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Brasil campeão? Depende do algoritmo usado pelos oráculos

Modelos estatísticos tentam prever o país vencedor da Copa do Mundo. O Brasil é apontado como um dos favoritos no Catar

Modelos estatísticos tentam prever o país vencedor da Copa do Mundo. O Brasil é apontado como um dos favoritos no Catar

 

Em 2010, durante a Copa do Mundo na África do Sul, o polvo Paul, que vivia no Aquário Marinho de Oberhausen, na Alemanha, ganhou fama mundial ao “prever” corretamente os resultados dos jogos da seleção alemã na competição. Antes das partidas, Paul era colocado diante de duas caixas com seu alimento preferido, mexilhões, uma com a bandeira alemã, outra com a do time adversário. A caixa escolhida pelo molusco para sua refeição era interpretada como uma previsão do vencedor do confronto. Em sua curta carreira de oráculo, Paul acertou 12 das 14 previsões, um índice de sucesso de 86%.

Paul não está mais entre nós — ele morreu de causas naturais em 26 de outubro de 2010, aos 2 anos e meio —, mas o que não faltam são estudos que tentam prever quem será o vencedor da Copa do Mundo no Catar. Embora os prognósticos tenham um caráter mais lúdico, alguns deles foram elaborados com muita seriedade, usando um grande volume de dados, modelos matemáticos e computadores de alto desempenho. As metodologias variam, assim como suas previsões.

 

Brasil campeão?

De acordo com uma análise do DataLab, o laboratório de inovação da Serasa Experian, especializada em informações de crédito, os torcedores brasileiros têm boas chances de comemorar neste ano o hexacampeonato mundial. Utilizando técnicas de machine learning, o DataLab prevê que a seleção do Brasil tem 20,9% de chance de ser campeão no Catar, à frente da Argentina (14,3%), França (11,4%), Espanha (9%) e Alemanha (3,4%).

Segundo Olivier Devaux, diretor do DataLab, as previsões foram feitas com base em um modelo treinado com os três últimos ciclos de Copas. “Por meio de métodos de sistemas de recomendação, muito semelhantes aos que as plataformas de streaming, por exemplo, usam para recomendar um filme a um usuário, montamos um sistema de machine learning que prevê, probabilisticamente, o resultado de cada partida entre dois países”, disse Devaux.

O Brasil é também o vencedor mais provável da Copa de acordo com um modelo de previsão do Alan Turing Institute, de Londres. O algoritmo (ou, mais especificamente, modelo estatístico) usado para fazer os prognósticos é baseado no AIrsenal, que o instituto desenvolveu em 2018 para a disputa do Fantasy Premier League, um game que gira em torno do Campeonato Inglês. Isso, por sua vez, foi inspirado em um modelo de 1997 de Dixon e Coles (um clássico nos círculos de previsão de futebol), que tem parâmetros para força de ataque, força de defesa e vantagem por atuar em casa, usando estatísticas bayesianas para calcular o placar mais provável em uma partida.

Os pesquisadores ajustaram o algoritmo para considerar algumas peculiaridades da Copa do Mundo. Por exemplo, as seleções costumam jogar contra equipes do mesmo continente (o Brasil não joga contra times europeus desde 2019), o que pode resultar em vieses ao tentar prever resultados entre times de diferentes continentes. Para resolver isso, foram introduzidos parâmetros de modelo para as forças relativas das diferentes federações continentais. O modelo foi ajustado também para levar em conta o fato de que a vantagem de jogar em casa não se aplica a torneios internacionais, a menos que o país anfitrião esteja jogando (no caso do Catar, um país sem tradição no futebol, o fator “casa” não faz muita diferença).

Ao final de tudo, os pesquisadores do Alan Turing Institue previram que o Brasil é o país com mais chances de ser campeão do mundo no Catar, com 25% de probabilidade. Seus rivais mais próximos são a Bélgica (19%) e a Argentina (13%).

Os pesquisadores ressalvam que alguns fatores importantes não foram levados em conta no estudo. Um deles é o clima. “Embora os últimos quatro torneios tenham sido conquistados por seleções europeias, até 2010 todas as Copas do Mundo realizadas fora da Europa foram vencidas por seleções sul-americanas. Então, será que o calor do Catar favorecerá o Brasil e a Argentina, ou os europeus aproveitarão a relativamente pequena diferença de fuso horário? Ou uma combinação desses fatores ajudará a trazer o primeiro vencedor africano? Todas essas perguntas são difíceis de responder e ainda mais difíceis de modelar”, diz o estudo.

Diante das lacunas apontadas pelos próprios pesquisadores, eles ressalvam: “Certamente não recomendamos apostar em nenhuma de nossas previsões! Embora o modelo original de Dixon e Coles tenha sido parcialmente motivado pelo desejo de melhorar as chances das casas de apostas, isso foi há 25 anos, e as casas de apostas hoje em dia têm equipes de cientistas de dados que trabalham em tempo integral em modelos sofisticados que levam em consideração todos os fatores que estamos negligenciando. Para nós, este é um projeto paralelo divertido, e nosso objetivo era criar um sistema simples, compreensível e robusto”.

 

 

Inglaterra campeã?

Mas o Brasil não é uma unanimidade entre os oráculos do esporte. Quem está apostando num país diferente é a companhia inglesa de seguros Lloyd’s, para quem a seleção de seu país é a mais bem cotada para ganhar o título no Catar, derrotando na final justamente o Brasil. A seu favor, a Lloyd’s destaca o fato de ter utilizado o mesmo modelo para apontar corretamente a Alemanha como vencedora em 2014 e a França em 2018.

A Lloyd’s classifica os times com base no valor segurável coletivo de seus jogadores. A avaliação de cada valor segurável compreende uma séroe de métricas, como salários, patrocínios, idade e posição em campo. Com um valor segurável estimado de 3,17 bilhões de libras, a Inglaterra supera a França (2,66 bilhões de libras) e o Brasil (2,56 bilhões de libras) para reivindicar o primeiro lugar.

A título de comparação, o valor médio segurável de um jogador da Inglaterra ou da França é maior do que todo o time da Costa Rica. No total, os jogadores da Copa têm um valor segurável estimado em quase 22 bilhões de libras, um aumento de quase 9 bilhões desde 2018.

Usando essa metodologia a Copa no Catar, o modelo de Lloyd’s prevê que a Inglaterra terminará o torneio no topo do Grupo B, antes de garantir as vitórias nos jogos eliminatórios contra Senegal, França, Espanha e Brasil.

 

Argentina campeã?

Quem tem também boas chances de conquistar a Copa é a Argentina, de acordo com um estudo realizado pela BCA Research, uma empresa canadense de pesquisa de investimentos. Ela prevê que a Argentina de Lionel Messi derrotará o Portugal de Cristiano Ronaldo na final marcada para o Estádio Lusail, em Doha, em 18 de dezembro. Em um jogo equilibrado, com grande probabilidade de o vencedor ser decidido nos pênaltis, a Argentina tem a vantagem histórica tanto em experiência quanto em taxa de sucesso em disputas por pênaltis.

A BCA usou o que chama de “modelo único de duas etapas que combina variáveis macro e micro, bem como nosso próprio futebol”, que inclui acessar um banco de dados de estatísticas de jogadores da simulação de videogame da Fifa. Os pesquisadores começaram prevendo as partidas da fase de grupos usando dados como a classificação média dos jogadores da equipe e o desempenho anterior da equipe. Em seguida, eles passaram para as rodadas eliminatórias, usando cálculos semelhantes, ao mesmo tempo que incluíam variáveis como a “maldição do vencedor” — a improbabilidade histórica de um time se tornar campeão do mundo em duas competições seguida. Isso significa que a França, vencedora da última Copa, em 2018, tem chances reduzidas neste ano.

Prever o resultado da Copa do Mundo é uma tradição relativamente nova para a BCA. Sua primeira tentativa foi em 2018, quando seus pesquisadores previram — e erraram — que a Espanha seria a campeã. Desde então, a BCA adicionou novas variáveis ao seu cálculo e ajustou sua metodologia.

“Quão confiantes estamos em nossa escolha de vencedor? Embora estejamos felizes com nossa escolha, a Argentina enfrentará muitos jogos difíceis ao longo da fase eliminatória, com a final sendo essencialmente um cara ou coroa”, escreveram os pesquisadores da BCA. “Assim, ainda que o país seja favorito, sua probabilidade de ganhar a Copa é de apenas 7%.”

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