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Filho de um torneiro mecânico e de uma diarista, Rodolfo Avelino nasceu e cresceu na Zona Leste de São Paulo, em um ambiente sem uma referência em educação. Começou sua trajetória profissional como técnico em eletrônica, migrou para a área de tecnologia da informação e, nos anos 2000, encontrou nos movimentos sociais e na educação popular o caminho para a docência. Ao longo dos anos, sua atuação se expandiu para universidades, organizações do terceiro setor e conselhos ligados à governança da internet.

 

Hoje, é professor em tempo integral no Insper, onde leciona disciplinas na área de cibersegurança nos cursos de graduação em Engenharia e Ciência da Computação, assim como em programas de Educação Executiva. Ele coordena um curso de curta duração voltado ao setor público — Governança de Dados Abertos e Cibersegurança no Setor Público — e participa da governança acadêmica da instituição. Também representa a sociedade civil no Comitê Gestor da Internet no Brasil, além de participar de outras entidades e movimentos sociais voltados à cultura digital e direitos civis.

 

A seguir, conheça mais sobre a trajetória do professor Rodolfo Avelino.

 

 

 

Primeiros passos na educação

 

Eu sou da Zona Leste de São Paulo, mais precisamente da Vila Nova York, uma região periférica da cidade. Meu pai, torneiro mecânico, estudou até o quarto ano do ensino fundamental, enquanto minha mãe, diarista, trabalhou como cabelereira, concluiu o supletivo depois de adulta, se formou como técnica em enfermagem e exerceu a profissão até a sua aposentadoria. Sou o segundo de três irmãos. Minha irmã mais velha foi a primeira da família a concluir uma universidade, e eu fui o segundo. Essas conquistas foram importantes marcos para todos nós.

 

Minha formação escolar foi toda em escolas públicas da região, desde o ensino fundamental até o ensino médio, onde me formei no curso técnico de eletrônica. Desde cedo, precisei conciliar trabalho e estudo. A geração de renda era uma necessidade constante, o que dificultou uma dedicação integral aos estudos. Diferente da trajetória de muitos professores, não tive a oportunidade de participar de programas como iniciação científica ou de me dedicar exclusivamente ao mestrado e doutorado com bolsas. Fui, ao mesmo tempo, pesquisador e trabalhador.

 

 

Curiosidade por tecnologia

 

Desde criança, eu era curioso. Vivia desmontando meus brinquedos para entender como funcionavam. Isso me levou naturalmente à eletrônica e, mais tarde, à tecnologia da informação. Em 1995, passei no vestibular da Universidade São Judas para o curso de Engenharia Eletrônica, mas só consegui cursar o primeiro ano por causa do alto custo da mensalidade.

 

Passei alguns anos afastado da universidade, trabalhando como técnico em eletrônica. Em 1999, quando me casei com Kelly, percebi que precisava retomar os estudos para dar melhores condições à minha futura família. Entrei na Fundação Santo André, no curso de Sistemas de Informação, onde me formei em 2003. Foi nesse momento que minha vida começou a mudar de verdade.

 

 

Educação popular e o início da vida docente

 

No começo dos anos 2000, participava de movimentos sociais e fui convidado a dar aulas em espaços comunitários, como o CPA (Centro de Profissionalização de Adolescentes). Foi ali que percebi o poder transformador da educação e encontrei meu caminho na docência.

 

Formamos uma cooperativa com 40 jovens, a Cooper Jovem, voltada a serviços de tecnologia. Esse projeto foi tão relevante que recebeu apoio do BID e da agência Reuters. A experiência me mostrou que eu poderia aliar a tecnologia ao trabalho educacional — e ali nasceu o desejo de seguir carreira acadêmica.

 

 

Carreira profissional e transição para o terceiro setor

 

Segui dando aulas em cursos em ensino médio técnico e no Senai, enquanto exercia outras atividades profissionais. Em 2007, dei um passo atrás para dar um passo à frente: aceitei um estágio em uma empresa de software, mesmo já tendo experiência. Fui crescendo lá e depois fui contratado pela Unimed, onde atuei num cargo de liderança na área de segurança da informação.

 

A Unimed foi um marco financeiro na minha vida. Meus filhos puderam estudar em boas escolas — tenho dois filhos: Pedro Henrique, hoje com 25 anos e que trabalha com desenvolvimento de jogos, e Mariana, de 19, estudante de produção musical. O ritmo na Unimed era muito intenso. Saí da empresa por decisão pessoal e mergulhei no terceiro setor, assumindo a direção do Coletivo Digital, ao mesmo tempo em que trabalhava prestando consultoria.

 

 

O mestrado em Bauru e o caminho para a pesquisa

 

Em 2011, eu dava aulas em uma universidade privada de São Paulo, a Unicid, quando conheci uma pessoa fundamental na minha trajetória: o professor Juarez Xavier, então coordenador do curso de Comunicação e Jornalismo. Ele me convidou para dar uma aula sobre software livre e economia criativa, e criamos uma afinidade imediata — também compartilhávamos o engajamento no movimento negro.

 

Pouco depois, já na Unesp de Bauru, Juarez me ligou e disse que havia ali um programa de mestrado em TV Digital com o meu perfil. Fui conhecer, me encantei, prestei o processo seletivo e fui aprovado. Foi puxado — eu dava aula à noite em São Paulo, pegava ônibus à meia-noite e chegava às cinco da manhã em Bauru —, mas foi nesse período que comecei a ver a pesquisa como um caminho possível e transformador. 

 

 

Chegada ao Insper e consolidação acadêmica

 

Em 2015, enquanto cursava o doutorado em Ciências Humanas e Sociais na Universidade Federal do ABC, vi no LinkedIn uma vaga para professor na área de cibersegurança no Insper. Nunca tinha imaginado lecionar ali, mas me inscrevi. Passei por várias etapas do processo seletivo e, entre mais de 100 candidatos, fui selecionado. Entrei em 2017 para lecionar a disciplina Tecnologias Hackers.

 

Desde 2021, sou professor em regime de dedicação exclusiva no Insper. Dou aulas em cinco disciplinas por ano, entre elas Tecnologias Hackers, Cibersegurança e Computação em Nuvem. Também coordeno o curso de curta duração Governança de Dados Abertos e Cibersegurança no Setor Público. Além disso, desde 2023, represento as áreas de Engenharia e Ciência da Computação no Comitê Acadêmico do Insper, contribuindo com a formulação de políticas acadêmicas e planos de carreira docente.

 

 

Tecnologia e política pública

 

O curso Governança de Dados Abertos e Cibersegurança no Setor Público nasceu em 2023, em parceria com o Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) do Insper. A proposta surgiu para atender uma demanda urgente do setor público: como lidar com a digitalização crescente dos serviços, garantindo ao mesmo tempo segurança da informação e transparência.

 

O curso trabalha três eixos centrais — governança de dados, cibersegurança e transparência institucional — e é voltado principalmente para servidores públicos das esferas municipal, estadual e federal, além de profissionais de tecnologia que atuam junto ao Estado. Já formamos duas turmas, e para este ano preparamos uma nova edição, com mais carga horária e temas atuais como inteligência artificial. É uma das atividades das quais mais me orgulho, pois acredito que políticas públicas embasadas em evidências são fundamentais para uma democracia mais sólida e digitalmente segura.

 

 

Os diferenciais do Insper

 

O Insper mudou bastante desde que entrei — e mudou para melhor. Sempre teve uma proposta pedagógica diferenciada, mas o que mais me impressiona é o suporte dado ao professor. Contamos com a área de Desenvolvimento de Ensino e Aprendizagem, o DEA, que nos ajuda a desenhar novas experiências de ensino. Temos monitores (Ninjas), professores auxiliares e recursos materiais sempre à disposição. Isso nos permite focar naquilo que importa: ensinar bem.

 

Na área de Computação, o Insper é especialmente inovador por unir docentes com ampla bagagem de mercado e outros com sólida formação científica. Esse equilíbrio entre prática e teoria é um diferencial raro. E outro ponto que valorizo muito é o compromisso com a diversidade. O Programa de Bolsas do Insper é referência nacional e garante a presença de alunos com diferentes trajetórias. Isso enriquece o ambiente e fortalece o nosso compromisso com uma educação mais inclusiva e transformadora.

 

 

Outras atividades

 

Fora do Insper, mantenho uma atuação ativa em movimentos sociais e instituições voltadas à cultura digital, direitos civis e governança da internet. Sou membro do Coletivo Digital, uma ONG com mais de duas décadas de atuação, e presidente do Conselho Administrativo da Artigo 19 no Brasil, organização internacional que atua em defesa da liberdade de expressão. Também integro a Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS), que reúne pesquisadores latino-americanos sobre vigilância e plataformas digitais.

 

Em 2023, fui eleito para o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), representando a sociedade civil. O CGI.br é responsável pelas diretrizes da internet no país, incluindo a gestão dos domínios “.br”. Atualmente, coordeno duas frentes no comitê: o Fórum da Internet no Brasil (FIB), um dos maiores eventos de governança digital do mundo, e a Câmara Temática de Tecnologias Emergentes, Soberania e Inovação. Essa atuação me permite articular saberes acadêmicos, sociais e políticos, e contribuir com a formulação de políticas públicas mais justas no campo digital.

 

 

A paixão pela música

 

Minha relação com a música vem da infância, na Zona Leste de São Paulo, onde os finais de semana eram embalados por caixas de som nas calçadas e bailes nos quintais. Comecei a tocar ainda adolescente nas festas de garagem organizadas pelo meu tio. Em 1989, consegui uma bolsa para fazer um curso de DJ, o que me levou a atuar em rádios comunitárias e casas noturnas nos anos 1990.

 

Hoje, continuo tocando em eventos reservados, inclusive na última festa de fim de ano da escola, o Insper Fest, em comemoração aos 25 anos da graduação do Insper. Tenho um estúdio em casa e mais de 2.500 discos de vinil. Tocar é o meu refúgio. Meu repertório tem raízes na black music, funk original, disco music dos anos 1970 e 1980, além de influências fortes da house music. A música é, para mim, uma forma de me reconectar com minhas origens e de me manter em equilíbrio.

 

Projetos para o futuro

 

Nos próximos anos, tenho duas grandes metas: realizar meu pós-doutorado e lançar meu segundo livro autoral. Meu primeiro livro, Colonialismo Digital, nasceu da minha pesquisa de doutorado e analisa como as práticas coloniais se perpetuam no ambiente digital por meio do poder concentrado das big techs. Para o segundo livro, quero aprofundar esse debate, abordando o conceito de “imperialismo digital” e os desafios enfrentados por países periféricos diante dessa nova forma de dominação.

 

Em 2026, farei um período sabático na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, com apoio do Insper. Pretendo usar esse tempo para avançar na escrita do novo livro e desenvolver minha pesquisa de pós-doutorado. Também recebi um convite de uma professora da Virginia Tech, da Universidade da Virgínia, para uma futura colaboração acadêmica, possivelmente em 2027. São esses projetos que tenho em vista para os próximos anos.  

 

 



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