Programa teve duração de três dias e contou com a participação de 120 mulheres filiadas ao Partido Social Democrático

 

Bárbara Nór

 

No início de dezembro, ao longo de três dias no Insper, 120 mulheres participaram do curso Formação Política para Mulheres Líderes. Fruto de uma parceria do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper com o PSD Mulher — braço do Partido Social Democrático que busca ampliar a participação feminina na política —, a imersão sobre poder, gênero e democracia tinha como um dos objetivos o fortalecimento da atuação dessas mulheres em suas atividades políticas e públicas.

“O Brasil é um dos países com maior desigualdade de gênero em termos de participação política das mulheres”, diz Ana Diniz, professora e pesquisadora no Insper, onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Diversidade e Inclusão no Trabalho. Embora representem mais da metade do eleitorado no país, elas ocupavam menos de 15% dos cargos eletivos no início do ano, o que coloca o país como o 133° lugar em percentual de participação política das mulheres no parlamento no mundo. E, para essas mulheres, a atuação na arena política pode ser difícil tanto diante dos colegas parlamentares quanto com os membros do próprio partido.

“Quando uma colega mulher brilhante bate de frente com o prefeito ou o governador, colegas homens podem criar constrangimentos e situações que acabam fazendo com que ela vá embora do partido”, diz Alda Marco Antonio, coordenadora nacional do PSD Mulher e que foi vice-prefeita de São Paulo de 2009 a 2013, durante a gestão de Gilberto Kassab. “Queremos melhorar a condição pessoal de cada uma para os embates que ela é obrigada a travar dentro e fora do partido no mundo da política.”

Por isso, a ideia do curso era dar ferramentas para enfrentar os obstáculos desse dia a dia, conta Ana, uma das responsáveis pelo desenho do curso. “Fizemos uma proposta de formação que pudesse dar ferramentas para que essas mulheres que já atuam no partido possam potencializar a sua ação na arena pública”, diz Ana.

O curso foi dividido em três grandes módulos. O objetivo do primeiro consistia em entender o contexto social e econômico fundamental para atuar na arena política. Em seguida, a turma foi dividida em dois grupos para promover discussões sobre democracia e sistema político brasileiro, gênero e políticas públicas para as mulheres, além de questões sobre poder e influência. Por fim, no último dia, as participantes elaboraram, com a mediação das professoras do Insper, uma agenda de futuro para as mulheres no PSD, definindo as prioridades e ações a serem feitas.

 

Diversidade das participantes

As participantes vieram de todos os 26 estados e do Distrito Federal, de todos os diretórios regionais do PSD. “Nossa militância tem uma diversidade muito grande, algo que considero muito rico”, diz Alda. Mulheres de todas as raças, origens sociais e LGBTQIA+ fazem parte do partido, com diferentes níveis de experiência no cenário político.

Dar conta dessa heterogeneidade foi um dos maiores desafios, comenta Ana Diniz, mas também um dos mais compensadores. “Queríamos contemplar todas elas, passando desde questões conceituais até ferramentas que elas pudessem usar no dia a dia”, diz a professora. “Acho que conseguimos construir com elas um curso com uma abordagem inovadora.”

Entre os temas debatidos, estiveram questões sobre gênero, políticas para as mulheres, com conceitos, teorias e ferramentas de outras áreas além da política que pudessem contribuir para a atuação no partido. Questões fundamentais, como a divisão dos poderes e o funcionamento do sistema político brasileiro, também foram abordadas para incluir aquelas ainda no início da carreira política. Além disso, foram trabalhadas também competências para a liderança. “Diante desse cenário que impõe limitações e obstáculos para as mulheres, a ideia era contribuir para que cada uma mobilizasse mais recursos para superar as barreiras e fazer entregas”, diz Ana.

Segundo ela, a experiência foi de muito aprendizado — inclusive para as próprias professoras do Insper. “O engajamento das participantes foi contagiante, todas muito dedicadas e interessadas, querendo participar, relatar experiências”, afirma. “Foi muito interessante participar de todas as discussões, e a Alda é uma figura fundamental no desenvolvimento das políticas para as mulheres no Brasil. Foi uma honra imensa construir essa formação com ela.”

Para Alda, a experiência foi também de mais união e contato entre as mulheres, além das discussões sobre a própria atuação no partido. “Surgiu até uma sugestão na última aula sobre mudar de PSD Mulher para PSD Mulheres, no sentido de acolher toda a diversidade de mulheres que temos”, diz Alda. “Ainda vamos ter um reflexo de tudo isso que aconteceu.” Depois do curso, ela conta, um grupo de WhatsApp foi criado para manter o contato entre as participantes — antes, só havia grupos para as coordenadoras.

Alda destaca também que a parceria com o Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper foi um “grande acerto”. “Fiquei muito recompensada ao assistir às aulas e atesto a grande qualidade das exposições, da estratégia de apresentação dos temas, a forma de agir nas salas”, afirma. “E já antecipo que gostaria que esse curso se tornasse itinerante e pudesse visitar todas as capitais brasileiras para que mais de nossas militantes possam passar por essa experiência.”

 

---

GALERIA DE FOTOS: