[{"jcr:title":"Alta demanda global e preços impulsionam o trigo no Brasil"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Alta demanda global e preços impulsionam o trigo no Brasil","jcr:description":"O cereal vem registrando grande crescimento em área e produtividade, mas ainda há desafios importantes para o desenvolvimento da cultura no país"},{"subtitle":"O cereal vem registrando grande crescimento em área e produtividade, mas ainda há desafios importantes para o desenvolvimento da cultura no país","author":"Ernesto Yoshida","title":"Alta demanda global e preços impulsionam o trigo no Brasil","content":"O cereal vem registrando grande crescimento em área e produtividade, mas ainda há desafios importantes para o desenvolvimento da cultura no país   João Pedro Biagi, assistente de pesquisa do Insper Agro Global Leandro Gilio, pesquisador sênior do Insper Agro Global   A cultura do trigo cresceu de forma significativa no Brasil nos últimos anos. De 2019 a 2022, houve forte expansão de 66% em área plantada e de 54% em produção total, devendo atingir o recorde de 9,5 milhões de toneladas neste ano, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar desse crescimento, o Brasil ainda é um importador líquido no mercado global de trigo, comprando cerca de 6 milhões de toneladas do cereal de outros países para suprir o consumo doméstico anual, de cerca de 12 milhões de toneladas. Porém, nos últimos cinco anos, a dependência em relação às importações vem diminuindo de forma consistente, ao mesmo tempo que as exportações vêm aumentando, com potencial de atingir 3,5 milhões de toneladas embarcadas até o final de 2022, o que seria um recorde histórico para a cultura.       A combinação de elevada demanda global, crises recentes e tensões geopolíticas explica boa parte do impulso da cultura no Brasil em anos recentes. A pandemia da covid-19, concomitantemente à quebra da safra 2021/22 no Hemisfério Norte — que prejudicou a qualidade, o volume e os estoques globais —, seguidas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia — países que respondiam por 27% das exportações globais do cereal —, elevaram os preços globais do trigo a novos patamares recordes, trazendo preocupações com relação à segurança alimentar de diversos países. Logo, os produtores brasileiros puderam aproveitar a conjuntura positiva de preços e aumentaram significativamente a área plantada da cultura.     Entretanto, cabe destacar também o importante trabalho de projetos de pesquisa e desenvolvimento para a cultura. Estudos como o liderado pela Embrapa Trigo, sediada em Passo Fundo (RS), vêm trazendo novos níveis de produtividade e produção do trigo brasileiro, expandindo o cultivo do cereal não apenas na região Sul, tradicional produtora do grão, mas também para Sudeste e Centro-Oeste. O cultivo sulista, tipicamente de inverno, começa a ser complementado por uma nova lógica de produção na segunda safra do Cerrado, cuja colheita é realizada na entressafra da comercialização do Sul do Brasil, dos países produtores do Mercosul e dos grandes exportadores mundiais, em um momento cuja curva média de preços se encontra em seu ápice. Mesmo que a área plantada do trigo dos últimos cinco anos seja menor do que a dos anos 1980 e 1990 (vide gráfico já apresentado), a produtividade da cultura vem crescendo de forma consistente. Desde 2000, a colheita vem se expandindo a uma taxa de 4,5% ao ano e hoje atinge a média de 50,5 sacas por hectare. Esse resultado aproxima o país da produtividade de grandes exportadores, como a Rússia e os Estados Unidos, colocando o Brasil em um patamar de produtividade mais alto que o da Austrália e da Argentina, mas ainda nos mantém distante do rendimento da China e da União Europeia, que produzem em torno de 97 e 92 sacas por hectare, respectivamente. Desse modo, a combinação de crescente produtividade nacional e preços globais elevados têm trazido um cenário de otimismo para a produção brasileira de trigo. No entanto, cabe destacar que ainda existem desafios importantes a serem superados. Primeiramente, a continuidade do processo de avanço tecnológico e tropicalização da cultura, que atualmente ainda é muito concentrada no Sul do país, apesar dos avanços recentes. Adversidades climáticas, como seca, geadas e chuva na colheita, também são recorrentes nas atuais principais regiões produtoras. A questão logística ainda é um entrave importante, principalmente para o abastecimento das regiões Norte e Nordeste, onde o trigo nacional de produção sulista chega mais caro que o trigo importado da Argentina. Pode-se concluir que a atual conjuntura de preços vem permitindo a realização dos investimentos necessários para a expansão da cultura no país. Mas, para que o Brasil percorra o longo caminho no sentido de atingir a autossuficiência na produção do cereal e para que seja possível uma exportação significativa de excedente, ainda são necessários elevados e constantes investimentos. Nesse cenário, a incerteza se os preços se manterão nos atuais patamares elevados representa um fator de risco que não pode ser ignorado.  "}]