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Insper Cineclube estreia no dia 18 de maio com “Dr. Fantástico”

Mais atual do que nunca, clássico do diretor Stanley Kubrick é uma sátira à insensatez da guerra nuclear

Mais atual do que nunca, clássico do diretor Stanley Kubrick é uma sátira à insensatez da guerra nuclear

 

Um espaço para estimular a reflexão e, claro, proporcionar muita diversão. É essa a proposta do Insper Cineclube, que estreia no dia 18 de maio, às 18h, com a exibição do filme “Dr. Fantástico” (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb), um clássico de 1964 do diretor americano Stanley Kubrick. O filme será apresentado no Auditório do Insper.

O Insper Cineclube vai trazer regularmente um novo filme, alternando clássicos, documentários, produções nacionais e estrangeiras. A ideia é priorizar filmes que, dificilmente, são exibidos no cinema, na TV ou nos serviços de assinatura de streaming.

“A seleção dos filmes tem o objetivo de trazer cultura à comunidade do Insper por meio do cinema. Buscamos priorizar, além da informação e do sentido artístico, diversão para quem assiste”, diz o jornalista André Vaisman, que atua na curadoria do Insper Cineclube. Vaisman trabalhou como roteirista e autor na Rede Globo, foi vice-presidente de operações na MTV Brasil e dirigiu a área de audiovisual da Editora Abril. “Buscamos filmes ágeis, independentemente de quando realizados. Filmes que nos prendam à cadeira e que possam ao mesmo tempo provocar discussão e aprendizado.”

“Dr. Fantástico” é uma sátira ao absurdo da ameaça nuclear durante a Guerra Fria, um período de tensão geopolítica entre os Estados Unidos e a União Soviética, as duas superpotências que buscavam aumentar o poder e a influência em um mundo polarizado em dois blocos, um alinhado ao capitalismo, outro ao comunismo.

Quando o filme de Kubrick foi lançado, o mundo ocidental estava sob o impacto de três acontecimentos dramáticos da Guerra Fria: a construção do Muro de Berlim pelos soviéticos (1961), a Crise dos Mísseis de Cuba, que ameaçou deflagrar uma guerra nuclear (1962), e o assassinato do presidente americano, John Kennedy (1963).

A Guerra Fria foi assim chamada porque os americanos e os soviéticos não chegaram a se enfrentar diretamente no campo militar, justamente pelo risco de destruição mútua por armas nucleares. Esse período de disputa entre as superpotências teve início após a Segunda Guerra Mundial e considera-se que tenha chegado ao fim com a dissolução da União Soviética, em 1991.

Nos últimos meses, porém, a tensão entre a Rússia, a principal herdeira da antiga União Soviética, e países ocidentais voltou a reverberar pelo mundo, sobretudo após a invasão da Ucrânia por tropas russas, em 24 de fevereiro. Com a escalada do conflito, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, insinuou que poderá lançar mão de armas nucleares para defender os interesses de seu país. Putin bem que poderia ser personagem de “Dr. Fantástico”.

 

Sala de Guerra do filme "Dr. Fantástico"
A Sala de Guerra onde se passa boa parte do filme

Ameaça nuclear

O filme de Kubrick conta a história de um general americano desequilibrado (interpretado por Sterling Hayden) que, frustrado por sua impotência sexual, ordena que uma tripulação de um avião B-52 bombardeie os soviéticos e inicie uma guerra atômica. Enquanto isso, um grupo de autoridades, incluindo o presidente dos Estados Unidos e seus conselheiros, tenta desesperadamente evitar a hecatombe nuclear.

O ator britânico Peter Sellers domina a cena interpretando três personagens: o Dr. Strangelove (que dá nome ao título em inglês do filme), um cientista nazista obcecado em fazer acontecer o dia do juízo final; Merkin Muffley, o inepto presidente dos Estados Unidos da época; e Lionel Mandrake, um oficial da Real Força Aérea britânica.

Kubrick começou a escrever o roteiro do filme inspirado no romance Red Alert (1958), do escritor galês Peter George, sobre a guerra nuclear. A intenção inicial era filmar a história como um drama sério, como é o tom do romance de George. Aos poucos, porém, Kubrick foi percebendo que a ameaça de destruição nuclear mútua era absurdamente cômica. E foi assim que “Dr. Fantástico” acabou virando um filme de humor negro.

Várias cenas hilárias mostram o absurdo do clima de tensão no auge da Guerra Fria. A maior parte do filme se passa dentro de uma claustrofóbica e escura Sala de Guerra, um abrigo antiaéreo onde se podia ver ao fundo um cartaz com os dizeres “Peace is our profession” (“A paz é nossa profissão”). A mensagem de paz aparece em vários momentos no filme, sempre em tom de ironia. Em uma das cenas, um general americano e o embaixador soviético discutem asperamente e são interrompidos pelo presidente: “Vocês não podem brigar aqui! Isto é a Sala de Guerra!”.

Embora o filme colorido já estivesse consolidado no cinema, Kubrick decidiu rodar “Dr. Fantástico” em preto e branco, dando um estilo documental à obra, em contraste com as cenas hilárias mostradas na tela. Mesmo em preto e branco, Kubrick fez questão de usar um feltro verde na grande mesa oval da Sala de Guerra. A ideia era fazer os atores sentirem em uma mesa de pôquer, entretidos com um jogo que decidiria o destino do mundo.

“Dr. Fantástico” rendeu quatro indicações ao Oscar de 1965 — melhor diretor, melhor filme, melhor ator (Peter Sellers) e melhor roteiro adaptado —, mas não levou nenhuma estatueta. O crítico de cinema americano Roger Ebert colocou “Dr Fantástico” em sua lista de grandes filmes, afirmando tratar-se “possivelmente da melhor sátira política” do século 20.

Para ver o trailer oficial do filme, clique aqui.

 


TRÊS CURIOSIDADES SOBRE “DR. FANTÁSTICO”

 

1. Estreia adiada

“Dr. Fantástico” teve sua primeira exibição em uma sessão-teste em 22 de novembro de 1963. Nesse mesmo dia, o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, foi assassinado em Dallas, no Texas. A produtora Columbia Pictures decidiu adiar o lançamento do filme para janeiro de 1964, por considerar que o tom de sátira e humor negro do filme poderia ser visto como impróprio para o clima de consternação que tomou conta do país.

 

2. Final deletado

Na montagem inicial, “Dr. Fantástico” terminava com os personagens na Sala de Guerra jogando tortas uns nos outros. O embaixador soviético (interpretado por Peter Bull), sentindo-se insultado, pega uma torta de creme na mesa de bufê e a atira em direção ao general americano Buck Turgidson (George C. Scott). Erra o alvo e acerta a torta no presidente (Peter Sellers). “Nosso amado presidente foi infamemente derrubado por uma torta no auge de sua vida! Vamos deixar isso acontecer?”, brada o general americano, iniciando uma guerra de tortas no salão. Segundo alguns, a cena foi cortada para que não fosse interpretada como uma alusão ao ataque a John Kennedy, atingido mortalmente por disparos. Kubrick, no entanto, declarou que a cena ficou fora da montagem final por se mostrar “muito farsesca e inconsistente com o tom satírico do resto do filme”.

 

3. Salário nas alturas

O cachê do ator Peter Sellers, de 1 milhão de dólares, consumiu 55% do orçamento do “Dr. Fantástico”. Como Sellers interpretou três personagens, Kubrick dizia que estava pagando a três atores pelo preço de um. Mas o diretor ironizava: “Consegui três pelo preço de seis”. Sellers, aliás, tinha sido escalado para interpretar quatro personagens no filme, mas acabou recusando o papel do major Kong — alegou que sua carga de trabalho já era excessiva e que seria difícil para ele, um britânico, imitar o sotaque texano exigido por esse quarto personagem.

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