[{"jcr:title":"Meninas e mulheres na Ciência: por mais visibilidade e valorização no Brasil"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Meninas e mulheres na Ciência: por mais visibilidade e valorização no Brasil","jcr:description":"Uma amostra do altíssimo nível de pesquisas científicas desenvolvidas por mulheres no país. É um trabalho em sua maioria discreto e silencioso, que precisa ser divulgado e incentivado"},{"subtitle":"Uma amostra do altíssimo nível de pesquisas científicas desenvolvidas por mulheres no país. É um trabalho em sua maioria discreto e silencioso, que precisa ser divulgado e incentivado","author":"Ernesto Yoshida","title":"Meninas e mulheres na Ciência: por mais visibilidade e valorização no Brasil","content":"Uma amostra do alto nível de pesquisas científicas desenvolvidas por mulheres no país. É um trabalho em sua maior parte discreto e silencioso, que precisa ser divulgado e incentivado   Graziela Tonin*   No último dia 11 de fevereiro, comemoramos o Dia Internacional de Meninas e Mulheres na Ciência . A data foi instituída em 2015 pelas Nações Unidas para promover a igualdade de direitos entre homens e mulheres e dar visibilidade ao trabalho, ao papel e às contribuições das mulheres nas áreas de pesquisa científica. Gostaria de aproveitar a data para lembrar alguns dos grandes nomes da ciência no Brasil que foram premiadas internacionalmente e que ainda têm pouca visibilidade e valorização no país. Nosso país, nossa economia e nossa vida têm sido diretamente impactados por suas contribuições científicas. Por isso, não quero destacar aqui apenas as cientistas das áreas de STEM ( science, technology, engineering and mathematics ), mas de maneira mais ampla. Começo citando os recentes e valiosos resultados obtidos em tempo recorde na área da saúde pelo grupo de pesquisa da Dra. Ester Sabino , que, entre outros trabalhos importantes, contribuiu para o sequenciamento completo do genoma do coronavírus (Sars-CoV2), em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso no país. Desse grupo faz parte também a pós-doutoranda J aqueline Góes , que contribuiu para o aprimoramento de protocolos de sequenciamento de genomas do novo coronavírus. Ainda na área da saúde, temos os trabalhos de  Suzana Herculano-Houzel , neurocientista que contou o número de neurônios no cérebro humano: 86 bilhões. A Dra. Lygia da Veiga Pereira Carramaschi , que, entre outros estudos, trabalha com genética humana utilizando células-tronco embrionárias e modelos animais de doenças genéticas para entender a inativação do cromossomo X e os sistemas vascular e ósseo na síndrome de Marfan. A Dra. Natalia Pasternak , formada em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e PhD com pós-doutorado em microbiologia, na área de genética molecular de bactérias. Ela ganhou vários prêmios no Brasil e no exterior e também contribuiu ativamente para a conscientização e a divulgação dos achados científicos durante a pandemia. Os trabalhos das Dra. Mayana Zatz , bióloga molecular e geneticista brasileira que colaborou principalmente no campo de doenças neuromusculares, como esclerose lateral amiotrófica (ELA) e paraplegias espásticas. A epidemiologista Celina Turchi , que comandou o grupo de pesquisas que descobriu a relação entre o vírus da Zika e a microcefalia. A Dra. Margareth Maria Pretti Dalcolmo , com o seu trabalho na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), contribui incansavelmente não somente com pesquisas clínicas, mas também para a conscientização e divulgação científica. Ela tem vasto conhecimento e contribuições na área de doenças respiratórias. A professora Ângela Wyse , bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a única brasileira a figurar em 2020 na lista de vencedoras do prêmio Cientistas do Ano, concedido pela International Achievements Research Center (IARC), na área de Ciências Médicas e da Saúde. A física Márcia Cristina Bernardes Barbosa , também da UFRGS, recebeu em 2013 um dos cinco prêmios L’Oréal-Unesco para Mulheres e Ciência, por sua descoberta de uma anomalia na água que poderá levar a uma compreensão melhor do mecanismo de dobramento de proteínas, essencial para o tratamento de certas doenças. A astrofísica Duilia Fernandes de Mello , radicada nos Estados Unidos, onde atua como vice-reitora de estratégias globais e é professora titular de física na Universidade Católica da América (CUA, na sigla em inglês), em Washington. Desde 1997, ela colabora com equipes da Nasa e é uma das autoras das imagens das profundezas do universo tiradas com o telescópio espacial Hubble. Descobriu uma supernova e o fenômeno das bolhas azuis — aglomerados estelares “perdidos” no espaço entre as galáxias. Conhecida como a “Mulher das Estrelas”, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais e recentemente falou sobre mulheres, ciência e Brasil [numa live](https://www.youtube.com/watch?v=W_X-3bLd7nY) . Outra astrofísica brasileira, Thaisa Bergmann , recebeu o prêmio For Women in Science, por sua pesquisa sobre buracos negros supermassivos. A Dra. Sonia Guimarães , doutora em física pela University of Manchester Institute of Science and Technology, compõe, há 24 anos, o corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Ela atua na área de física aplicada, com ênfase em propriedade eletróticas de ligas semicondutoras crescidas epitaxialmente, uma área que possibilitou o desenvolvimento da tecnologia para celulares. Além disso, conduziu pesquisas sobre sensores de radiação infravermelha. No dia 11 de fevereiro, aconteceu a cerimônia de entrega do terceiro prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, concedido a Gulnar Azevedo e Silva , professora titular do Instituto de Medicina Social Hésio Cordeiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na ocasião, foi reconhecida também a cientista Nilma Lino Gomes , que atua há anos como professora titular e emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela foi a vencedora do prêmio na área de Humanidades. Já Beatriz Leonor Silveira Barbuy , docente do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, recebeu o prêmio na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra. As três mulheres premiadas aplicam ciência para melhorar as condições de vida e reduzir as desigualdade no país. Não poderia deixar de citar também alguns dos nomes das precursoras em nosso país, como a cientista Bertha Lutz (1894-1976), bióloga especializada em anfíbios e que foi chefe do Departamento de Botânica do Museu Nacional, tornando-se a segunda mulher brasileira a fazer parte do serviço público no país, em 1919. A Dra. Sonja Ashauer (1923-1948), a primeira mulher brasileira a concluir o doutorado em física na USP. Em 1945, ela trabalhou na Universidade de Cambridge sob a supervisão de Paul Dirac, Prêmio Nobel de Física em 1933. Graziela Maciel Barroso (1912- 2003), que defendeu seu doutorado aos 60 anos na Unicamp e se tornou a maior taxonomista de plantas no Brasil. Alice Piffer Canabrava (1911-2003), que foi uma grande historiadora. Em 1946, pleiteou a cadeira de titular de História da América na Universidade de São Paulo. Mesmo obtendo a maior média no conjunto de provas, viu o cargo ser dado pela banca examinadora a um concorrente homem. Anos depois, em 1951, ela se tornou a primeira professora catedrática da USP, na disciplina História Econômica Geral do Brasil. Elza Furtado Gomide (1925-2013), importante matemática, foi a primeira brasileira a concluir seu doutorado na área. A Dra. Johanna Döbereiner (1924-2000), que nasceu na antiga Tchecoslováquia, mas fugiu com a família após o final da Segunda Guerra Mundial e se naturalizou brasileira. Sua pesquisa revolucionou a produção brasileira de soja, o que possibilitou uma economia anual de 2 bilhões de dólares em adubos nitrogenados no país. Por suas contribuições, foi indicada ao Prêmio Nobel. Atualmente, as jovens cientistas brasileiras ainda estão buscando seu espaço, mas muitas já deram contribuições de grande relevância, como Carolina Marcelino , doutora em modelagem matemática que foi contemplada com o Prêmio Marie Curie Fellow, concedido pela União Europeia, em 2019. Sua pesquisa faz uso de inteligência artificial para geração de energia elétrica sustentável. Em uma entrevista, ela destacou o impacto social desse trabalho: “Quando você entrega energia elétrica para uma comunidade, a qualidade de vida dessas pessoas melhora. Os alimentos passam a ser mais bem armazenados e isso previne doenças”. Esta é uma pequena amostra do altíssimo nível da ciência produzida por cientistas mulheres em nosso país, um trabalho em sua maioria discreto e silencioso, e que precisa ser divulgado e incentivado, por meio de investimentos, suporte e valorização. Não podemos esquecer que a grande maioria trabalha arduamente dia após dia, de forma oculta. Mesmo enfrentando situações adversas, não desistem de desenvolver e contribuir para a evolução do conhecimento em nosso país, com resultados mensuráveis.   Os desafios escancarados pelos dados Atualmente, enquanto países desenvolvidos aumentam seus investimentos em pesquisa, o Brasil anda na contramão, com os investimentos em ciência regredindo para os níveis de 12 anos atrás. Lá fora, temos exemplos de países que fazem planejamento de longo prazo e aumentam a densidade de cientistas por milhão de habitantes. Até mesmo em países ricos, como os Estados Unidos e a Suíça, a ciência básica é primordialmente apoiada por financiamento público. Apesar dos desafios financeiros, segundo [dados da Unesco](https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377250) de 2021, as mulheres representam 54% dos títulos de doutorado obtidos no Brasil. Mas elas representam apenas 33% do total de bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq e recebem menos por suas pesquisas. Nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias e Computação, a desigualdade é mais gritante. Os homens assinam 75% dos artigos nas áreas de Computação e de Matemática. Essas dificuldades aumentam ainda mais para as cientistas mães. Segundo [uma pesquisa do Parent in Science](https://www.parentinscience.com/_files/ugd/0b341b_81cd8390d0f94bfd8fcd17ee6f29bc0e.pdf?index=true) , durante o isolamento social provocado pela pandemia, apenas 4,1% das mulheres com filhos conseguiram trabalhar remotamente. Ainda há uma expressiva desigualdade quando olhamos para quem ocupa os cargos de alto escalão. Apenas 20% são ocupados por mulheres. De novo, a tomada de decisão em áreas estratégicas e de direcionamento dos investimentos está nas mãos majoritariamente do gênero masculino. Levamos 120 anos para a primeira mulher assumir a presidência da Fiocruz, a Dra. Nísia Verônica Trindade Lima . Isso tudo em um país com muita desigualdade e que precisa de uma indústria mais competitiva, agregar mais valor aos commodities, produzir mais inovação e tecnologia, e não ser um mero consumidor de produtos fabricados em outros países. O desafio é grande para qualquer cientista no Brasil. Que dizer para as mulheres?! É ainda maior, pois precisam lidar também com a discriminação de gênero. Poderíamos mais uma vez tornar a cultura a vilã dessa história: a cultura de quem governa, de quem em casa cita frases apenas dos renomados cientistas estrangeiros, e que nunca falou para seu filho ou sua filha sobre as grandes cientistas deste país, ou nem sequer conhece sua existência. Poderíamos culpar uma cultura que elege os que decidem investir 4,9 bilhões de reais do orçamento federal em um fundo eleitoral, ao mesmo tempo em que cortam os investimentos em educação, em políticas públicas e, pasmem, em saúde, apesar de o país estar ainda sofrendo os impactos da pandemia, com mais de 639 mil mortes até o momento. Essa cultura que propaga comportamentos, tradições, conhecimentos e saberes de um determinado grupo. Repetimos todos os dias que somos moldados pela cultura.  Mas é a cultura que faz as pessoas, não deveria ser o contrário? Seria por isso que a plenitude das mulheres, há séculos, não cabe nessa cultura? Se hoje, ao ler este artigo, você tomou conhecimento de uma nova cientista brasileira e passar a propagar seu nome e seus feitos em casa, para seus filhos e seus conhecidos, este texto já terá valido a pena. Parabéns a todas as aguerridas cientistas brasileiras! Aos colegas homens, conto com vocês para que, juntos, possamos incluir na nossa cultura a existência da plenitude da mulher na ciência, em todos os escalões. Mesmo que você discorde de minha visão, peço gentilmente que assista a  [este vídeo](https://www.youtube.com/watch?v=mSO5EgN1MII) da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie e faça uma reflexão. Ela explica por que todos nós — mulheres ou homens — deveríamos ser feministas.   *  Graziela Tonin  é doutora em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo, na área de Engenharia de Software, Dívida Técnica e Metodologias Ágeis. Ela vai lecionar a disciplina Projeto Ágil e Programação Eficaz no novo curso de  [Ciência da Computação](https://www.insper.edu.br/graduacao/ciencia-da-computacao/)  do Insper   LEIA TAMBÉM: [Por que o mercado de tecnologia precisa de mais mulheres](https://www.insper.edu.br/noticias/por-que-o-mercado-de-tecnologia-precisa-de-mais-mulheres/)"}]