A chilena Paulina Achurra, professora de Engenharia, conta como compensa, na capital paulista, a ausência das deslumbrantes paisagens de Santiago do Chile e do Rio de Janeiro
Leandro Steiw
Dois parques no bairro do Morumbi acolhem a Mata Atlântica que a engenheira chilena Paulina Achurra procurava em São Paulo, quando se mudou do Rio de Janeiro para trabalhar no Insper. “Eu havia morado sete anos no Rio e sempre escutava os cariocas chamarem São Paulo de selva de concreto, compararem o céu cinzento paulistano ao céu azul carioca”, recorda. “Então, cheguei a São Paulo determinada a recuperar um pouco da Mata Atlântica que eu deixava para trás.”
Espécies da flora e da fauna de um dos principais biomas do território brasileiro sobrevivem nos parques urbanos da capital paulista. Conforme a Fundação SOS Mata Atlântica, resta somente 12,4% da floresta original, espalhada por 17 estados brasileiros. “Os meus favoritos são os parques Alfredo Volpi, que é um cantinho preservadíssimo, lindo, e o Burle Marx, que também é um lugar maravilhoso, democrático, onde você encontra famílias, pessoas de todas as tribos e de todos os níveis sociais”, diz.
O Parque Alfredo Volpi tem 142.000 metros quadrados de área, com trilhas para caminhadas e corridas, playground, praças de piquenique, sanitários com acessibilidade, rede wi-fi, estacionamento e até uma horta orgânica. Se o passeio for só de contemplação, é possível ver lagos abastecidos por nascentes naturais, preservados no projeto da paisagista Rosa Grena Kliass, do arquiteto Carlos Welker e do botânico Helmut Shlik. Pelo menos uma centena de animais abriga-se na flora do Volpi, principalmente aves endêmicas da região, como tucano-de-bico-verde, capitão-de-saíra, saíra-ferrugem e cigarra-bambu.
As aves também são maioria no Parque Burle Marx, área de 138.000 metros quadrados administrada pela Fundação Aaron Birmann. O local foi projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx como jardins da residência do empresário Baby Pignatari, nos anos 1940, e virou parque em 1995. Há cerca de 170 espécies nativas e exóticas de plantas, entre as quais, algumas em perigo de extinção, como o pau-brasil, e vulneráveis, como o palmito-jussara. Além das intervenções artísticas, conta com trilhas, equipamentos de ginástica, playground, sanitários, lanchonete e estacionamento.
Já adaptada ao ritmo intenso de São Paulo, Paulina descobriu dois recantos de Mata Atlântica que extrapolam os limites do município. O Parque Estadual da Cantareira, que se estende a Guarulhos, Mairiporã e Caieiras, mas é uma pequena porção da área de proteção ambiental de 254.000 hectares do Sistema Cantareira. Atenção, porém: as visitas ao Floresta Cantareira, nome adotado desde a concessão para a administração privada, são pagas.
Mais longe ainda, está o Legado das Águas, já no Vale do Ribeira. “O Legado é uma reserva superpreservada, da Votorantim, maravilhosa para quem quer fugir um pouco da cidade e fazer trilhas, canoagem, rafting”, afirma. São 31.000 hectares de Mata Atlântica, em meio a sete usinas hidrelétricas, que abrigam não apenas espécies nativas, mas pesquisas científicas de conservação ambiental. Os ingressos devem ser comprados antecipadamente, no site da reserva.
Natural de Rancagua, cidade a 90 quilômetros de Santiago do Chile, Paulina reencontra nos parques urbanos um fragmento das deslumbrantes paisagens da capital chilena e do Rio de Janeiro. “Em Santiago, a natureza está sempre presente, não tem como deixar de ver todos os dias a imponente Cordilheira dos Andes”, diz. “Minha condição para mudar para São Paulo era escolher um bairro com verde. Preciso ficar rodeada de verde, de natureza.”