“Os empreendedores brasileiros são criativos e cheios de energia, mas precisam de um poderoso ecossistema integrado”, diz Shlomo Maital, professor do Instituto de Tecnologia de Israel
Poucas nações experimentaram um desenvolvimento socioeconômico tão pujante como Israel — criado em 1948, o pequeno país no Oriente Médio desfruta hoje de um PIB per capita de 50 mil dólares, um dos maiores do mundo, 284% superior ao registrado em 1990. Fortes investimentos em educação e políticas públicas voltadas à inovação respondem, em boa parte, por esse resultado. Israel se tornou conhecido como berço de empresas como o Waze e atrai, por ano, mais de 10 bilhões de dólares em investimentos em startups — o país conta hoje com mais de 70 unicórnios, negócios nascentes avaliados em pelo menos 1 bilhão de dólares.
Israel não teria chegado a essa situação sem um conjunto de estratégias direcionadas à inovação, que incluíram desde a participação direta do governo no estímulo ao desenvolvimento de startups até a atração de talentos internacionais. Na visão de Shlomo Maital, professor do Instituto de Tecnologia de Israel, conhecido como Technion, trata-se de um processo replicável em outros países, como o Brasil.
“Os empreendedores brasileiros são criativos e cheios de energia, mas precisam de um poderoso ecossistema integrado para utilizar completamente seu enorme potencial”, disse Maital em sua sessão durante o Seminário Internacional de Inovação, organizado pelo Hub de Inovação Paulo Cunha do Insper, no dia 25 de outubro. Na sessão de Maital, a discussão do ecossistema do país foi o foco e contou com a participação também dos professores Andrea Minardi, diretora da Sociedade Brasileira de Finanças e pesquisadora na área de private equity, e Charles Kirschbaum, pós-doutor em sociologia econômica pela Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos.
Maital, um dos autores do livro Aspiration, Inspiration, Perspiration: How Technion faculty and graduates fuse creativity and technology to change the world (em tradução livre: “Aspiração, inspiração, transpiração: como professores e graduados do Technion fundem criatividade e tecnologia para mudar o mundo”), lembrou que a inovação é fruto da cultura do país. “O mapeamento de ecossistemas nacionais de inovação mostra que todas as peças precisam funcionar juntas, com âncoras como a cultura local, processos e parcerias estratégicas.”
Em Israel, o processo de inovação contou com o apoio de iniciativas públicas. Em 1993, o governo criou um fundo de venture capital para incentivar o desenvolvimento de startups. “Foi algo brilhante, e com isso o governo dobrou a taxa de retorno de investimento”, disse Maital. A estratégia deu tão certo que, depois de algum tempo, o sistema de financiamento de negócios nascentes se tornou maduro o suficiente para prescindir do apoio governamental. “Metade de nossas exportações hoje vem de empresas que nasceram como startups.”
Outro passo foi lidar com o fracasso como um passo importante para a inovação, oferecendo uma segunda chance a empreendedores de alto potencial e performance. A atração de capital humano também representou um elemento fundamental dessa estratégia. No início dos anos 1990, Israel abriu as portas para imigrantes russos, entre eles médicos e especialistas em tecnologia, que desejavam deixar a antiga União Soviética em busca de oportunidades. Ao mesmo tempo, investimentos em educação pavimentaram o desenvolvimento do capital humano.
“No Brasil, vocês têm capital financeiro e humano, ao lado de pesquisa de ponta e o apetite por inovação, assim como em Israel”, disse Maital. Ele destacou também o avanço das universidades brasileiras e de uma cultura voltada a trazer valor para a sociedade. O dinamismo da economia e uma atitude aberta, que abraça o empreendedorismo, são outros pontos favoráveis.
Mas também há desafios. “É difícil fazer negócios no Brasil devido à burocracia, mas é possível mudar isso. O sistema tributário também é complicado”, afirmou. A infraestrutura precária foi citada como outro aspecto negativo, assim como a falta de estabilidade econômica.
O professor israelense lembrou também a necessidade de aprimorar a educação e reduzir a insegurança jurídica, além de ter “pessoas competentes” para conduzir o país. “Para construir uma máquina poderosa de geração de riqueza por meio da inovação e dos jovens, todas essas peças precisam estar juntas. Embora pareça algo óbvio, a questão é como fazer isso.”
Analisar exemplos de outros países, como Singapura e Israel, e usá-los como bechmarking é um bom começo. Promover uma política econômica e fiscal estável, além de simplificar o ambiente de negócios, é outro componente essencial desse processo, ensina Maital: “Nós fizemos isso em Israel e vocês também podem fazer”.