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Imagem mostra profissional manuseando dose de vacina da Pfizer contra a Covid-19, em hospital na Itália

Entenda o método usado no teste de vacinas contra a Covid-19

Experimento aleatório controlado permite a pesquisador estimar taxa de eficácia dos imunizantes
26/02/2021 17:48

No fim de 2020, a revista New England Journal of Medicine publicou o estudo que explicava a eficácia de 95% atingida pela vacina desenvolvida pelas empresas Pfizer e BioNTech contra a Covid-19.

Por trás do cálculo da porcentagem está um teste que reuniu 43.548 pessoas com mais de 16 anos. Elas foram selecionadas e divididas em dois grupos, um tratado com doses da droga verdadeira e outro com uma versão sabidamente neutra. Da análise dos dados resultantes desse processo, estimou-se a efetividade da vacina no combate à doença.

A breve descrição sintetiza um experimento aleatório controlado –em inglês, “randomized controlled trial”, o que explica a sigla RCT. Também foram submetidas ao procedimento vacinas como a da Moderna e a da Oxford/AstraZeneca, com 94,1% e 76% de eficiência, respectivamente.

Recorrente na comunidade científica, o método oferece a vantagem de assegurar a comparabilidade entre quem recebe e quem não recebe determinada intervenção –um medicamento ou uma política pública, por exemplo. Com isso, é possível inferir corretamente os efeitos do objeto do estudo, desconsiderando (ou isolando, como pesquisadores costumam citar) fatores que poderiam influir no seu resultado.

Confira, abaixo, os principais pontos que envolvem esse tipo de procedimento.


Voluntários são recrutados e divididos em grupos

O laboratório convida interessados em participar de um experimento aleatório controlado para analisar a eficácia de uma vacina contra a Covid-19. Separam-se os voluntários, de forma aleatória, em 2 grupos. Isso é feito por meio de um sorteio, para assegurar que os grupos tenham características semelhantes antes de iniciar o testes.
Imagem mostra simulação de seleção e divisão aleatória de grupos da população em experimentos aleatórios controlados. Um deles é o de tratamento, que recebe a vacina, e o outro é o de controle, que recebe o placebo


Comparação da taxa de contaminação entre grupos semelhantes

Acompanha-se o quadro clínico dos voluntários, que desconhecem de qual grupo fazem parte e, portanto, que dose recebem. O objetivo é comparar o que ocorre, em um certo período, em grupos semelhantes, com a diferença que em um deles há acesso à vacina e no outro, não.

A quantidade de infectados no grupo controle reflete o que aconteceria na ausência da vacina. E a diferença da quantidade de infectados entre os dois grupos reflete quantas pessoas deixaram de ter a doença por causa da vacina.

A eficácia é obtida dividindo-se diferença da quantidade de infectados pela quantidade de infectados no grupo controle

Imagem mostra simulação de como seria se o experimento ocorresse com apenas um grupo, o de tratamento (quando todo voluntário recebe a vacina.) Nesse caso, a comparação do resultado seria com outra parte da população


Por que é importante recorrer ao RCT?

O que aconteceria, por exemplo, se todas as pessoas que se voluntariassem fossem tratadas com a vacina e um grupo da população, que não se voluntariou para o experimento é usando como grupo de comparação?

Neste caso, o grupo de voluntários e a parcela da população usada para comparação podem ter características diferentes em relação à exposição ao vírus. Não seriam, portanto, comparáveis.

Imagem mostra por que o RCT, com dois grupos, de tratamento e de controle, é importante para a comparação de resultados.


Eficácia não será calculada corretamente se os grupos tiverem comportamentos diferentes

O laboratório convoca para o teste apenas voluntários que atuam em serviços essenciais. No dia a dia, saem de casa para ir ao trabalho e estão mais expostos ao vírus em relação à parcela da população que compõe o grupo comparação.

A taxa de contaminação no grupo de comparação reflete o que teria acontecido num grupo sem o imunizante e que adota medidas preventivas mais rígidas em relação ao grupo que participou do teste. Não é um bom contrafactual para a taxa de contaminação no grupo dos trabalhadores do serviços essenciais.

Espera-se que a quantidade de infectados no grupo comparação seja menor do que seria quantidade de contaminados entre os trabalhadores essenciais. A eficácia da vacina será subestimada.

Imagem mostra por que eficácia de uma vacina não será calculada corretamente se os grupos tiverem comportamentos diferentes


O RCT garante que os grupos tratamento e controle sejam semelhantes

Num cenário inverso, o laboratório convida apenas voluntários do grupo de risco, pessoas que estão cumprindo outras medidas protetivas, como uso de máscara e isolamento social rígido, e portanto estão menos expostas ao vírus. O grupo comparação será composto por uma parcela da população que cumpre parcialmente o isolamento social.

A taxa de contaminação no grupo de comparação não reflete bem o que teria sido a taxa de contaminação no grupo que adota outras medidas protetivas mais severas. O efeito da vacina se mistura ao efeito das demais medidas protetivas adotadas pelo grupo que recebeu o imunizante. A eficácia da vacina será superestimada.

Imagem mostra a taxa de eficácia estimava de uma vacina com base nos resultados de dois grupos, um de tratamento, e outro que simula a inexistência de uma vacina

Neste dois exemplos simples, a eficácia foi estimada incorretamente porque o grupo de comparação não era um bom contrafactual para a taxa de contaminação no grupo tratamento. Mesmo se o grupo de voluntários tiver características diferentes do restante da população – por exemplo, serem trabalhadores da saúde – se o grupo comparação tiver características semelhantes ao grupo que recebe o imunizante, a eficácia da vacina será corretamente estimada para o grupo de voluntários. O sorteio realizado no RCT garante que os grupos sejam corretamente comparáveis.


Saiba mais:

Safety and Efficacy of the BNT162b2 mRNA Covid-19 Vaccine

Efficacy and Safety of the mRNA-1273 SARS-CoV-2 Vaccine

Single Dose Administration, And The Influence Of The Timing Of The Booster Dose On Immunogenicity and Efficacy Of ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) Vaccine



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