Pesquisa realizada pelo Insper em parceria com a Talenses destaca a importância do debate sobre diversidade de gênero no mercado de trabalho
Em apenas 15% das empresas a presidência é ocupada por mulheres e quanto maior o tamanho da companhia, menor é a probabilidade de ter uma mulher no comando. Esses foram alguns dos resultados da segunda edição da Pesquisa Panorama Mulher 2018 realizada pelo Insper em parceria com a Talenses, com empresas localizadas na América do Norte, Brasil e Europa.
Entre as regiões pesquisadas, o Brasil apresentou o melhor resultado para o cargo de presidente, com mulheres em 18% das empresas. Na Europa, 13% das mulheres ocupam o posto e na América do Norte, apenas 10%. Em empresas de administração familiar, as profissionais também possuem maior participação nessas posições, ocupando 28% dos cargos.
“Os dados evidenciam o problema da desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho por conta do gênero. Esse diagnóstico é importante para que possamos avançar no debate e avaliar medidas para mudar esse cenário”, avalia Regina Madalozzo, coordenadora do Mestrado Profissional em Economia do Insper, pesquisadora na área de Economia da Família e Gênero e co-coordenadora do Panorama Mulher 2018.
Apesar da atenção sobre o tema ter aumentado, as mulheres ainda enfrentam muitos obstáculos para crescerem dentro de suas carreiras e chegarem aos cargos de liderança. Entre as empresas participantes da pesquisa, apenas 19% possuem mulheres na vice-presidência. Quando analisadas as posições de diretoria, onde as mulheres representam 25%, a Indústria e as empresas de capital fechado são os setores onde as profissionais têm mais dificuldade em alcançar essas posições. Em empresas com maior número de funcionários, com administração profissional e localizadas na América do Norte, as mulheres têm mais espaço nesses quadros.
A pesquisa trouxe ainda uma novidade ao fazer um recorte por etnia dos resultados, que refletem uma realidade preocupante. Apenas 6% dos cargos de presidência são ocupados por negros e, quando se analisa a fatia de mulheres negras nessa mesma posição, há pouquíssima representatividade. Das 286 empresas que possuem VP, apenas seis são do sexo feminino e negras.
“A pesquisa sugere com clareza uma maior dificuldade para pessoas negras avançarem aos cargos de liderança e essa dificuldade é ainda maior para as mulheres negras do que para os homens negros”, analisa Regina.
Políticas de Diversidade
Apenas 32% das empresas entrevistadas possuem políticas de equidade de gênero e os dados mostram que os resultados dessas ações ainda são sutis, em relação às companhias que não as têm ou ainda não impacta nos cargos mais altos. Para os cargos de presidência, por exemplo, em empresas com políticas de diversidade há 1% a menos de mulheres (17%), contra 18% das companhias sem políticas. Já para os cargos de vice-presidência, diretoria e conselho, os índices são melhores, mas ainda baixos, com mulheres em 22%, 28% e 17% dos cargos, respectivamente.
O papel do líder
Quando o cargo de presidência é ocupado por uma mulher, a presença feminina em cargos de liderança é maior. Com um homem na presidência, 18% dos vice-presidentes e 23% dos diretores são do sexo feminino. Já com uma mulher, os números mudam para 66% e 55%.
“A importância do papel do líder é conduzir as diretrizes em relação a equidade de gênero. O fato de ter mulheres em todas as camadas da liderança faz com que as outras mulheres vejam o ar menos rarefeito para chegar ao topo”, destaca Regina.
Sobre a pesquisa
A segunda edição da pesquisa analisou 920 empresas espalhadas pelo Brasil, América do Norte e Europa, com um maior número de respondentes do que o obtido na primeira edição, realizada em 2017, que analisou dados de 339 empresas. “Com o resultado da pesquisa do ano passado abrimos espaço em novas empresas e vamos reforçando ano a ano a importância dessas respostas para o avanço do debate sobre equidade”, explica Regina.
Regina coordenou o estudo ao lado de Rinaldo Artes, professor associado do Insper pelo Núcleo de Estudos de Gênero, no Centro de Estudos em Negócios do Insper, e em parceria com a Talenses, consultoria de recrutamento e seleção de profissionais de média e alta gerência. A pesquisa é repetida anualmente com o objetivo de documentar a evolução das mulheres no mercado de trabalho.