A E-Moving vai terminar o ano com uma frota de 2 mil bicicletas elétricas. A meta, segundo o CEO Gabriel Arcon, é se tornar a maior empresa de micromobilidade corporativa do país
Leandro Steiw
Com o recente aporte de 15 milhões de reais, a E-Moving, startup especializada em serviços de assinatura de bicicletas elétricas (e-bikes) para empresas, prepara-se para ampliar a sua frota e aumentar a equipe de atendimento e assistência. O novo parceiro é a Bertha Capital, gestora de investimentos em startups da Multilaser, fabricante de produtos eletroeletrônicos e de informática. Já se passaram sete anos desde que Gabriel Arcon e Kleber Piedade juntaram 10 e-bikes e começaram a procurar os primeiros clientes em São Paulo. Hoje, são 700 bicicletas. Até o fim de 2022, serão 2 mil.
Arcon formou-se em Administração de Empresas pelo Insper em 2005. Ele acredita que, além da excelente formação técnica, o curso ajudou a desenvolver sua capacidade analítica e de comunicação. “Os famosos Cases de Harvard e os debates em sala de aula contribuíram muito para o meu desenvolvimento”, diz Arcon. Anos depois, o CEO e fundador da E-Moving voltou para fazer um curso de empreendedorismo em parceria com a Endeavor e outro curso de liderança e gestão de pessoas. “O networking criado tanto na graduação quanto nesses outros cursos foi muito rico”, afirma.
Gabriel Arcon e Kleber Piedade conheceram-se em 2009, por meio de um amigo em comum. Da amizade às trocas de planos sobre negócios em viagens e eventos, os dois se uniram em torno da E-Moving, que Arcon bolou em 2014 depois de se encantar pelas bicicletas elétricas. Ele tinha 31 anos e gastava de 40 minutos a uma hora e meia para transitar da casa ao trabalho, em São Paulo. Queria dar um basta ao desperdício de tempo.
A primeira tentativa foi deixar o carro na garagem e pedalar até o emprego no fundo de investimento. O tempo de viagem caiu para alguns minutos diários, mas há quem diga que o sucesso é 1% inspiração e 99% transpiração — outros divergem e afirmam que a proporção é de 10%-90%. Não importa. Arcon percebeu que, nos dias muito quentes, chegava ao escritório suado e que nem sempre mudar a camisa eliminava o incômodo. Trocou, então, a bicicleta tradicional por uma elétrica.
A e-bike chamou a atenção dos colegas de trabalho, que pediam informações sobre a nova aquisição. Logo, bateu o 1% de inspiração, e Arcon foi estudar o mercado de mobilidade. Na virada de 2014, ele pediu demissão e fundou a E-Moving, não sem antes convencer o futuro sócio Kleber Piedade a comprar uma bike elétrica. Se o veículo resolvia os problemas deles com deslocamento e cortava os custos com combustíveis e estacionamento, poderia servir para muito mais gente.
O foco inicial da startup foi o mercado B2C, direto ao consumidor. “A nossa ideia era alugar as e-bikes por hora, para as pessoas utilizarem em trajetos curtos, como almoços ou reuniões”, diz Arcon. “Testamos essa tese em espaços de coworking e hotéis, porém, percebemos que o movimento era baixo e que poucas pessoas conheciam as bicicletas elétricas.” Para tocar o negócio adiante, fez-se uma transição rápida para o aluguel mensal. Em 2019, os executivos da empresa passaram a contemplar o mercado B2B, principalmente o de benefícios corporativos.
Segundo Arcon, é importante entender a demanda do cliente, se adaptar e ter os pés no chão. “Quando tivemos o boom de patinetes no Brasil, muita gente acreditou que aquele seria o modelo ‘vencedor’ em micromobilidade, mas nos mantivemos firmes no nosso caminho de assinatura de e-bikes e conseguimos sobreviver e seguir crescendo”, afirma. “O segredo é escutar o seu cliente, não seguir os modismos do mercado e trabalhar por um propósito.”
Entre 2019 e 2021, a E-Moving operou para os dois públicos, até entrar oficialmente no mercado corporativo — atualmente, são 30 companhias que usam o serviço das e-bikes. Para Arcon, o mercado de mobilidade passou por muitas mudanças nos últimos sete anos. Diversas empresas nasceram e feneceram. O surto da covid-19 esvaziou as ruas. “A E-moving foi resiliente, cresceu mesmo com todos os desafios (sobretudo a pandemia) e chega a 2022 pronta para se tornar a maior empresa de micromobilidade corporativa do Brasil”, festeja.
O histórico de investimentos da E-Moving é respeitável. Em 2017, no programa Shark Tank Brasil, os sócios receberam um aporte de 1,6 milhão de reais do grupo Smart Fit/Bio Ritmo. No ano seguinte, foram 3,1 milhões de reais da Movida, do segmento de locação de automóveis, e 2,5 milhões de reais da empresa de investimentos Componente. A startup também abriu captação na plataforma de crowdfunding SMU Investimentos.
Os desafios não terminaram para a startup, que tem parcerias indiretas com oficinas mecânicas, SOS e seguro de bike e emprega 25 pessoas. “Somos uma empresa que acredita que pequenas mudanças fazem uma grande diferença e, por isso, a jornada é longa. Acreditamos que a escolha do transporte impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas e a saúde do planeta”, diz Arcon.
A operação está concentrada em São Paulo, mas uma das apostas é se expandir para outras cidades. “A E-Moving ainda está muito no começo de sua potencial curva de crescimento”, considera Arcon. Ele observa que a distância média percorrida pelo paulistano de casa para o trabalho é de 7,8 quilômetros, o que significam milhares de pessoas para cativar. Como ex-aluno, um dos seus sonhos é viabilizar, a um custo ainda menor, a assinatura das e-bikes para todos os alunos e funcionários do Insper. “Não faz sentido um estudante ter carro, dado que, na média, eles moram, trabalham e tem suas atividades perto da faculdade”, afirma.