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O futuro do consumo de carne está nas proteínas alternativas?

Preço, conhecimento da tecnologia, conveniência e sabor podem superar fatores culturais e comerciais, segundo os pesquisadores da organização The Good Food Institute

Seminário Internacional de Inovação: palestra The Good Food Institute

Preço, conhecimento da tecnologia, conveniência e sabor podem superar fatores culturais e comerciais, segundo os pesquisadores da organização The Good Food Institute

 

Leandro Steiw

 

A redução no consumo de carne, como forma de aliviar o impacto sobre o meio ambiente e melhorar o acesso a alimentos mais saudáveis, é uma das apostas da indústria de proteínas alternativas. O nanocientista Tom Ben-Arye e a jornalista Raquel Casselli, do The Good Food Institute (GFI), sustentam a ideia na projeção da consultoria A.T. Kearney para o crescimento mundial do mercado de carne. Enquanto a carne convencional cairia de 90% para 40% das vendas de 2025 a 2040, a carne cultivada (ou artificial) subiria de zero a 35% no mesmo período.

Os dois convidados participaram da sessão “Alternative Proteins: Science, technology and health” do Seminário Internacional de Inovação, organizado pelo Hub de Inovação Paulo Cunha do Insper. Para Raquel, diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil, comida é cultura, status, uma ferramenta para a socialização e está diretamente ligada às tradições dos povos. Nesse âmbito, o consumo de carne é visto, frequentemente, como um item de desejo, ascensão social e parte de receitas tradicionais.

O GFI trabalha com uma teoria da mudança baseada em quatro pontos: preço, conhecimento, conveniência e sabor. Conforme Raquel, esses quatro itens sustentariam a troca da carne, independentemente de fatores culturais e comerciais, e reduziriam os impactos ambiental, social e ético, entre outros.

A decisão pela carne convencional, cultivada, à base de plantas ou fermentada (embutidos, por exemplo) será do consumidor, acredita Raquel, especialista em gestão da sustentabilidade corporativa. Inclusive, a indústria prevê o consumo simultâneo de todos os tipos, porque 89% dos consumidores de produtos à base de plantas não se consideram veganos, nem vegetarianos, mas semivegetarianos. “Essa é a visão das companhias”, disse. “No Brasil, há a cultura de que é um mercado ‘e’ e não ‘ou’.”

A carne cultivada é resultado da multiplicação de células-tronco. Uma pequena amostra de células é retirada do animal e adicionada a um biorreator junto com um meio de cultura celular, gerando a proliferação das células, explicou Ben-Arye, cientista sênior do GFI Israel. Ainda no laboratório, ocorre a maturação do tecido, diferenciando as células em músculo, gordura e tecido conjuntivo — que, em seguida, serão transformados em formas variadas de alimentos. Inovações na área de bioimpressão 3D também ser outra fonte de fabricação da carne artificial.

Do ponto de vista da segurança alimentar, Ben-Arye citou um dado da Organização Mundial de Saúde: 60% das doenças humanas têm origem em animais. Nos Estados Unidos, registram-se anualmente 76 milhões de casos de doenças transmitidas por alimentos, com 325.000 hospitalizações e 5.000 mortes, um terço das quais atribuídas ao consumo de carne. Ainda segundo Ben-Arye, os resíduos de antibióticos usados na criação de animais para abate acabam se acumulando no organismo humano.

 

Outras motivações

O impacto ambiental da produção de carne aparece na forma de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa (mais do que o setor de transporte), 78% da perda da biodiversidade terrestre, 80% da acidificação do solo e da poluição do ar e 73% da poluição da água. A produção de um quilo de carne bovina consome 15.000 litros de água. Por fim, há a motivação do bem-estar animal, pois 150 bilhões de animais são mortos anualmente para suprir o mercado de carnes.

Estudos da GFI estimam que a carne cultivada, comparada à carne bovina e ao gado de corte, utiliza 95% menos terra e 78% menos água, além de produzir 93% menos poluição do ar e 92% menos emissões de gases do efeito estufa. Os dados são muito semelhantes para os produtos feitos à base de plantas, que também usam menos terra e água e poluem menos que a carne convencional, argumentaram os palestrantes.

Ben-Arye falou da preocupação com a rejeição às carnes cultivadas e à base de plantas, como aconteceu com os organismos geneticamente modificados (OGMs), que foram identificados como inseguros por parte da população. Ele afirmou que a tecnologia do GFI não tem a ver com modificações genéticas, como os transgênicos. Outra distinção é mercadológica. “Os produtos da GFI são focados no consumidor, enquanto os OGMs são desenvolvidos com a finalidade de a indústria química vender os seus produtos químicos para agricultores”, afirmou. “Parte da nossa responsabilidade é criar produtos mais saudáveis, que o consumidor compre baseado na segurança do processo.”

 

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