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Como as novas tecnologias podem auxiliar no tratamento de fobias

As experiências imersivas têm ajudado o paciente a se expor de forma gradativa a seus medos e, com o suporte dos profissionais de saúde, ultrapassar suas barreiras

As experiências imersivas têm ajudado o paciente a se expor de forma gradativa a seus medos e, com o suporte dos profissionais de saúde, ultrapassar suas barreiras

 

Renata Frischer Vilenky e Priscila Palomo*

 

Este artigo nasceu de uma conversa cheia de aprendizado e possibilidades com Priscila Palomo, doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Valência, na Espanha. Em sua prática clínica, ela tem usado cada vez mais as novas tecnologias imersivas para ajudar pacientes com fobias a se tratarem e se libertarem de seus medos, ganhando novas perspectivas para lidar com o cotidiano.

Para entender um pouco mais sobre como as fobias afetam a vida das pessoas, a doutora Priscila nos trouxe dados e um contexto científico a fim de elucidar as oportunidades de tratamento que as tecnologias trouxeram para o meio clínico.

As fobias específicas afetam cerca de 13% das mulheres e 4% dos homens (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-5). Uma fobia específica é o medo e a ansiedade diante de uma situação ou de um objeto específico em um grau que é desproporcional ao perigo ou ao risco real.

Segundo as ciências cognitivas, para superar uma fobia é preciso se expor ao medo com a ajuda de profissionais para realizar o que chamamos de dessensibilização sistemática — uma técnica gradual para criar recursos de enfrentamento do medo com o objetivo de diminuí-lo.

Um estudo na Espanha, feito por Garcia Palacios em 2007 com pacientes que sofriam de fobias, mostrou que 27% deles rejeitaram a exposição ao vivo ao contexto que lhes causava a fobia, enquanto somente 3% rejeitaram a exposição por meio de realidade virtual.

As tecnologias imersivas, como realidade virtual, realidade aumentada e realidade mista, têm crescido na aplicação de tratamentos de fobia, por permitir que o paciente seja exposto de forma gradativa a seus medos e, com o suporte dos profissionais de saúde, consiga ultrapassar suas barreiras ou aprender a lidar com elas.

Já existe uma série de comprovações científicas que demonstram a eficácia das tecnologias imersivas no impacto cognitivo (Sanchez-Vives & Slater, 2005).

É fato que o nosso cérebro é incrível e possui uma capacidade de neuroplasticidade sem precedentes, e foi por isso mesmo descoberto que ele pode ser enganado por meio de ilusões sensório motoras (V Petkova & H Ericksson, 2008).

Em suma, o nosso cérebro não sabe distinguir o que é real, diante de uma ilusão sensório motora. Portanto, ele entende um ambiente imersivo como a realidade virtual como algo real (H Ericksson et al., 2005).

Essa descoberta abriu espaço dentro da ciência para implicações clínicas da realidade virtual. Podemos utilizá-la para muitas coisas em benefício da saúde mental, física e desenvolvimento cognitivo — basta saber como utilizá-la.

Para saber como utilizá-la é preciso saber programar um bom ambiente imersivo. Que significa que ele deve produzir efeitos esperados no cérebro.

Em outras palavras, se a pessoa se impressiona emocionalmente quando entra no ambiente imersivo, isso significa que o ambiente produziu os efeitos esperados no cérebro.

Mas como será que se mede a imersão em um ambiente de realidade virtual?

Os cientistas descobriram que a realidade virtual nada mais é do que um ambiente criado em 3D que gera uma ilusão sensório motora.

O carro-chefe que abriu espaço para essa descoberta foi um experimento chamado Rubber Hand Illusion (RHI), que consiste em um truque que produz na pessoa a ilusão sensoriomotora de que ela possui uma mão de borracha falsa (Tsakiris & Haggard, 2005).

Durante o experimento, quanto mais medo a pessoa sente quando a mão falsa é ameaçada, mais aumenta a resposta emocional que é observada pela medição da resposta galvânica da pele (sudorese da pele), o que significa que o cérebro identificou a mão falsa como sendo parte do corpo dela; houve então uma imersão na percepção da pessoa (M. Meehan, 2002).

É exatamente esse mecanismo que acontece dentro de um ambiente imersivo como a realidade virtual. Para entender melhor o impacto das ilusões sensoriomotoras na cognição, veja os vídeos a seguir, você vai se impressionar!!

https://youtu.be/sxwn1w7MJvk

https://youtu.be/ASM12lpDDy0

Portanto, se percebermos que há mais de uma década já se estuda a utilização de tecnologias imersivas para o tratamento de fobias, e que as descobertas de aplicações tecnológicas estão apenas no começo, podemos inferir que, nos próximos anos, dentro de ambientes imersivos como o metaverso e outros que ainda surgirão, poderemos trabalhar várias questões de ordem psicológica, contribuindo para restaurar o equilibrio mental das pessoas em vários aspectos da vida cotidiana. E se existem dúvidas sobre essas possibilidades, abaixo colocamos uma série de referências bibliográficas para quem quiser se aprofundar no estudo do tema.

 

Referências bibliográficas

Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5)

Ehrsson, N. P. Holmes and R. E. Passingham. Touching a Rubber Hand: Feeling of body ownership is associated with activity in multisensory brain areas. Journal of Neuroscience, 25, 10564–10573, 2005.

Meehan, B. Insko, M. C. Whitton and F. P. Brooks. Physiological Measures of Presence in Stressful Virtual Environments, ACM Transactions on Graphics, 21, 3, 645- 652, 2002.

V. Sanchez-Vives and M. Slater. From Presence to Consciousness through Virtual Reality. Nature Reviews Neuroscience, 6, 332–339, 2005.

Petkova and H. Ehrsson. If I Were You: Perceptual Illusion of Body Swapping, PLoS ONE, 3, 12, 2008.

Tsakiris and P. Haggard. The Rubber Hand Illusion Revisited: Visuo- tactile integration and self-attribution. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 31, 80–91, 2005.


* Renata Frischer Vilenky é alumna Insper do MBA de Administração da turma de 2008, coordenadora do Grupo Alumni de Tecnologia e membro da Academia Europeia da Alta Gestão. É conselheira de estratégia e inovação e mentora de projetos de inclusão social no Instituto Reciclar e na ONG Gerando Falcões. É autora dos e-books Artificial: Uma Oportunidade para Você Aprender e Startup: Transforme Problemas em Oportunidades de Negócio, ambos publicados pela Expressa Editora.

*Priscila Palomo é doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Valência, na Espanha. Publicou em diversas revistas científicas com alto índice de impacto. Especialista em terapia cognitivo-comportamental e mindfulness. Utiliza tecnologias de ponta e ambientes imersivos nos tratamentos psicológicos e clínicos como fobias, TEPT, TOC e depressão.

 

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