[{"jcr:title":"Privacidade X propriedade de dados: como conciliar?"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Privacidade X propriedade de dados: como conciliar?","jcr:description":"Não deveríamos levar em conta o consumidor final e discutir quais são as regras para punir quem usar os dados fora do que foi autorizado, mas permitir que os mercados se regulem?"},{"subtitle":"Não deveríamos levar em conta o consumidor final e discutir quais são as regras para punir quem usar os dados fora do que foi autorizado, mas permitir que os mercados se regulem?","author":"Ernesto Yoshida","title":"Privacidade X propriedade de dados: como conciliar?","content":"Não deveríamos levar em conta o consumidor final e discutir quais são as regras para punir quem usar os dados fora do que foi autorizado, mas permitir que os mercados se regulem?   Renata Frischer Vilenky*   Vou me antecipar para evitar quebra de expectativa: este artigo não tem o objetivo de trazer respostas, mas fazer questionamentos que nos permitam refletir sobre o que significa monetizar dados, para quem e por quê. Discutimos há algum tempo a privacidade de dados em alguns mercados mais adiantados, outros mais atrasados, porém todos preocupados em função da nova legislação de proteção de dados e dos riscos de multas no valor de até 50 milhões de reais. Porém, se o cliente final — dono do dado — autorizar, seu dado pode trafegar por diversos caminhos, que vão de bancos a saúde, da educação ao game. Então, será que estamos fazendo discussões que nos levarão a algum lugar? Com o uso da internet das coisas possibilitando o monitoramento do comportamento de um espaço inteiro, de feições e ações humanas, ou com roupas que permitem monitorar de temperatura corporal a movimentos das pessoas, será que não deveríamos olhar do ponto de vista do consumidor final e discutir quais são as regras para punir quem usar o dado fora do que foi autorizado, porém permitir que os mercados se regulem, uma vez que a decisão de quem usa o dado e onde deve ser uma escolha individual? O que é o Open Finance, o Open Health ou o Open Insurance senão a autorização do consumidor final para que seus dados sejam compartilhados dentro dos segmentos, para que ele obtenha melhores serviços em termos de qualidade e preço, ou outros tipos de vantagens comerciais? Este não é o primeiro movimento nesse sentido. Se pensarmos friamente, os bureaus de crédito como Serasa e Boa Vista, entre outros, já monetizam nossos dados há muito tempo quando oferecem um score de crédito para o mercado com base em nossos comportamentos financeiros extraídos dos bancos em que operamos, sem nos pedir autorização. Nada ilegal. Colocando em perspectiva, no mundo do futebol, principalmente europeu, um jogador também é avaliado por o que seu comportamento, sua marca e suas atitudes pode gerar de resultado para o time. Portanto, “os dados comportamentais” desse jogador já são monetizados há muitos anos, para definir o valor do atleta em detrimento do resultado em pontos de jogos e resultado financeiro que esse profissional gera para o time de futebol, em vendas de canecas, camisetas e assinaturas. É sempre muito bom pesarmos os prós e contras de propostas de mudança e inovação. Nesse contexto, é bastante comum tendermos a um paternalismo de acordo com nossa cultura ou a um liberalismo exacerbado dependendo de nossa visão. Não acredito em resposta certa. Contudo, a velha frase de que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe deve ser levada em consideração para não perdermos oportunidades de evolução nos negócios e comportamentos, em detrimento do que nossas diferenças podem gerar de esforço para fazer as mudanças acontecerem.   Alguns casos práticos Vejamos alguns casos práticos. Você já se perguntou sobre o impacto para a saúde do Brasil e para os cofres públicos a existência de tantos agentes envolvidos, cada qual com seu olhar, com suas informações sobre o paciente, totalmente sem integração e com tantos interesses próprios narrando uma história sobre o mesmo paciente? Clínicas, laboratórios, hospitais, operadoras de saúde, agentes de saúde, escolas com atendimento à população, e por aí vai. Durante a pandemia, como Israel oferece saúde para todos os seus habitantes e possui as informações comportamentais consolidadas, usou esse contexto junto com o laboratório Pfizer para que a produção de vacinas fosse mais assertiva e oferecesse menos riscos. O estudo possibilitou que, logo no começo da vacinação em massa, o nível de contaminação do primeiro grupo vacinado caísse em mais de 50% segundo um [artigo da revista Exame](https://exame.com/ciencia/maior-estudo-de-vacina-da-pfizer-da-covid-19-e-em-israel-e-resultados-sao-promissores/) . Quanto será que o país economizou em leitos, protegeu vidas e evitou outras ocorrências? Mas não vamos falar de saúde porque é um caso muito latente. Falemos de crédito. Você já pensou na dificuldade que pequenas e médias empresas ou startups têm para conseguir crédito no mercado, já que não têm o mesmo histórico das grandes empresas para oferecer garantias? Porém, várias dessas empresas prestam serviços para grandes empresas e, de posse de seus recebíveis, se quiserem oferecer essa informação ao mercado, como podem conseguir crédito mais fácil baseado no risco sacado? Veja que estamos falando que a propriedade de dados serve tanto para pessoa física como para pessoa jurídica, e que colocar em perspectiva o tema pode nos trazer outra leitura dos prós e contras quanto ao uso de dados. Mas saiamos do mundo dos negócios e retornemos à vida como ela é. Você já prestou atenção na quantidade de informações pessoais sensíveis que muitas pessoas publicam nas redes sociais? Se as pessoas escolheram deixar público quem são, como são, o que fazem e como fazem, por que achamos que temos mais condições do que o próprio individuo de decidir sobre sua vida? O que nos torna tão especiais assim? Por favor, não me entendam mal. Não estou propondo anarquia, mas, do mesmo jeito que Moisés entregou as tábuas da lei com apenas 10 mandamentos, sem detalhar se no mandamento “Não matarás” é com as mãos, com arma ou qualquer outro objeto, por que nós, meros mortais, queremos prever todos os detalhes do comportamento humano para protegê-lo de si mesmo? Os comportamentos têm mudado muito nas últimas décadas. As tecnologias imersivas permitirão cada vez mais que comportamentos sejam estudados, lidos e reconhecidos e, independentemente do que achemos sobre isso, a legislação sempre estará atrás do que as possibilidades do desenvolvimento do mundo atual podem oferecer para nos expormos. Assim, será que não vale a pena dar dois passos para trás, avaliar um pouco mais o que é relevante regular para assegurar respeito entre as pessoas e a garantia de que, se alguém se sentir lesado, possa recorrer a uma mediação ou, em último caso, à judicialização para se ressarcir? Talvez a grande mudança não seja tentar adivinhar cada uma das formas que o comportamento humano será impactado pela tecnologia, mas nos educarmos em uma cultura de risco e definirmos punições proporcionais ao tamanho do risco incorrido. Será? Estamos apenas começando as discussões neste mundo de uso dos dados. Somos aprendizes de uma jornada que está se mostrando desafiadora. Portanto, vale a pena refletirmos como queremos lidar com o que está por vir: assimilar, avaliar impacto e criar mecanismos para lidar com tudo. Ou tentar adivinhar o que está por vir, tentar cobrir todos os riscos e viver em contradição, porque somos indivíduos únicos e percebemos o mundo de forma diferente e, portanto, reagimos de forma diferente também? Faça sua reflexão e, se achar que vale a pena, vamos conversar a respeito. Discussões inteligentes, com pontos de vista distintos, nos permitem evoluir. * Renata Frischer Vilenky  é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. Atualmente, é sócia da healthtech Prospera Saúde e da fintech Kikkin, É conselheira de startups e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books  Artificial: Uma Oportunidade para Você Aprender  e  Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio , ambos publicados pela Expressa Editora."}]