[{"jcr:title":"Uma trajetória acadêmica voltada aos desafios do Brasil","cq:tags_0":"area-de-conhecimento:políticas-públicas","cq:tags_1":"area-de-conhecimento:economia","cq:tags_2":"centro-de-conhecimento:centro-de-gest-o-e-pol-ticas-p-blicas","cq:tags_3":"catedras:fundacao-lemann"},{"richText":"O professor Rodrigo Soares relata sua atuação na economia aplicada e seu trabalho no fortalecimento da pesquisa no Insper","authorDate":"10/11/2025 18h37","madeBy":"Por","tag":"area-de-conhecimento:economia","title":"Uma trajetória acadêmica voltada aos desafios do Brasil","variant":"imagecolor"},{"jcr:title":"transparente - turquesa - vermelho"},{"themeName":"transparente - turquesa - vermelho"},{"containerType":"containerTwo"},{"jcr:title":"Grid Container Section","layout":"responsiveGrid"},{"text":"Carioca de nascimento, mas mineiro de coração,  [Rodrigo Reis Soares](https://www.insper.edu.br/pt/docentes/rodrigo-r--soares)  construiu uma carreira marcada por consistência acadêmica, autonomia intelectual e dedicação a temas fundamentais para o desenvolvimento do Brasil. Economista de formação, com passagens por instituições como Universidade de Chicago, Universidade de Maryland, PUC-Rio, FGV e Columbia University, ele combina produção acadêmica de impacto internacional com um interesse permanente pelas questões concretas da sociedade brasileira. Desde 2020, integra o corpo docente do Insper, onde é professor titular da Cátedra Fundação Lemann. Entre 2023 e início de 2025, exerceu a vice-presidência acadêmica da instituição, papel em que contribuiu para o fortalecimento da pós-graduação, o incentivo à pesquisa e a integração entre ensino e produção de conhecimento. “O que mais me motivou a aceitar o convite de trabalhar no Insper foi participar da construção de uma instituição de excelência em ensino e pesquisa no Brasil”, diz ele. Com investigações voltadas a temas como mercado de trabalho, saúde pública, desigualdade e violência, Rodrigo Soares alia rigor analítico e compromisso com a formação de uma nova geração de pesquisadores. A seguir, ele compartilha os caminhos que o levaram da infância em Belo Horizonte à docência e à pesquisa em uma das principais instituições de ensino superior do país. As origens e a escolha pela Economia Nasci no Rio de Janeiro, mas me mudei para Belo Horizonte aos sete anos de idade. Por isso, me considero mineiro — quando alguém me pergunta de onde sou, respondo que sou de BH. As duas famílias, tanto a do meu pai quanto a da minha mãe, são originalmente mineiras, apesar de termos vários parentes no Rio. Meu pai trabalhou no Banco do Brasil a vida inteira, tendo feito o concurso ainda muito jovem, nos anos 1950. Minha mãe tem formação em psicologia e pedagogia, trabalhou na Secretaria do Trabalho em Minas e depois teve uma consultoria de impacto socioambiental. Sempre tive muita exposição a discussões políticas e intelectuais em casa, e também contei com a influência de tios que são referências acadêmicas: Eustáquio Reis, figura importante no desenvolvimento do IPEA; Fábio Wanderley Reis e Elisa Reis, referências fortes em ciência política no Brasil. Essa presença acadêmica na família foi muito importante nas minhas decisões sobre carreira. A forma pela qual escolhi Economia pode parecer simples, mas acredito que é eficiente. No segundo grau, eu gostava muito de história e matemática. Tinha interesse por ciências sociais — cheguei a pensar em fazer história ou sociologia —, mas queria algo mais estruturado tecnicamente. A economia apareceu como a combinação ideal. A graduação na UFMG Fiz graduação em Economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre 1989 e 1993 e, olhando para trás, vejo que minha turma era muito especial. Muitos seguiram carreira acadêmica: Eduardo Haddad e Ariaster Chimeli estão na Universidade de São Paulo (USP), Emanuel Ornelas e Luis Araujo na Fundação Getulio Vargas (FGV), Daniel Ferreira na London School of Economics (LSE). Tinha também Cassio Turra, hoje professor de demografia na UFMG, e Rodrigo Godinho, diplomata, entre vários outros. Era um grupo sério, interessado, com discussões constantes sobre economia e política. Foi na UFMG que comecei a me interessar por questões de mercado de trabalho, tema em que atuo até hoje. Escrevi minha monografia, sobre informalidade no mercado de trabalho, com Eduardo Rios-Neto, professor de demografia que depois veio a ser presidente do IBGE. Desde a graduação, queria fazer pós-graduação. Já no segundo ou terceiro ano, tinha certeza de que queria seguir caminho acadêmico. Isso vinha do ambiente familiar, com tios que estudaram no exterior e mostravam que era um caminho possível. Para mim, fazer doutorado era algo natural. O mestrado na PUC-Rio e o foco em mercado de trabalho Fui para a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde estudei entre 1993 e 1997. Na época, os três programas mais fortes na área eram a PUC-Rio, a FGV-Rio e a USP. A PUC vivia um momento de excelência e atraiu os melhores alunos do país. No meu ano, por exemplo, os dez primeiros colocados no exame da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC) foram para lá. Era uma turma muito qualificada. Meu interesse por mercado de trabalho foi decisivo. A PUC-Rio tinha os melhores pesquisadores na área: Gustavo Gonzaga, meu orientador, José Márcio Camargo e Edward Amadeo. O mercado de trabalho, para mim, é central para entender desigualdade, produtividade, e é um reflexo das diferenças educacionais no acesso a oportunidades. Chicago e a economia da saúde Para o doutorado, fui para a Universidade de Chicago, de 1997 a 2002. A escolha teve tudo a ver com minha temática de pesquisa. Chicago tem grande tradição em capital humano, em entender determinantes e investimentos em educação e como isso se reflete no mercado de trabalho. As pessoas normalmente pensam em Chicago e logo vêm à mente Milton Friedman e as questões macroeconômicas de “supply-side economics”. Na verdade, durante esse tempo todo, havia um outro lado de Chicago, o lado mais micro, muito focado em entender determinantes de desigualdade, de persistência de desigualdade, por que famílias com perfis socioeconômicos distintos acabam investindo de forma distinta em seus filhos. Estudei com figuras muito importantes no desenvolvimento dessas linhas de pesquisa: James Heckman, Sherwin Rosen, Kevin Murphy e Gary Becker, que acabou sendo meu orientador. Fiz uma tese em uma área que se tornou importante na minha pesquisa: a interação entre saúde e decisões socioeconômicas de indivíduos e famílias. Como melhorias na saúde afetam decisões relativas à educação, ao número de filhos, e como isso se reflete na produtividade do mercado de trabalho e na produtividade média da economia. Entre os Estados Unidos e o Brasil Meu primeiro emprego na academia foi na Universidade de Maryland, em College Park, nos Estados Unidos, onde fiquei de 2002 a 2005 como professor em tempo integral. Foi um período importante para a carreira, permitindo que me inserisse na comunidade internacional de pesquisadores, desenvolvesse minha agenda de pesquisa em um ambiente bem intenso e com bons recursos. Foi relativamente curto, mas importante para solidificar esse investimento inicial na carreira acadêmica. Depois voltei para o Brasil, para a PUC-Rio, onde fiquei de 2005 a 2013, e em seguida fui para a Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, onde permaneci de 2013 a 2016. Mas logo voltei para os Estados Unidos, dessa vez para a Universidade Columbia, onde fiquei de 2016 a 2020. Foi um período muito bom e produtivo profissionalmente, mas sempre tínhamos em mente, eu e minha esposa, que em algum momento queríamos voltar para o Brasil. De certa forma, preferiríamos envelhecer no Brasil. A chegada ao Insper e o projeto institucional Comecei no Insper em 2020, no meio da pandemia. A proposta incluía assumir a [Cátedra Fundação Lemann](https://www.insper.edu.br/pt/pesquisa/catedras) e boas condições de trabalho. Mas o que mais me motivou foi o projeto institucional: participar da construção de uma instituição de excelência em ensino e pesquisa no Brasil. O Insper tem uma estrutura ágil, orientada a resultados, e avançou muito rapidamente. Quando cheguei, o foco era ampliar a produção de pesquisa de alto nível, atrair talentos e consolidar a pós-graduação stricto sensu. De 2022 a 2023, fui diretor de pesquisa e, de 2023 até o início de 2025, vice-presidente acadêmico. Nesse período, trabalhei para reforçar a articulação entre ensino e pesquisa, criar mecanismos de apoio à carreira docente e ampliar o impacto institucional das atividades acadêmicas. Participei do planejamento estratégico para a expansão da graduação e da integração entre as áreas. Considero o Insper uma das experiências institucionais mais originais do país. Em pouco tempo, conseguiu se posicionar como referência em ensino de qualidade e pesquisa rigorosa. Fazer parte dessa trajetória, ajudando a consolidar sua dimensão acadêmica, é algo que me motiva profundamente. Três áreas de pesquisa e o diálogo com políticas públicas Atualmente no Insper, atuo como professor na pós-graduação, além de lecionar microeconomia na graduação. Já ministrei aulas no [Mestrado Profissional em Políticas Públicas](https://www.insper.edu.br/pt/cursos/pos-graduacao/mestrado/politicas-publicas) (MPP) e, a partir do próximo ano, participarei de um novo curso em parceria com o MIT, por meio do J-PAL, voltado para desenvolvimento econômico. Minhas áreas de ensino são microeconomia, desenvolvimento econômico e mercado de trabalho. Além do ensino, dedico uma parte significativa do meu tempo à pesquisa, que continua sendo uma atividade central na minha atuação. Atualmente, tenho três áreas principais de pesquisa: mercado de trabalho; saúde e demografia econômica; e economia do crime e da violência. Minha produção é aplicada, voltada a problemas concretos do Brasil e em diálogo com a literatura internacional. Mais recentemente, tenho desenvolvido vários projetos de pesquisa relacionados a violência e a ilegalidade na Amazônia, desde extração ilegal de madeira e grilagem de terras até a ocupação do solo e conflitos fundiários. Esses trabalhos têm contribuído para o debate sobre políticas de segurança pública e desenvolvimento sustentável. Projeto pessoal e institucional Meu grande projeto hoje, do ponto de vista profissional, é institucional. A vinda para o Insper faz parte desse projeto de construir uma instituição de ponta no país. Minha ambição é melhorar a qualidade e a inserção da pesquisa em economia sendo feita no Brasil. Isso inclui tanto a pesquisa no Insper quanto em outras instituições. Formamos alunos e pós-docs que vão para universidades no Brasil e no exterior, contribuindo para a geração futura de conhecimento. Particularmente, quero ajudar a tornar o Insper uma instituição de destaque internacional na geração de conhecimento sobre o Brasil. Esse é o grande projeto. Tenho ainda vários projetos de pesquisa em andamento e ambições nesse sentido, mas me sinto recompensado pelo que fiz em termos de pesquisa, pelo reconhecimento e pelo impacto que essa pesquisa tem, seja academicamente, seja em termos de política pública. Olhando para trás, tenho certo orgulho de ter tido uma trajetória independente dentro da academia em economia. Sempre tive minha própria agenda de pesquisa. Em vários momentos da minha carreira, ouvi que tinha que fazer as coisas de determinado jeito, que tinha que seguir a moda acadêmica do momento. Mas quando achava que não era o mais interessante ou relevante para os problemas que queria estudar, não fazia. Me considero razoavelmente bem-sucedido em termos de produção e impacto científico, tendo tido sempre uma visão muito independente e um senso crítico aguçado, sem me submeter a modismos ou supostas autoridades da profissão. Acredito que a combinação de autonomia intelectual, foco em relevância e compromisso com a qualidade é o que deve orientar a formação das novas gerações de economistas. Ver meus alunos e orientandos ocupando espaços na academia e na formulação de políticas públicas é, para mim, um dos maiores retornos dessa jornada."}]