
Entenda para que serve a tecnologia das redes virtuais privadas, que usa a criptografia para manter a privacidade de quem navega na internet
Desde o início da guerra na Ucrânia, a procura por serviços de VPN (redes virtuais privadas, na sigla em inglês) disparou na Rússia. É a maneira que muitos cidadãos daquele país encontraram para driblar a censura imposta pelo governo, que proibiu o acesso às principais redes sociais e a uma lista de veículos de imprensa que, segundo o Kremlin, estariam difundindo “informações falsas” sobre a guerra — chamada eufemisticamente de “operação militar especial”.
As VPNs são um tipo de software que cria um túnel criptografado entre o usuário e um servidor remoto, alterando o endereço IP exclusivo do usuário e ocultando a origem do seu endereço IP. Dessa maneira, se um site tentar bloquear o tráfego russo, quem acessar o site por meio de uma VPN não parecerá mais vindo da Rússia, mas de qualquer parte do mundo.
A empresa de VPN Windscribe disse à revista americana Wired que quase 1 milhão de pessoas na Rússia se inscreveram para utilizar seus serviços desde o início da guerra — 20 vezes o número que tinha antes da invasão da Ucrânia. Outro provedor de VPN, chamado Psiphon, informou que seu número diário de usuários ativos na Rússia saltou de 650.000 para mais de 1,1 milhão logo após o governo bloquear o acesso ao Instagram, no dia 14 de março.
As autoridades russas tentam transformar a internet de seu país em uma ilha, cortando seus laços com a internet global. De acordo com um levantamento do site Top10VPN.com, especializado em análise de VPN, cerca de 400 sites de notícias, 138 sites de finanças, 93 sites antiguerra e três plataformas de mídia social (Instagram, Facebook e Twitter) foram bloqueados na Rússia desde o início da guerra.
Há indícios de que o YouTube também deverá ser, em breve, banido no país. Nos últimos dias, o Ministério da Ciência e do Ensino Superior da Rússia determinou que as universidades transfiram seus vídeos do YouTube para plataformas estatais russas até ontem, 4 de abril. Além disso, a Prefeitura de Moscou emitiu uma recomendação para que grandes empresas fechem seus canais no YouTube e transfiram conteúdo também até ontem — sinalizando a iminência do banimento do YouTube.
Diante disso, a tendência é que a procura por serviços de VPN cresça ainda mais na Rússia. Mas, afinal, o que é VPN e como ela funciona? Com a palavra, Rodolfo Avelino, professor de Cibersegurança no curso de Ciência da Computação do Insper:
Para que serve a VPN?
Rodolfo Avelino – As redes virtuais privadas, ou simplesmente VPN, surgiram para permitir que uma conexão entre dois pontos geograficamente distantes pudesse ter um meio de comunicação segura. Por exemplo, uma empresa tem uma filial em São Paulo e outra em Fortaleza e precisa que os usuários da rede de Fortaleza acessem sistemas e serviços que estão hospedados em São Paulo. Para atender a essa demanda, as operadoras de telecomunicação ofereciam uma infraestrutura de comunicação como se conectasse um cabo de rede entre as filiais de São Paulo e de Fortaleza (era um serviço caro). Esse tipo de VPN é conhecida como server-to-server, pois suas configurações eram feitas nos servidores das duas filiais. Essa comunicação é criptografada, ou seja, se alguma pessoa ou sistema interceptá-la, não será capaz de ter acesso à comunicação.
Com a evolução da tecnologia, novas ferramentas e protocolos via software surgiram, fazendo com que essa forma de conexão entre pontos ficasse mais acessível. Nesse momento, a VPN começou a se popularizar e uma nova forma de realizar sua configuração surgiu, a client-to-server. Ou seja, em vez de conectar filiais, ela passou também a conectar usuários às filiais — é o formato utilizado hoje, por exemplo, aos que trabalham em regime de home office.
Nesse momento, esse tipo de conexão segura se tornou um produto comercial que não necessariamente segue o seu objetivo original. Alguns provedores de internet passaram a vender a VPN como serviço e permite que uma pessoa realize uma conexão VPN até seu servidor. O objetivo disso é fazer com que todo o tráfego de internet do usuário não “saia” mais por sua conexão (número IP) residencial, e sim pela conexão (número IP) do provedor de VPN, que, muitas vezes, estão localizados em outros países. Isso faz com que o usuário esteja de certa forma “anônimo” na internet, pois toda a sua navegação passa a ser realizada pelo IP do provedor de VPN, e não mais pelo IP de seu provedor de internet regional.
Quais são as principais vantagens de usar VPN?
Rodolfo Avelino – Para o usuário, a principal vantagem é o anonimato, mas também muitos utilizam a VPN quando, por alguma ação jurídica, o acesso a um serviço é bloqueado — como já aconteceu com o WhatsApp e, mais recentemente, com o Telegram —, ou quando se deseja, por exemplo, assistir a um seriado que ainda não está passando no Brasil.
Para a empresa, é uma forma de garantir que as conexões remotas, sejam elas utilizadas para o trabalho em home office, sejam para a comunicação entre filiais, clientes e fornecedores, se tornem mais seguras, evitando a interceptação de comunicação por agentes não autorizados.
Quais são os principais riscos no uso de VPN?
Rodolfo Avelino – As VPNs não trazem grandes riscos. Do lado da empresa, o maior risco pode ser uma VPN mal configurada ou ter um usuário em home office descuidado. Por exemplo, quando um usuário não guarda de forma adequada a chave para se conectar em uma VPN corporativa.
