[{"jcr:title":"Crise amplia a complexidade dos desafios enfrentados por gestores públicos"},{"targetId":"id-share-1","text":"Confira mais em:","tooltipText":"Link copiado com sucesso."},{"jcr:title":"Crise amplia a complexidade dos desafios enfrentados por gestores públicos","jcr:description":"Em entrevista, André Marques, coordenador executivo do CGPP, analisa o papel dos gestores públicos no enfrentamento a essa crise"},{"subtitle":"Em entrevista, André Marques, coordenador executivo do CGPP, analisa o papel dos gestores públicos no enfrentamento a essa crise","author":"Elaine","title":"Crise amplia a complexidade dos desafios enfrentados por gestores públicos","content":"Em entrevista, André Marques, coordenador executivo do CGPP, analisa o papel dos gestores públicos no enfrentamento a essa crise ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 | [ACESSE A PÁGINA ESPECIAL](https://www.insper.edu.br/coronavirus/conteudo) Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto do vírus Covid-19, estamos publicando uma série de entrevistas com professores, gestores e diretores para abordar ações realizadas pela nossa escola, além de dicas e orientações nas mais diversas áreas para colaborar com a superação dos desafios deste período. Na entrevista a seguir, André Marques, coordenador executivo do  [Centro de Gestão e Políticas Públicas](https://www.insper.edu.br/pesquisa-e-conhecimento/centro-de-gestao-e-politicas-publicas/)  (CGPP) do Insper, aborda os principais desafios trazidos por esta crise aos gestores públicos, as principais áreas de atenção e parcerias com o setor privado, entre outros assuntos. Confira: 1) Quais os principais desafios trazidos pela crise do novo coronavírus para os gestores públicos? Os desafios para gestores públicos já são muito intensos mesmo sem crise. Isso acontece devido à variedade e complexidade de assuntos conduzidos por estes gestores. Esses desafios estavam ainda mais complexos, pois muitos estados e municípios, sem contar a própria União, já se encontravam em situação fiscal muito delicada. Com a crise atual, os entes públicos têm, por um lado, reduções significativas de receitas (menor circulação de pessoas significa menor venda de produtos e serviços) e uma tendência de crescimento importante de despesas de saúde, para o atendimento da população, e ao assistencialismo aos menos favorecidos. Além disso, devem ser mantidos em funcionamento as demais atividades essenciais (coleta de lixo, segurança, etc.). Parte desta prestação de serviço requer políticas públicas coordenadas entre diferentes esferas (federal, estadual e municipal). Esse é um desafio adicional do momento. A diferença entre uma boa e uma má cooperação pode significar menor ou maior quantidade de vidas comprometidas. Por fim, com a contenção social, muitos desses serviços prestados devem ser realizados agora de forma remota. Isso traz uma dificuldade ainda maior aos gestores públicos, pois muitas das infraestruturas não estavam preparadas para tal. Ou seja, é um momento de grandes desafios. Mas também nesses momentos é que surgem grandes oportunidades. 2) Quais os fatores que o poder público deve levar em consideração para tomadas de decisão como o estabelecimento ou prorrogação de uma quarentena, por exemplo? Dentre muitas variáveis a serem consideradas, algumas se destacam: preservar vidas, decisões baseadas em evidências e a consciência de que os recursos são limitados. Não estamos em uma escolha entre economia e vidas. Em qualquer situação, a vida está em primeiro lugar. Serão essas mesmas vidas salvas agora que terão participação fundamental na recuperação pós-crise. Mas, para preservar vidas, as decisões devem ser embasadas em evidências. Se alguns tomadores de decisão ainda achavam que era possível tomar decisões apenas com base em suas experiências, agora, mais do que nunca, fica claro que é necessário muito mais que isso. Ainda não há perspectivas para uma vacina, que seria a solução definitiva. Mas a abrangência da crise nos permite identificar quais medidas estão dando certo e quais não estão. Claro que cada localidade tem sua particularidade. E isso deve ser levado em consideração. Mas o que não podemos mais é aceitar medidas sem fundamentos e, muito menos, não medir o impacto das decisões adotadas. Qualquer decisão pública sempre foi uma questão de escolha. Escolha, pois os recursos são finitos. Por maior que seja a arrecadação de qualquer ente federativo, muitas são as demandas já em tempos de “normalidade”. Em uma crise, esse aspecto fica ainda mais acentuado. Os recursos são escassos e devem ser priorizados. Nesse momento, a prioridade é para recursos como equipes hospitalares, leitos de hospitais, equipamentos de proteção e suporte à vida, entre muitos outros. E, nesse cenário, é preciso tomar uma decisão de onde estes recursos serão provenientes. Algum serviço não poderá/deverá ser continuado nesse momento. 3) Em quais áreas, além da saúde, o poder público precisa concentrar esforços para colaborar com a mitigação do novo coronavírus? Existe um grande contingente de desassistidos no país. Com essa crise, esse número de pessoas cresce ainda mais e passa a estar em uma situação de vulnerabilidade ainda maior. São muitos trabalhadores perdendo seus empregos ou tendo reduções acentuadas de recebimentos. Muitos deles, com restrições mais longas em suas rendas, não conseguem sequer se alimentar minimamente e menos ainda ter acesso às condições de higiene necessárias para evitar a proliferação do vírus. Além disso, existe também uma grande quantidade de empresas quebrando. São empresas sem fluxo de caixa suficiente para pensar em continuidade de seus negócios. São essas mesmas empresas que se veem obrigadas a dispensar seus funcionários ou a negociar reduções ou suspensões temporárias de suas atividades. Nestes dois casos, a principal dúvida do momento é: por quanto tempo isso durará. Não existe resposta precisa para esta pergunta. Mas o certo é que já se passou tempo suficiente para vermos que, sem o apoio do poder público, não haverá caminho de sobrevivência para grande número de empresas e trabalhadores. Por isso, a importância de políticas públicas voltadas a estes segmentos. Políticas públicas com o objetivo de prover as condições mínimas de sobrevivência à população mais carente, bem como dar suporte a empresas em dificuldades nesse momento. Sem isso, não só essa fase do durante a crise será ainda mais grave como comprometerá, também, a fase do pós-crise, justamente a de recuperação. 4) Esse momento de crise pode estimular o poder público a ampliar parcerias com o setor privado? Não só pode como deve. Como os recursos do poder público são limitados, por todas as razões já discutidas até aqui, não há como fazer frente a todas as necessidades da população. A soma de esforços entre os entes federativos, que já comentamos, é também extremamente relevante com o setor privado. Essa relação público-privado ficou ainda mais desgastada em função da crise de corrupção recente. Comportamentos desvirtuados devem ser combatidos. Mas não pode ser uma objeção a esta colaboração. Deve, sim, incentivá-la a ocorrer de maneira mais efetiva e mais transparente. Já temos visto diversos exemplos do potencial dessa cooperação. O aproveitamento da capacidade ociosa de diversas empresas auxilia na produção de muitos tipos de produtos e equipamentos, como máscaras, álcool em gel, equipamentos, entre tantos outros. O apoio passa também por suporte logístico para ajudar na distribuição de itens necessários entre cidades e estados e até pela construção de hospitais de campanha. Isso sem contar na ajuda à importação de bens e equipamentos necessários ao combate do Covid-19. Mas uma outra ajuda, também fundamental, tem sido a assistencial. Assistencial de dois tipos: de apoio a cadeia de fornecedores e a populações carentes. Grandes empresas não são grandes sozinhas. Toda sua cadeia de fornecedores faz parte de seu sucesso (ou fracasso). Já o assistencialismo à população mais desassistida tem também merecido destaque. São várias empresas ou mesmo pessoas físicas realizando doações dos mais diversos tipos para que essa parcela da população possa ter acesso aos itens básicos para seu dia a dia. Mas é necessário um ponto em comum a todas essas ações: a coordenação. Coordenação para que não haja ajuda a mais a uma região e um subatendimento a outra. Mais uma vez se destaca o papel do setor público. Este possui uma visão ampla das necessidades da população daquela cidade ou estado e, com isso, pode estruturar essas ações, fazendo com que os recursos disponibilizados cheguem àqueles que realmente mais necessitam. 5) No livro [ O Futuro das Cidades ](https://docs.google.com/forms/d/14FSR_RQrwGxUDTsJOctXurQFPZmyPu4zNumTktSKQ6c/viewform?edit_requested=true) , você aborda a questão das operações urbanas consorciadas e a contribuição para a construção das cidades inteligentes brasileiras. Na sua visão, quais impactos a crise deste período pode trazer para esse tipo de operação? O foco agora é concentrar todos os recursos no salvamento de vidas. Esse é um período ainda indefinido. A paralisação das atividades, de forma ampla, gerou um impacto importante nos negócios. Atualmente não há condições, e nem é a prioridade, para a discussão de investimentos que não sejam em suporte à população. Mas, mais cedo ou mais tarde, a situação voltará à normalidade. Porém, provavelmente a “nova” realidade não será igual à “antiga” realidade. E todos precisam estar preparados para esse renovado momento. E nesse “todos” devemos incluir também as cidades. No pós-crise, a participação do setor privado na área de infraestrutura será primordial, pois os recursos públicos estarão ainda mais restritos. Voltando à “normalidade”, em mais ou menos tempo, será necessário o investimento em infraestrutura. Talvez não nas mesmas implementadas até aqui. Talvez algumas fiquem obsoletas. Isso abrirá espaço para novas necessidades e oportunidades. As operações urbanas podem cumprir um papel importante nesse processo. Elas têm por objetivo apoiar na revitalização de áreas urbanas. Com isso, sai de cena uma infraestrutura que não mais atende as necessidades daquela região e entra uma outra renovada. Isso de forma alguma implica em perda de identidade ou perda de laços históricos. Estas regiões podem, e devem, conviver de forma harmoniosa com o fim de fornecer à população melhorias de ambiência, infraestrutura, mobilidade, habitação, turismo, novos negócios e tantas outras necessidades. E tudo isso, sendo bem executado, pode ser autossustentável financeiramente. Ou seja, os recursos financeiros necessários para a revitalização dessas áreas podem ser gerados pela própria operação consorciada. Ou seja, é uma forma de investir em uma nova infraestrutura sem necessariamente ter que recorrer aos cofres municipais. Esta é uma outra demonstração de como a cooperação bem executada entre os setores público e privados pode levar a melhorias importantes para a população. André Luiz Marques é Economista e Mestre pela UFRJ, com mais de 25 anos de experiência nos setores privado e público. No setor privado, atuou por 17 anos em empresas expressivas em seus segmentos, com foco em finanças, planejamento e performance. Por nove anos, atuou na administração pública, tendo exercido, entre outras funções, a de Subsecretário de Concessões e PPPs da cidade do Rio de Janeiro, com implantação de importantes projetos em diversos segmentos, e como Subsecretário de Monitoramento de Metas e Resultados de todas as secretarias da capital carioca. Hoje, exerce a coordenação executiva do  [Centro de Gestão e Políticas Públicas](https://www.insper.edu.br/pesquisa-e-conhecimento/centro-de-gestao-e-politicas-publicas/)  (CGPP) do Insper, sendo responsável pela sua implantação e gestão. | [ACESSE A PÁGINA ESPECIAL](https://www.insper.edu.br/coronavirus/conteudo)"}]