Enquanto as pessoas acreditarem que opiniões divergentes devam ser censuradas, elas estão aceitando que estão sempre certas de seus princípios, levando assim à ignorância intelectual coletiva
Mariana Damacena Ferreira Engel
A temática “liberdade de expressão” vem sendo muito debatida atualmente, sendo um assunto muito importante para compreender as diferentes perspectivas e opiniões que as pessoas possuem acerca de variados assuntos. Apesar da importância da liberdade de expressão para exercer a democracia e a pluralidade de ideias, muitas pessoas possuem pontos de vista que acreditam ser certos e absolutos e não dão espaço para crenças divergentes e impopulares. Tome-se como exemplo o filme O Povo contra Larry Flynt, no qual Larry, fundador da revista pornográfica Hustler, sofreu diversos processos porque a sociedade julgava suas ações como inapropriadas e erradas. Contudo, assim como expressa o livro Sobre a Liberdade, de John Stuart Mill, não existe uma verdade absoluta; nenhuma opinião é absolutamente certa, uma vez que é possível refutá-la com diferentes conceitos que surgem ao longo do tempo. É certo que só será possível formar uma teoria se baseando nos dois lados do assunto, entender por completo a temática ao analisar os argumentos que são opostos, mas ao mesmo tempo complementares, pois agregam todas as visões diferentes em um conjunto de ideias acerca do tema.
Nesse contexto, vale ressaltar a importância de manter a constante dúvida acerca dos próprios ideais, sempre questionando se suas convicções sobre o que acredita ser verdade são realmente concretas e coerentes. Isso é necessário para não cair apenas na aceitação de ideias, que por muitas vezes nem possuem fundamentos factuais e são apenas dominantes na sociedade. É possível relacionar esse pensamento à dialética de Sócrates, a qual tinha como objetivo buscar a verdade por meio do diálogo e questionamento. Dessa forma, havia toda uma redefinição de conceitos, já que novos conhecimentos são adquiridos no processo. Portanto, enquanto as pessoas não contestarem suas próprias ideologias e acreditarem que opiniões divergentes devam ser censuradas, elas estão aceitando que não erram em suas teorias e que estão sempre certas de seus princípios, levando assim à ignorância intelectual coletiva.
Ainda tomando como base o livro de John Stuart Mill, é viável comparar a imposição de religiões na sociedade a atitudes de caráter dogmático que impedem a diversidade de ideias. Um exemplo disso é a Igreja Católica, que durante muitos anos perseguiu e torturou pessoas consideradas hereges, simplesmente por não seguirem a doutrina cristã. Tal ação é intolerante perante os desejos e sentimentos do povo e faz com que muitos ocultem suas crenças por medo não só do julgamento, mas também por temor à penalidade. Do mesmo modo, no filme sobre Flynt os grupos religiosos não apoiavam suas condutas e entraram em confronto para tentar proibir a circulação da revista, justamente por não seguir os dogmas considerados sacros. É fato que as perseguições religiosas diminuíram ao longo dos anos, mas esse tipo de comportamento restritivo ainda é um grande desafio a ser superado no contexto atual para que se ocorra o democratismo e a liberdade. Há muitas cicatrizes deixadas no mundo, sendo elas frutos da violência, intolerância e cobardia.
Para finalizar, conclui-se que o exercício da liberdade de expressão impulsiona o desenvolvimento de ideias e promove o amadurecimento pessoal por meio da reflexão. Contudo, isso só será possível caso as informações apuradas sejam fidedignas e embasadas em dados reais, para que não haja nenhum tipo de distorção dos fatos e, consequentemente, a alteração de pensamentos. Chamadas de fake news, as notícias falsas levam à formação errônea de conclusões ao incentivar a insciência e opiniões enviesadas, obstruindo a verdadeira liberdade de expor o que se pensa relacionado a algum tema. Dessa maneira, o objetivo central da sociedade deve ser o de desestimular as notícias enganosas e incentivar o contínuo debate justo de posições diversas, com o intuito de fomentar a genuína liberdade de expressão em âmbito global.