[{"jcr:title":"Glifosato associa-se a mortalidade infantil rio abaixo","cq:tags_0":"tipos-de-conteudo:insper-conhecimento"},{"jcr:title":"Grid Container Section","layout":"responsiveGrid"},{"typeView":"vertical"},{"jcr:title":"Glifosato associa-se a mortalidade infantil rio abaixo","jcr:description":"Saúde dos recém-nascidos é pior onde se usa água oriunda da sojicultura intensiva no pesticida"},{"subtitle":"Saúde dos recém-nascidos é pior onde se usa água oriunda da sojicultura intensiva no pesticida","altText":"Aplicação de composto químico para controle de fungos em horta em Campo Mourão, no Paraná","status":"publish","slug":"glifosato","title":"Glifosato associa-se a mortalidade infantil rio abaixo","content":"A disseminação do glifosato , pesticida mais vendido no Brasil, nas lavouras de soja de 2004 a 2010 vincula-se à deterioração de indicadores de saúde de recém-nascidos em cidades rio abaixo que recebem água das regiões sojicultoras. Municípios nessa situação do Centro-Oeste e do Sul registraram alta de 5% na [mortalidade infantil](https://www.insper.edu.br/conhecimento/politicas-publicas/podcast-primeiro-turno-as-cidades-e-o-sus/) , 503 óbitos anuais a mais ao todo. No trabalho [“Down the River: Glyphosate Use in Agriculture and Birth Outcomes of Surrounding Populations”](/content/dam/insper-portal/legacy-media/2021/04/Dias-Rocha-Soares-2020.12.30.pdf) (rio abaixo: uso de glifosato na agricultura e indicadores de nascimento das populações vizinhas), os pesquisadores Mateus Dias (Universidade de Princeton), [Rudi Rocha](http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4764944E1) (FGV) e [Rodrigo Soares](https://www.insper.edu.br/pesquisa-e-conhecimento/docentes-pesquisadores/rodrigo-reis-soares/) (Insper) chegam a essas conclusões pela análise de dados agrícolas, sanitários, geográficos e socioeconômicos das duas regiões que concentram a produção de soja no Brasil. O glifosato ganhou proeminência no Brasil a partir da safra de 2004, semeada nos últimos meses de 2003, quando medidas provisórias do Executivo federal legalizaram o plantio de soja geneticamente modificada. A inovação disseminou-se depressa porque [alavancou a produtividade da sojicultura](https://www.aeaweb.org/articles?id=10.1257/aer.20131061) , e essa escalada foi acompanhada pelo glifosato, complementar à soja transgênica, a qual é resistente ao pesticida.   De 2000 a 2010 a venda do glifosato triplicou para 128 mil toneladas. A marcha seguiu na década seguinte, e em 2019 foram comercializadas 217,6 mil toneladas, pouco abaixo da  [soma dos nove outros agrotóxicos](https://www.ibama.gov.br/agrotoxicos/relatorios-de-comercializacao-de-agrotoxicos#boletinsanuais) e componentes ativos mais vendidos no país. A biossegurança do glifosato depende de características do solo e dos cursos d’água. Estudos detectaram sua presença e persistência em fontes hídricas na cercania imediata e distante de regiões produtoras. Outras análises demonstram a capacidade do glifosato, mesmo em pequenas doses, de prejudicar a gestação ao atingir a placenta e o nascituro. Mateus, Rudi e Rodrigo se baseiam nessas informações para avaliar a hipótese de que a disseminação do glifosato a partir de 2004 deteriorou as condições de saúde dos nascimentos em municípios que recebem água de rios de regiões com cultivo de soja. O trio confirmou a conjectura —um efeito nocivo difuso anual de US$ 583 milhões se contabilizado o potencial econômico das vidas perdida s— com uma série de providências para certificar-se de que outros fatores não interferiram no resultado. Veja como os pesquisadores responderam a alguns desafios que poderiam enfraquecer ou anular suas conclusões. 1 A piora dos indicadores de saúde ao nascer ocorreu em municípios a jusante das regiões sojicultoras, mas não nos que ficam a montante delas. Para determinar a posição de cada município ao longo dos cursos d’água, foi utilizado o catálogo de bacias de drenagem elaborado pelo [método desenvolvido pelo engenheiro Otto Pfafstetter](https://capacitacao.ana.gov.br/conhecerh/bitstream/ana/104/1/apostila.pdf) (1923-1996) e adotado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. 2 Indicadores de saúde materno-infantil, socioeconômicos e de infraestrutura sanitária eram similares entre municípios em posições elevadas e inferiores na bacia de drenagem antes de 2004. Dados como os de mortalidade infantil, baixo peso ao nascer, leitos hospitalares, pobreza, renda per capita e padrões de empregabilidade mostram que a situação era comparável entre os municípios antes da disseminação do glifosato. 3 Regiões que aderem amplamente ao glifosato podem ter maior predisposição à inovação tecnológica, o que pode estar correlacionado a outros fatores endógenos, como indicadores socioeconômicos, e afetar os indicadores de saúde ao nascer. Ademais, a medida primária dos autores para o uso do glifosato assume que o pesticida é integralmente utilizado nas plantações de soja, ignorando o uso em outras culturas agrícolas. Para resolver esses dois problemas, os autores consideram nos cálculos finais o volume usado de glifosato que pode ser explicado pelos ganhos potenciais de produtividade em cada região com a adoção da soja transgênica 4 A piora na saúde dos recém-nascidos rio abaixo está concentrada no período do ano chuvoso e de aplicação do pesticida, nas gestações expostas por mais tempo ao glifosato e quando há mais erosão do solo rio acima. Dados pluviométricos, de qualidade do solo e de meses de nascimento foram mobilizados para esses testes. O efeito na mortalidade infantil em municípios rio abaixo diminui e deixa de ser significativo nos meses de abril a setembro, quando não há aplicação do glifosato. A ausência de um mínimo de chuvas também se relaciona com a interrupção do impacto. O efeito na mortalidade é 44% maior para partos ocorridos de março a junho (máxima exposição gestacional ao pesticida) do que nos nascimentos de julho a fevereiro (mínima exposição). 5 Três de cada quatro óbitos infantis a mais estão relacionados a complicações em torno do parto e respiratórias. A literatura especializada atribui ao glifosato capacidade de [ prejudicar o crescimento e o desenvolvimento fetal](https://www.gmoseralini.org/content/dam/insper-portal/legacy-media/2013/01/Benachoural.AECT_2007.pdf) , o que aumenta a probabilidade de mortes de recém-nascidos. Dificuldades na respiração são [sequelas frequentes de partos prematuros](https://www.nap.edu/read/11622/chapter/1#xi) , bem como da exposição direta ao pesticida. Leia o estudo [“Down the River: Glyphosate Use in Agriculture and Birth Outcomes of Surrounding Populations”](/content/dam/insper-portal/legacy-media/2021/04/Dias-Rocha-Soares-2020.12.30.pdf)"}]