agile business”, que incentiva todos os vetores de governança de qualquer corporação, de todos os perfis. Para isso, é preciso investir em consciência, preparo, capacitação, olhar no futuro, parceria e cooperação, afirmou Schoeler.
“A agilidade nos negócios demanda mudança em processos, mas não apenas isso. É preciso transformar hábitos, revisar o propósito, o objetivo, os conceitos, a visão e o posicionamento. Essa revolução depende da governança, que não se resume aos conselhos de administração”, disse o especialista. “Ser ágil não é correr. É saber para onde vai e agir rápido, sem perda de tempo, com governança ágil, estratégia exponencial, portfólio enxuto, execução evolutiva e eficiente e liderança evolucionária.”
Schoeler lembrou que a empresa é um ente vivo, dinâmico, composto de diversas dimensões. E que, para agir de forma ágil, precisa de alinhamento entre os sócios e capacidade de tomar decisões difíceis, de acordo com as mudanças de cenário — elas podem demandar, inclusive, mudanças de sede, fechamento de operações ou alterações na composição societária.
“As empresas familiares são desafiadas diariamente, tanto quanto as demais. Para dar conta com agilidade, é crucial que elas aprendam a realizar uma reflexão estratégica, para avaliar a concorrência, as oportunidades e as ameaças, e assim implementar mudanças com agilidade.”
Por fim, Schoeler, lembrou que, no caso específico das empresas familiares, é preciso diferenciar propriedade de gestão. “A propriedade é adquirível. A gestão é executável, depende de técnica.” Outra dificuldade, disse, é diferenciar sociedade de trabalho e sociedade de capital. “Uma reunião de sócios que são irmãos ainda é uma reunião de negócios, e não de família. Em caso de dificuldades para fazer essa diferenciação, a mediação é um caminho”.