Especialistas debateram o papel das redes sociais, fakenews e outras nuances do jornalismo na cobertura eleitoral
A liberdade de expressão, a transparência da cobertura jornalística e o impacto das redes sociais na atual campanha eleitoral ganham novas nuances em meio ao debate sobre a importância da informação e às fake news. A cobertura jornalística está se reinventando em uma época em que os meios digitais ganham um papel fundamental no debate público.
Este foi o foco do primeiro dia do seminário Eleições e Liberdade de Expressão realizado pelo Insper em parceria com o Instituto Palavra Aberta e o portal de notícias jurídicas Jota, que debateu o papel da formação dos novos profissionais de Jornalismo e a importância da leitura crítica baseada em evidências.
O encontro teve abertura de Marcos Lisboa, presidente do Insper, e Bianca Tavolari, pesquisadora do Núcleo Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Ceprab). Os painéis contaram com a participação de Fernando Schüler, titular da Cátedra Insper Palavra Aberta, dos jornalistas Eugenio Bucci e Carlos Eduardo Lins da Silva, Marco Tulio, coordenador do Google New Lab Brasil, Leandro Beoguci, diretor Editorial e de Conteúdo na Associação Nova Escola, com mediação de João Gabriel de Lima, coordenador dos cursos de Jornalismo do Insper e Patrícia Blanco, presidente executiva do Instituto Palavra Aberta.
“A liberdade de expressão quando mal utilizada fere vítimas inocentes, pois informações falsas, equivocadas ou mal avaliadas são divulgadas com freqüência. Entretanto, o debate ainda é a melhor abordagem em comparação à sua supressão”, avalia Marcos Lisboa.
Liberdade de expressão e o universo digital
O cenário deste ano conta com diversas mudanças no jogo eleitoral, como o prazo mais curto para campanha – 45 dias contra três meses do modelo anterior – e campanhas realizadas com financiamento público, buscando quebrar o ciclo de favorecimento entre empresas privadas e políticos. No entanto, para Tavolari ainda há pontos a serem corrigidos, como as regras de distribuição de recursos entre os candidatos do partido, favorecendo candidaturas focadas no executivo e não no legislativo, e alinhadas às políticas partidárias, que nem sempre estão alinhadas com os interesses da sociedade.
“Essa falta de regras claras favorece o abafamento da pluralidade de vozes internamente nos partidos, que é importante para a liberdade de expressão, especialmente quando se pensa que as opções disponíveis de candidatos já passam por um filtro assimétrico e desigual”, avalia a pesquisadora.
Outra mudança na Lei Eleitoral foi a permissão de impulsionamento de postagens em redes sociais por parte de candidatos e coligações. Isso significa que, diferente das campanhas televisivas onde a mensagem é única e para toda a população, as campanhas nas redes possibilitam mais visibilidade, além de mensagens específicas para diferentes públicos.
“Hoje são milhares de veículos que circulam no mundo todo sob a forma de blogs, portais, sites e outras comunicações digitais com diferentes abordagens de ideias e opiniões. Se por um lado favorece o debate, ao mesmo tempo há uma radicalização de opiniões”, explica Silva. “Isso impede que as pessoas reflitam adequadamente antes de argumentar contra opiniões que não estejam de acordo, gerando uma violência verbal resultado do imediatismo exigido por esses meios”, complementa o jornalista.
A popularização das redes sociais também foi responsável pelo ganho de escala da educação midiática. Na opinião de Beoguci, esse comportamento faz parte de uma tendência que já está presente nos dias atuais e deve se fortalecer. “As pessoas precisam aprender a diferenciar conteúdos, saber distinguir o que é opinião de matéria jornalística e o que é propaganda, ou seja, precisam ser educados para desenvolver a leitura crítica e estar preparados para exercer a liberdade de expressão e cidadania de forma consciente”, destaca o diretor.
“Na sociedade da informação, a educação midiática é o caminho seguro para apoiar o diálogo e a compreensão entre as pessoas. É um pré-requisito decisivo para o acesso igualitário à informação livre, independente e plural. É a educação para os tempos digitais”, resume Blanco.
Reinvenção do Jornalista
O Jornalismo está passando por uma transformação que demanda que os profissionais desempenhem outras atividades que não apenas as clássicas do jornalismo. “A imprensa precisa estar apta a navegar pela diversidade de canais que exigem novas formas de apuração e linguagens e os jornalistas precisam entender a assimetria da informação e conhecer muito bem a relação entre quem escreve a matéria, e quem consome a notícia”, destaca Lima, coordenador dos cursos de Jornalismo no Insper.
“O jornalista é um agente que opera na esfera pública e precisa entender a relação entre quem escreve e consome a notícia. Esse é o maior ponto de atenção para a formação de jornalistas”, conclui Schüler.
Saiba como foi o segundo dia de evento: Redes sociais impactam campanhas políticas do ponto de vista jurídico